Peço-lhe que mude a música que escolheu no Spotify e ela não entende porquê.
- Não gostas? - pergunta.
- Adoro! Mas tira, por favor.
- Queres ouvir alguma coisa especial?
- Não.
Estou com uma chávena de chá a fumegar nas mãos. Ela viu-me da janela do seu quarto andar a estacionar o carro e ferveu água enquanto eu subia no velho elevador. Assim que entrei, mandou-me sentar e passou-ma para as mãos.
- Bebe.
Sei que lhe agradeci o gesto, mas acho que o fiz tão baixinho que tenho dúvidas que ela tenha ouvido o meu "obrigado". Para não correr o risco de o dizer duas vezes, elogio-a.
- Nunca bebi um chá tão bom como este.
- Podes estar calado. A sério...
A Eva tem um olhar e uma face indecifráveis. Neles, parece que todo o mundo se perdeu. Quando está triste é igual a quando está feliz, quando está calma é igual a quando está ansiosa. Sem palavras entre nós, somos apenas dois planetas distantes. Uma vez disse-lhe isso e ela não mudou de expressão. Ainda assim abraçou-me.
- Quando quiseres estar calado perto de mim, telefona-me cinco minutos antes só para saberes se eu estou em casa.
É isso que eu estou aqui a fazer. Nada. E de repente percebo que era o que eu estava precisar...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»