14 janeiro 2009

A pila do meu pai


Num vi a pila do meu pai. Minto. Quando ele fez um cateterismo fui visitá-lo justamente no momento em que a enfermeira de turno numa necessária verificação de rotina desnudou perante os meus olhos o que nunca os calções de praia me haviam desenhado, aninhado nuns caracóis grisalhos.

E se o corpo do meu pai se me espeta agora no campo visual é porque o dele é como um plágio da Xerox. Minto. O corpo dele é melhor porque adivinha os meus mais ínfimos desejos quando agasalha em concha o meu nas noites frias ou quando por ele avança felinamente em lambidelas ronronantes que após me contornarem os mamilos desembocam no meu centro de gravidade com língua camaleónica por todas as reentrâncias ao som tamborilado dos seus dedos feitos toupeiras a furar nas tocas possíveis. E pela sonoridade da humidade e dos lábios tumefactos percebe o momento de aproar.

E apresenta-me tudo com tal sorriso e ternura erguidos no olhar como a chapa da memória do meu pai a entregar-me o livro ou bolo pedido que eu que até não sou lamechas acredito com cada fibra vibrátil do meu corpo que é aquilo, aquela palavra que me forço a não usar como lugar comum e vulgarmente se designa por tudo quanto é lado como amor.

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