02 junho 2014

«Não chegámos a ir à Islândia!» - bagaço amarelo

Acabei de pegar num livro que li há alguns anos. Já não me lembro de nada do que está escrito nas suas páginas. Nem da história, nem sequer do estilo. Lembro-me apenas que gostei muito de o ler. Na verdade, é exactamente essa a memória que tenho de nós os dois. Já não faço a mínima ideia de como foram os nossos dias juntos. Sei apenas que gostei deles.
O livro chama-se Gente Independente e é de um escritor islandês. Sei isso porque uma das poucas coisas de que me lembro é que tu o conhecias. Eu não, apesar de ser eu quem o andava a ler.

- Estás a gostar? - perguntaste.
- Sim.
- Porque é que andas a ler um autor islandês?
- Porque me ofereceram este livro. Só isso.

Deste-me um abraço e afogaste a tua vontade de rir no meu peito, como se te quisesses aninhar na minha camisola de lã grossa. Achavas que era estúpido andar a ler um livro sem me informar sobre o autor. Depois respiraste fundo.

- Um dia vamos os dois à Islândia! - decidiste.
- Está bem.

Encontrei-te muitos anos depois, numa altura em que já não te aninhavas em mim. Demos dois beijos na face e perguntámos um ao outro como estávamos. Bem, respondemos abanando os ombros. De um Amor de Verão pode não sobrar quase nada, a não ser a memória de que foi bom.

- Quando duas pessoas marcam uma viagem para data incerta, para um futuro qualquer, é uma forma de prometerem que querem ficar juntas até lá...
- Não chegámos a ir à Islândia! - respondi.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»