Amei-te como quem trinca
Um pomo rubro e reluzente de vontade
Sentindo sempre o saciado insaciado.
Amei-te como quem tacteia
O crescente crepitar dos poros claros
A incendiar o macio da pele nua
Em cada gesto de dedos estelares.
Amei-te como quem ouve
O eco do grito linear desse desejo
O som efervescente de um beijo
E o som do brilho vertical do teu olhar
A deslizar
Pelas paredes desmaiadas do meu rosto.
Amei-te como se fosse
Um pavio esbraseado e solto
Na morfologia complacente do teu corpo
Entre cortinas de crepúsculo e luar.
Só não sei
De onde vieram todas as asas livres
Que nos fizeram emergir e planar.
«O silêncio e o gume da palavra», 2022
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