29 agosto 2018

Filhos de branco 2 - «Em tempo de guerra, não se limpam armas» - Mário Lima

As lavadeiras que se relacionavam com tropas, embora não fossem colocadas à margem dentro da comunidade, não tinham outro parceiro senão o tropa com quem, além de lhes lavar a roupa, davam favores sexuais.

Elas não se importavam, pois sempre era melhor assim. Não tinham que ir buscar lenha e tratar da horta caseira, para o seu homem que, por sua vez, tinha mais que uma mulher para garantir que em casa nada lhe faltasse, pois exceto um caso ou outro, viviam à sombra da palmeira de onde o maruvo era extraído.

Quase todos os tropas tinham na sua lavadeira a sua companheira de esteira. Era melhor do que ir à grande cidade e terem relações com as prostitutas que lá haviam, pois eram um ninho de doença, devido à falta de higiene tanto deles como delas. E depois eram as doenças venéreas que iam à custa de penicilina de um milhão de unidades, e quando a doença se propagava, eram obrigados ao "descasque da banana" ou ficavam com sífilis. Em tempo de guerra não havia muitas vezes tempo de se limpar a "arma" e dava nisso.

Quando as cabindesas tinham filhos e devido a ter que o levar às costas seguro naquele pano típico, com um pau, iam elas aos poucos forçando a mama (quase sempre a da direita) para que atingisse o comprimento suficiente para quando o rebento tivesse fome, pudesse, nas suas costas, pegar na mama da mãe e sorver o leite da vida, enquanto elas amanhavam a terra ou apanhavam lenha. Estranhei e muito esse facto. A mama esquerda sem grande alteração, para que o filho mamasse quando estivesse ao colo, e a outra comprida para quando ele estivesse nas costas.

E era vê-las estrada fora, com grande quantidade de lenha dentro da cesta, segura pela cabeça.

Mário Lima
Blog «A tua vontade é a tua vitória»

P.S. - Na família cabinda, a principal figura é a mãe, pois é ela que trabalha a terra - fonte básica de sustento da família, e gera os filhos que aumentam o poder do clã. As filhas são a base da continuidade e propagação do grupo e base da sustentação deste pelo amanho da terra. O homem dedica-se à caça, ao derrube de árvores de maior porte e à guerra. O Cabinda considera a actividade agrícola aberrante da sua dignidade.




2 comentários:

  1. Obrigado à São Rosas por mais uma partilha de um tema meu.

    Grande Abraço

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    1. É um luxo, ter amigos com estas experiências de vida e deixarem-no-las partilhar!

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