Não é que Alcibíades seja um indivíduo feio ou desagradável à primeira vista, mas os membros desproporcionalmente curtos (nem todos, como gosta de sublinhar com um trejeito maroto), a roupa berrante e o nome de general ateniense não ajudam a dissipar a sensação que espalha quando abre a boca. São justamente os temas que não hesita em importar para qualquer conversa que despertam nos outros uma estranheza difícil de superar.
O seu interesse voraz por antigas civilizações, lugares misteriosos, fenómenos inexplicáveis, percepção extra-sensorial, poltergeister, espiritismo e demais paranormalidades começou quando, aos treze anos, desatou a ler compulsivamente Charroux, Berlitz, von Däniken, Kardec, Rampa e uma miríade de peritos em todo o tipo de assuntos ocultos. Qualquer palavra ou expressão que ouça lhe serve para mencionar sumérios, annunaki, gigantes extra-terrestres, atlantes e um sem-número de seres e lugares que o fascinam, totalmente desfasados da realidade dos seus interlocutores.
Nem sequer as mulheres que lhe fazem saltarilhar as hormonas escapam à enigmática verborreia. Contam-se às dezenas as que já o interromperam ao jantar para ir retocar a maquilhagem e não mais foram vistas. Nem por ele, nem pelo pessoal dos restaurantes. Foi precisamente este fenómeno que o levou a escrever a sua primeira obra, fruto de uma persistente investigação de sete anos, cujo lançamento decorreu há dias no sintrense Palácio de Valenças: Restaurantes Portugueses com Instalações Sanitárias Dominadas pela Energia do Triângulo das Bermudas.
Fernando Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário
Uma por dia tira a azia