08 janeiro 2014

«conversa 2039» - bagaço amarelo

Uma noite ela disse-me.

- Os homens não sabem estar sozinhos.

Fiquei na mesma posição em que estava, deitado na areia da praia, a olhar na direcção do céu estrelado. A quietude do meu corpo contrastava com a tempestade que nascera dentro de mim, mas mantive-me assim, com a sensação de ser uma caixa com uma bomba relógio no interior. Não lhe perguntei porquê. Mais, nem sequer tentei adivinhar porquê.

- Em que é que estás a pensar? - Perguntou.
- Em nada.
- Quando uma mulher está sozinha, sente-se bem. Quando um homem se encontra na mesma situação, entra facilmente em desespero.

Na verdade eu estava a pensar em como a minha vista conseguia englobar simultaneamente estrelas tão distantes umas das outras.

- Então são as mulheres que não sabem estar sozinhas.
- Achas? - Perguntou.
- Acho.

E ela ficou na mesma posição que eu.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

A tatuagem que vi...


07 janeiro 2014

A FODA COMO ELA É (VIII) - Realidade Porno

«Roteiro» - Susana Duarte

Vou percorrer os caminhos onde alamedas guardam as noites de lã
junto ao bívio onde se decidem caminhos e guardam romãs.
( a fruta vermelha e o céu irreal, onde o óbvio e o aparente se misturam).

Na viela tortuosa onde a linheira se encima à janela das flores
irei saber de todos os mundos guardados nos dédalos das cores
(e de todas as evidências dos meus sonhos que, pensados, se fraccionam).

Na eira, debulha-se o cereal que se multiplica na mesa, no pão e na casa;
lá, habita a ave que voa no arvoredo onde dormem o ovo e a asa
(e as cores das giestas sabem de cor onde os errantes, viajam).

Estranha ladeira que percorre o chão da ave que traz no bico o algodão
com que teço as esperas num envoltório de pano bordado vivente na mão
(e as flores das romãs trazem os becos onde a noite cai e as ruas cantam).

Há um caminho onde trilhas a noite nas tessituras dos olhares pernoitados
e as ramificações dos dias são as noites do sol; onde os caminhos andados
são lábios que se beijam na ponta das estrelas que te habitam. Sabedoras de ti,
aves circulam pelas vias das flores que desabrocham na raíz do peito aqui,
onde trazes pétalas de rosas, pétalas de hibiscos, pétalas de frésias, pétalas ali,
no jardim das encruzilhadas dos jardins subterrâneos onde escondi as asas.

Na neblina, declina-se o verbo do teu ser. Nas asas da noite, o azul em ti.

A cada órbita, o sol és tu. Roteiro das bermas onde posso repousar.



Susana Duarte
poema e foto
Blog Terra de Encanto

Chaleira do macaco contente

Encontrei esta peça na Zara Home.
É uma chaleira em faiança cuja tampa é a cabeça de um macaco e o bico é um tronco de árvore que, na posição em que se encontra, se pode confundir com uma pila.
Adoro comprar para a colecção estes objectos que supostamente não são eróticos.



06 janeiro 2014

«Formalis Visionem Corpus» - Augusto Mandujano


Formalis Visionem Corpus - Augusto Mandujano from Augusto Mandujano on Vimeo.

«conversa 2038» - bagaço amarelo

Ela - Tive, pela primeira vez na minha vida, um sonho húmido. Nem sabia o que isso era...
Eu - A sério?!
Ela - Sim... e foi contigo.
Eu - Comigo?! Espectacular.
Ela - Sim. Eu estava no pátio a ler um livro e tu dentro de casa, de esfregona na mão, a limpar o chão de toda a minha casa.
Eu - Foi esse o sonho?
Ela - Foi.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Adeus (Como se houvesse…)» de Eugénio de Andrade

Como se houvesse uma tempestade

escurecendo os teus cabelos, ou se preferes,

a minha boca nos teus olhos 

carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega 

aos tropeções dentro de ti, eu falei em 

neve, e tu calavas a voz onde contigo

me perdi.

Como se a noite viesse e te levasse, eu 

era só fome o que sentia; digo-te 

adeus, como se não voltasse ao país

onde o teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens, e 

sobre as nuvens mar perfeito, ou se

preferes, a tua boca clara singrando 

largamente no meu peito.

Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Ganhar é relativo

Eu posso ganhar ao perder.



Nada contra loiras, claro.

Capinaremos.com

05 janeiro 2014

«Ginecologista Elogiosa» - sketch do primeiro episódio do programa «Camada de Nervos» (Canal Q)

Armas da ocidental praia lusitana



Acredite Senhor Doutor que cada vez que vejo uma farda ponho-lhe logo um xis na testa. Nem sei se são altos, se são baixos, magros ou gordos, apetecíveis ou repulsivos. Eu bem sei que foram os militares que fizeram o 25 de Abril e nesses dias em que eles encheram as ruas andei de caderninho de mão a coleccionar os seus autógrafos. Mas se calhar tenho um trauma com as fardas enquanto símbolo de autoridade, não acha Senhor Doutor?... 

No caso dele, o que me despertou a atenção foi ter religiosamente o «Inimigo Público» debaixo do braço, todas as sextas-feiras. Um dia, Senhor Doutor, fingi não ter isqueiro e pedi-lhe lume ali no balcão do café. Abriu a pasta atafulhada de livros e de fato de treino, à procura do dito, para acabar por o encontrar no bolsinho pequeno das calças. Conversa puxa conversa, ele gostava de ler Lobo Antunes, Adília Lopes e até Al Berto. E tinha os músculos todos no sítio, sem serem espampanantes. As calças de ganga, Senhor Doutor, são óptimas para mostrar os contornos dos volumes e as formas dos rabos. Confessou que era sargento, sempre muito caladito na messe dos oficiais às segundas feiras, a não ser que o tema fosse gajas. E tinha umas mãos longas e o cabelo curtito e espetado como o pelo macio de um gato eriçado. 

Depois Senhor Doutor, medi-lhe o polegar e deixei que me arrastasse para sua casa para avaliar as munições e as armas da ocidental praia lusitana.

Estou mikado contigo!...


Objetos (espaço dedicado aos nossos amigos diários)