Tinham-se conhecido numa fábrica de Ermesinde, namoravam e vieram ambos trabalhar para Lisboa.
Arranjaram emprego num restaurante da baixa onde apareciam clientes de todo o género.
Ela queixava-se ao namorado que alguns, muito bem postos, fingindo-se delicados e com ar alheado, lhe passavam disfarçadamente as mãos pela alva pele lavada e cheirosa, nem reparando no arrepio que lhe causavam e a que ela se furtava enojada.
Os mais boçais e descuidados eram bruscos e, uma vez por outra, chegavam a derramar sobre ela o vinho que desajeitadamente entornavam. E até restos de comida! Ela bem se esquivava, mas às vezes não conseguia evitar o desaforo e, ainda por cima, tinha de afivelar um sorriso condescendente.
Porque, dizia o patrão, o cliente tem sempre razão.
O seu namorado, ciumento, enraivecia-se em silêncio, desejando que não tivessem que trabalhar no restaurante. Mas era preciso ganhar a vida...
Como ele ansiava pelos dias de folga em que ambos, sossegados, almoçavam em sua casa...
Ele afagava-a com doçura, alisava-lhe a pele com ternura e o arrepio que ela sentia era de prazer, de amor, nada que se comparasse ao nojo que os clientes do restaurante lhe provocavam.
Ele sentia-se confortado pela proximidade da namorada, pelo calor do seu envolvimento.
Ia às nuvens quando ela o puxava para si, o sentava no colo ou passava os lábios suavemente por ele.
Eram felizes, à sua maneira, no aconchego do lar.
A toalha e o guardanapo eram o casal perfeito.
Rui Felício
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