"Ivone debruçada à janela
Mais frio que a noite sentia o coração.
Devagar passava a madrugada
Chegava a manhã
O seu Zé é que não.
Fechou a janela com a fúria
Com que marcaria a face do canalha.
E com a morte na alma
Jurava vingança
Chorava a traição
Agitando a navalha:
- C'um raio te parta maldito
Que o chão se abra e te coma
Que te passe por cima um camião.
Eu esperando-te aqui gelada
E tu o cu regalado
Dormindo aconchegado
Num outro colchão.
Vou descobrir a desgraçada
A vaca, a galdéria
Que de mim te levou.
Que à Ivone das Fontainhas
Nenhuma mulher
O homem roubou.
De manhã quando saía desembestada
Disse à vizinha da escada:
-Mais uma noite sozinha!
Mas eu mato o desgraçado
Ou não seja o meu nome
Ivone das Fontainhas.
Parece que é sina, que é fado
Ficar sem os homens do meu coração.
Morreu-me o Zeca asfixiado
O Chico afogado
E debaixo dum comboio
Trucidado o João.
A vizinha arrepiada disse:
- Mulher nem me lembres isso
Cada vez que olho a linha
Onde morreu o João.
Ainda vejo, sem o ter visto
Os bocadinhos do teu homem
Espalhados pelo chão.
- É destino meu, oh vizinha
Perco-os a todos de repente
Como perdi o João.
Mas nenhum foi um canalha
Por isso ando com a navalha
Ao Zé, tiro-lhe o coração.
- Mulher, tu não te desgraces!
Mulher, tu deixa lá isso
Que homens há mais que muitos.
Mas se te morre mais este
Ainda ganhas a alcunha
De Ivone das Fontainhas
A campeã dos defuntos.
Mas Ivone não descansou
Enquanto não descobriu
O seu Zé e a desgraçada.
E um dia que chega mais cedo
Vê o seu homem aos beijos
Com a vizinha da escada.
Puxou da navalha e aos gritos:
- Enganaste-me malvada!
Traíste-me bandido!
Atirou-se ao Zé e à vizinha
E a ele com dois golpes despachou
À outra o pescoço cortou
Como se faz às galinhas.
Com o reboliço que se armou
Com a gente que chegou
Ficou tudo explicado.
Quer a morte dos defuntos
Que já eram mais que muitos
Quer o sumiço das vizinhas.
- Matei todos, sim senhores
Matei galdérias e traidores
Confessou a Ivone na esquadra.
O Zeca, o Chico e o João
Como o Zé me partiram o coração
Com as vizinhas de escada.
E ainda hoje se conta a história
Que não se apaga da memória
Que ninguém esquecerá jamais.
A da mulher que matou homens
Mais que muitos
E deu sumiço a quatro vizinhas.
A de Ivone dos defuntos
Serial killer das Fontainhas."
Encandescente
Blog Erotismo na Cidade
Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
O primeiro «fado corrido e falado» foi «a morte de João do Viso», que tive o prazer de ler para a maltinha no Sãorau do 6º Encontra-a-Funda.
AHHHHH!
ResponderEliminarO Zé anda a "fazer" a Ivone...
HMMMM
Ò Zé, mete-te a fancarelos man, olha ca gaja se puder, faz-te a folha, aquilo é menina com muito andamento.
AHHHHH!
ResponderEliminarO Zé anda a "fazer" a Ivone...
HMMMM
Ò Zé, mete-te a fancarelos man, olha ca gaja se puder, faz-te a folha, aquilo é menina com muito andamento.
Olá Encandescente...
ResponderEliminarAo ler agora este teu excelente poema, vi-me de repente retratada.
Algo que vivi há algum tempo, e só me apeteceu na altura fazer o mesmo...
Uma boa semana.
Margarida.
Ena, Margarida. Ainda bem que só ficaste pelo apetecer...
ResponderEliminarEu bem digo que aqui há gente para tudo...
ResponderEliminarOh São, com todo o respeito pelo poder instituído, mas tens de ser mais selectiva com estas coisas...Hoje, um gajo da Judit que também visita o blog apareceu-me aqui a perguntar se eu conhecia o picapau, que estava ali uma serial killer em potência, que a outra aviou quatro (e um deles era Zé...lagarto,lagarto,lagarto...) e se o patrão do blog (ele desconhece que é patroa) sabe de alguma coisa, pois gaja que se confessa em público, com vontade de imitar outra, são pelo menos mais quatro homicidios...Foda-se, queres tingir os guardanapos de sangue ? Põe-te a pau...a justiça espreita...tarda mas não falha...e patati patata...eu se calhar ainda vou abreviar a minha partida para o Turquemenistão...a cause des mouches...pois claro...isto aquihá gente pra tudo...
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