23 julho 2017

«um coala e uma árvore» - bagaço amarelo

Éramos miúdos, umas vezes mais do que outras. Ela tinha uma saia verde que roubara à irmã mais velha e lhe ficava mal, mas que eu gostava. Eu quase que tinha um bigode onde o que tinha realmente eram borbulhas e espinhas. Se as pernas dela pareciam palitos naquela saia tão grande, a minha cara parecia a superfície da lua, de tanta cratera aberta. E foi assim que nos apaixonámos, num Domingo em que chovia a cântaros e por uma vez nos molhámos juntos.
Com excepção das andorinhas, que faziam os ninhos nos beirais dos telhados e por isso estavam protegidas, eu não sabia para onde iam os pássaros quando chovia na Primavera. Perguntei-lhe se sabia e ela olhou para as árvores do parque à procura da resposta. Não vejo nenhum, respondeu. Eu, na verdade, também não via. Depois trovejou e ela agarrou-me o braço com força. Foi a primeira vez que fui cavaleiro andante. E a última também, creio.
Estava à espera que nunca mais parasse de chover nem de trovejar, que nunca mais saíssemos dali, com ela a agarrar-me o braço e eu à procura de pássaros na copa da maior árvore que a minha vista alcançava. Mas saímos. Ela largou-me o braço e correu para debaixo da paragem de autocarro. Eu corri atrás. Foi a primeira vez que tive ciúmes duma paragem de autocarro. E a última também, creio.
Estávamos encharcados. A saia dela pontilhada pela lama e a minha cara por um Amor serôdio. Devia ter aprendido nesse dia que não se corre atrás de uma mulher que nos larga o braço e se afasta sem dizer nada, mas não aprendi. Talvez por ela ter dito que estava frio e se ter tornado a agarrar ao meu corpo, como se fosse um coala numa árvore.
A chuva finalmente parou, não sei bem quanto tempo depois. Talvez duas horas, talvez dois beijos. Sei lá. Às vezes tenho a sensação que ainda lá estamos, ela feita marsupial e eu feito uma árvore erecta na Austrália.
Foi isso que nos sobrou da vida.
Somos adultos, umas vezes menos do que outras. Ela tem uma saia preta que diz que é de Inverno e eu tenho a barba por fazer. Para além disso temos trinta anos desde esse dia e muitas histórias que gostávamos de conseguir contar um ao outro, mas não conseguimos. É incrível como as pessoas crescem e envelhecem, mas não perdem o olhar da juventude. É preto, o olhar dela. Tão preto que me anoitece. É ele que me sorri. Não os lábios.
Rasga o pacote de açúcar vermelho num dos cantos e põe apenas metade num galão fumegante. Parece neve a ser engolida por um vulcão. Tudo o que ela faz provoca alterações no mundo. Ora anoitece, ora neva num vulcão. Dou o primeiro gole na minha cerveja e pergunto-lhe se se lembra da molha que apanhámos no parque. Os lábios também lhe sorriem agora. Que bom.
Se ela tornasse a ser coala, eu tornava a ser árvore.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Calendário da fruta


Mas olha que as farras podem ter muitas vulvas...


“Muita farra, pouca vulva”. Pelo menos foi assim que aprendi.

Patife
@FF_Patife no Twitter

22 julho 2017

O Animador

L'Animateur - The Animator - Der Trickzeichner
de Nick Hilligoss

«lavrarás o peito onde te florescem as mãos» - Susana Duarte

lavrarás o peito onde te florescem as mãos
e se dissecam passados reencontrados.

sob as mãos, lavrarás as novas auroras,
e os dias da carne que se inscreve no outro,
e no outro se adensa, refletindo o brilho toado
das húmidas gotas de orvalho que, antes,
nos caíram do rosto. lavrarás a terra
semeada nos seios de todas as madrugadas,
e os cabelos onde perdes as mãos e nelas
te reencontras.

podias escrever sobre o amor, antes de o reencontrares.

agora, escreves sobre os seios onde aprofundas
o corpo, na procura da eternidade possível
das manhãs.

na noite, procuras o encontro dos lábios.
é na minha boca, que lavras futuros.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Casal malandreco

Cinzeiro em metal com um casal em relevo. No verso do cinzeiro, o homem está a levantar a saia da mulher e a apalpar-lhe o rabo.
A face principal está bastante deteriorada, por muito uso como cinzeiro.
Peça idêntica a outras, da sexão «mecanismos e segredos» da minha colecção.






A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Postalinho das Autárquicas 2017 - 3

"Promessa de candidato!"
Tesourinhos das Autárquicas 2017


21 julho 2017

Nataly Hay e a sua dança do ventre

Postalinho da natureza feminina

"Santuário da árvore..."
Irene N.


#exdoRuim #pontadeumcorno - Ruim

Dias assim, fazem-me lembrar a minha ex. De como o nevoeiro sebastianista encobria os nossos rostos desolados de uma relação condenada. De como o cinzento ar sufocava ainda mais todas as palavras negras de uma paixão em cinzas. E hoje, dia de nevoeiro cerrado, olho para o céu e penso: "espero bem que ponhas duas luzinhas vermelhas na cabeça para os aviões poderem desviar-se!"

Cabra.

Ruim
no facebook

20 julho 2017

Ass Brutalewd - «All Twerk and Obey»

Postalinho do Choupal até à... Peida

"O melhor traseiro que vi hoje no choupal."
Antonino S.



«Les nouvelles récréations & joyeux devis illustrés par Peynet»

Livro de Bonaventure des Périers, com escolha de textos e prefácio de V. J. Sirot, com ilustrações deliciosas de Raymond Peynet.
Edição Au Club Français du Livre, Paris, 1ª edição, 1955.
Mais um livro de contos na minha colecção. Exemplar nº 1120 de uma tiragem de 8000 exemplares.




















A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
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