25 maio 2008

Paleolítica


À excepção da prescrição médica como passe de entrada e as almofadas por todos os cantos, os centros de fisioterapia são muito semelhantes aos ginásios. Um ror de pernas ao léu, de braços descobertos para não impedir os movimentos e muitos trajes reduzidos à vista de quem lá vai gastar o seu tempinho nuns exercícios.

Por mor de umas dores na coluna recebi para lá um salvo conduto e empenhei-me em cumprir o estipulado para rapidamente mandar aquilo às malvas. Quando fazia roldanas reparei que o fulano com um terço do couro cabeludo a descoberto, aquele que passava o tempo num colchão elevado a movimentar as pernas alternadamente como se estivesse a aprender a nadar, me fixava os movimentos elevatórios dos seios. Como se não bastasse, quando fazia bicicleta, infelizmente também colocada no seu campo de visão, ele acompanhava o rodado dos meus glúteos e caso os meus olhos tocassem os dele empunhava um sorriso digno de qualquer anúncio de pasta dentrífica com o queixo afundado na almofada a que estava abraçado.

Como habitualmente, também no meu último dia ele saiu primeiro embora em vez de se despedir alto e bom som para toda a plateia não esquecendo o ali imprescindível chavão das melhoras tenha avançado direito a mim. Entregou-me um cartãozinho e a confissão de ser pastor mais o desejo de apascentar a minha presença nas sessões de terapia do amor aos sábados na sua igreja. Colei nas faces um daqueles sorrisos dos anúncios de detergentes em que as mulheres cheiram deliciadas a roupa lavada e mencionei que ainda não estava na fase neolítica do redil e apreciava muito o meu estado paleolítico de cabra aos pinotes por esses penhascos fora.

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