06 junho 2014

A Noite de Eleições é Decadente e Depravada



Dedicado a Hunter S. Thompson, pai do jornalismo gonzo.

Quando, na passada noite de eleições para o parlamento europeu, Paulo Portas se preparava para subir ao palanque, soubemos que uma avalanche de bosta se segurava por um pintelho à escarpada ravina que conduz decência abaixo. Depois, o dilúvio castanho, irrevogável. Tudo nele era um monumento à verdade, e tão verdadeiras, autênticas as suas palavras como o são o branco dos seus dentes, o seu bronzeado e o seu cabelo.

O momento fazia-se atroz, historicamente relevante, mas outro incidente dramático clamava pela minha atenção. Atrás de cada assento na plateia, postara-se um anão trajado de templário, com a missão de urdir os braços e cabeças dos militantes na altura certa do aplauso, ou aceno concordante. Como rebuçadinho, recebiam uma ocasional punheta, ou amasso de clíto, trabalhados por mãozitas marotas braguilhas adentro, ou debaixo de austeras saias. Os notáveis, e alguns jornalistas da TVI, abafavam grunhidos, como leões-marinhos em jejum. Acabava Nuno Melo de bolsar um Black Label, quando decidi fugir daquele festival de sodomia moral colectiva.

Que se passará no Hotel Altis? Que incríveis, luxuriantes e exóticas delícias se esconderão no famoso elevador socialista? Um táxi, dez minutos de xenofobia primária e um ananás depois, chegava a esse digno albergue. Para minha surpresa, não havia ninguém; uma esquálida cabra vadia mastigava a sua solidão num descampado próximo. Indaguei pela trupe socialista junto de uma mercenária do amor, que ali desperdiçava os seus propósitos comerciais. Nada. Fumámos um charro, ouvimos os grilos fazerem cri-cri, olhámos as estrelas no firmamento. Chupou-me o caralho e - efeitos do THC - pensei na bela causa fracturante da cabeça de lista do Bloco de Esquerda, naquela altura, certamente, carpindo mágoas com um vibrador multicultural. Um desperdício, uma pena. Asseava-me com um toalhete, quando passou diante de mim a correr Ana Gomes, ou Marinho Pinto disfarçado de gaja, nunca saberei ao certo...

A sede do Partido Comunista era perto e uma súbita esperança de bifanas com minis arrastou-me até à Soeiro Pereira Gomes; esse edifício de mármores glasnósticos e escadarias lisnávicas. Encontrei pura alegria funcionária entre as hostes proletárias, que saltavam ordeiramente na vertical, de tal sorte que os seus movimentos desenhavam um vector que se lhes houvesse metido no cu; tudo ao som de uma histérica melodia, tocada em flauta de merda. O camarada-mor já havia discursado e os ânimos eram naturalmente pândegos; não obstante, nada de refrescos. Esgueirei-me por uma porta lateral, esperançoso de conseguir um Singapore Sling algures, mas acabei por me achar no meio do Bacanal do Comité Central - sempre com um olho posto na propaganda esta gente... rima e tudo.  Uma Festa do Avante, mas de nudistas hirsutíssimos, com barbas nas mais estranhas partes do corpo. Pela primeira vez, vi uma Cona Guevara, aparição que, estou certo, me acompanhará no que resta da minha miserável existência. O ritual punho erguido promovia o fist-fucking indiscriminado, remetendo instantaneamente o observador à inclinação comunista para permanecer de pé em cerimónias oficiais. Por outro lado, tinham razões para festejar, deixá-los meter malho em foice alheia!

Saí à rua, não sem roubar o Singapore Sling de Odete Santos, à custa de um combate com volumes do Das Kapital e um leve traumatismo craniano. Em poucas palavras, foi assim a noite de eleições: uma intolerável exibição de decadência e depravação no coração democrático da República Portuguesa.