Mostrar mensagens com a etiqueta Joana Well. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Joana Well. Mostrar todas as mensagens

30 janeiro 2013

Placebo de Paixão


E eis que vejo
que a lado nenhum pertenço,
sem nada meu, apenas este desejo
sempre demasiado intenso,
esta fome de saudade murcha.
Saudade de quê? Saudade de quem?
Não tem alguém, não perde ninguém,
não pinta, só mancha.
E eis que vejo e prevejo
o vazio imenso em mim a crescer,
pois que tanto me despejo
que nada me pode encher,
esta febre de vontade queima.
Vontade de quê? Vontade de quem?
Não aquece ninguém? Não aquece alguém,
não arde, só chama.
E eis que me vejo
lasciva, um corpo de mão em mão.
Amantes? Um cortejo,
são placebo da tua paixão.

27 janeiro 2013

Retalhos

Bebe-me
que eu sirvo-te estremeções
que eu sirvo-te a dor
que eu sirvo-te rasgões
por uma gota de amor

23 janeiro 2013

Rabiscos

Caso venhas, não me digas,
Perguntarei ao tempo que nada me dirá.
O tempo sabe que prefiro não esperar.

Caso chegues, não me digas...
Em todas as vezes, prefiro sentir-te chegar.
Porque assim saberei se ainda és tu quando chegas.

Caso não venhas nunca mais, não me digas...
Perguntarei à saudade que nada me dirá.
A saudade entende que prefiro não saber.
Porque assim descobrirei: já não sou eu nunca mais
no dia em que não existir saudade a quem perguntar por ti.

Agora que já te disse, já sabes.
Agora que já sabes, já podes tudo o que não digas.
Eu já posso escutar os mudos traços que não digas
às gavetas do meu corpo emprestados.
Gavetas destas nunca estão cheias, estão abertas e antes
espalham-se pelas casas intermináveis, de cheiros intermináveis.

Caso me toques, não me digas.
Perguntarei ao peito que nada me dirá
que o peito sabe que prefiro sentir-te tocar
cara a cara, olharei o meu corpo
se estiver nu, eu despi.

Caso me olhes, não me digas.
Olhar-te-ei sem nada perguntar.

20 janeiro 2013

Vem, meu Amor...


Vem, meu amor, 
e descalça-te 
à entrada da porta, toda esta noite, 
assim, imensa, vermelha, gigante 
já não nos surpreende a saudade. 
Vem, meu amor, 
e despe-te 
contra mim, toda esta noite, 
assim, a solidão chega rente 
à cama e não se estende: é cobarde, 
nesta terra de pele onde me arde 
a tua imagem, não se entranha, bate 
mas volta para trás. Vem, meu amor, 
e esconde-te 
entre mim e o meu corpo, toda esta noite, 
assim, é apenas um inimigo muito forte 
mas só cai dos céus porque se rende 
mas só vem à terra porque se rende. 
Vem, meu amor, 
e deixa-te 
cair, assim, que o meu corpo já pende 
sobre o teu e o escuro sobre a noite. 
Vem, meu amor...

16 janeiro 2013

O Jogo da Cabra Cega


Chega.
É para isso que a noite nos oferece
o manto negro, para nos vestir de sonhos
quando despimos os pesadelos, estranhos
sapatos que calçamos horas a fio, tece
estrelas em redor dos nossos pés. Esse
teu vazio, eu também o chorei, e venho
aqui dizer-te isso mesmo, não contenho
mais todas estas palavras, mais não, se
tu choras, eu choro. Chega. Esconde-se
de nós o deserto, não vês? Eu apanho
do ar a tua solidão e rasgo-a, suponho
que lhe possa dar nós e mais nós, trouxe
comigo as minhas mãos, sim, enrola-se
e nunca mais se há-de desenrolar. Chega!
Vendei-me de ti para o jogo da cabra cega,
nunca, nunca mais vejo mais nada, Chega
!

13 janeiro 2013

Dos regressos


Se eu não fugir
de tudo o que sentir
Se eu não negar
tudo em que me possa transformar
Voltarei a mim sempre escondida
para não ser reconhecida?
Mas, não, não sou mentira, nem traição,
eu sou a mais pura confusão:
há um lado de mim que tanto ama
mas o outro nem arde, só chama,
há um lado de mim que tanto quer
mas o outro?
O outro
nem quer viver.



09 janeiro 2013

In_Consequência


Nada me ofereceu a benção de me blindar dos erros que não me blindasse também da vida. 
E eu prefiro viver. 
Se alguém conhecer essa mágica e inconsequente benção que nunca encontrei, não ma explique, 
é que foi dos erros que me nasci eu.


08 janeiro 2013

O Castelo de Lux

Boaaaaaaaaaaaaaaas tardes!

Nasceu da barriga de um projecto "amigo" aqui da vossa amiga, este novo site que vos convido a visitar! 

É um site de anúncios de Acompanhantes que em breve deverá estar no Top da especialidade.
Tem também um blog associado em ocastelodelux.blogspot.com.

Para as meninas Acompanhantes, o site está a fazer uma promoção. :)))

Contactem pelos endereços abaixo:
924336956


Beijinhos :)

Miss Joana Well



06 janeiro 2013

Preços

Desafiar a solidão pelo amor, liberta a força das tempestades no peito, liberta a violência de todas as catástrofes naturais nos alicerces dos dias. 




A verdade, meu amor, a verdade é que eu sabia, sempre soube das consequências, a vida tem uma forma qualquer de me segredar ao ouvido quando encontro o silêncio para lhe dar em troca. A vida só nos diz coisas quando lhe damos ouro. Mas, chega este lençol de vendaval morno em que se transforma a minha pele sempre que a tua voz se transforma na voz do meu silêncio, no som de todos os meus sons, e o meu corpo encontra o teu, e, sei, que desabem os dias, eu não desabei! 

01 janeiro 2013

A Prostituta Azul XIX - Lei das compensações

Não me lembro de alguma vez ter sido criança: o meu colo cresceu, o meu peito cresceu, os meus pensamentos sempre tiveram o mesmo tom de voz quase maldito, quase ininterrupto, quase respiração. E agora, que descubro isto, que me descubro isto, sei, já sei: eu sou Mãe de tantos homens porque sou Filha de nenhum pai.

13 dezembro 2012

publicidade...

É sabido que os publicitários são uns exagerados. Mas quando deles se evola o pendor poético.... que dizer? Ora, pois, que amem e façam o que quiserem! 



10 julho 2012

Postalinho do Luís Gaspar (Estúdio Raposa) e a minha colecção

"Achei que os textos do Jorge Castro não podiam ficar-se pelos belos vídeos da São Rosas.
Vai daí, com a maior lata deste mundo, coloquei-os no Estúdio Raposa sem dar cavaco a ninguém.
O Jorge e a São, se me quiserem fritar vivo, façam o favor.
Entretanto a prova do crime pode ser ouvida aqui.
Beijos e abraços."
Luís Gaspar
Estúdio Raposa

Entretanto, o Estúdio Raposa passou a ter um link para donativos: "As contribuições são à vontade do freguês e os beijos e abraços de agradecimento são em função da verba oferecida. Beijos a 10 cêntimos e abraços a 1 euro. Mais apertados, os abraços são dados por orçamento".

Os quatro vídeos de divulgação da colecção de arte erótica «a funda São», com poemas de Jorge Castro e de Miss Joana Well, podem ser apreciados aqui, numa página que está em preparação com o cadastro da minha colecção (já com todos os 1.703 livros e todas as 92 pinturas originais a óleo e a acrílico).


«Caminhantes no vale da sedução» - a funda São from São Rosas on Vimeo.

21 fevereiro 2012

De fita métrica na mão

- Olha, só sobram dez centímetros!

Mal pude acreditar. Uma ponta da fita métrica no meu lábio superior e os tais dez centímetros era o que ia daí até à base do Ambrósio.

Não se fala com a boca cheia, porque é feio, senão tinha-o mandado a outro sítio. Mas só me apeteceu nessa altura fechar a boca com força e dar-lhe uma grande dentada.

Estou a falar a sério. Mesmo!

14 fevereiro 2012

Dr. Ambrósio

1) O meu namorado tem um Ambrosinho. Mesmo, Ambrosinhinho. Mas diz-me que, ah e tal, leu em livros que o tamanho não importa. Andou a ver estatísticas. A fazer contas de fita métrica na mão. Eu acho que são tudo tretas. Sinto-me Vazia e gostava de experimentar um Ambrósio a sério. Acham que sentirei a diferença?
Vazia na Caparica


Cara Vazia na Caparica.

O Ambrósio é um belo mordomo. Alto, espadaúdo, musculado. Bem apessoado! E sempre pronto para todo o serviço. Ele trabalha na sala, na cozinha, no quarto, na varanda, na arrecadação... Faz trinta por uma linha. Aqui em casa, não trocávamos este mordomo por outro. Quem encontra um Ambrósio a sério, não quer outra coisa.
Mas se o Ambrosinhinho não tem tamanho, ao menos pode dar despacho. Diga ao seu namorado que se ele perdesse menos tempo a ler tretas e mais a dar uso ao que tem, não se sentia Vazia na Caparica. E é melhor dar corda aos sapatos. Que é como quem diz, dar corda ao Ambrosinhinho. Quem avisa...

Obrigado por perguntar. Mande sempre.

2) Li a pergunta da Vazia na Caparica e queria fazer-lhe uma oferta. Sou um rapaz generoso, amigo do seu amigo, sempre disposto a ajudar quem precisa. Tenho um Ambrosiosão, às suas ordens, e não me importo de lho emprestar, por umas horas, ou mesmo uns dias. O que for preciso, para resolver o problema da rapariga. O que é que vocês, que parecem tão sábios, acham?
Avantajado em Viana

Caro Avantajado em Viana.

Bom para si. E provavelmente para mais alguém. Nós achamos que se deve incentivar a economia de troca. Se tem um bem de que outro consumidor necessita, é de bom tom e sinal de bom coração oferecer. O bom coração neste caso é fundamental, porque este orgão é que bombeia o sangue que faz a coisa funcionar. Bom, foquemo-nos.
Se a distância não for obstáculo, faça-lhe uma oferta que ela não possa recusar. A Caparica também é um belo sítio para se visitar. Pode ser que uma caldeirada no Barbas, ali bem juntinho à praia, possa servir de inspiração para outras caldeiradas. E convide o namorado dela também. Como todo a gente sabe, quanto mais peixes tiver a caldeirada, mais saborosa fica.

Obrigado por perguntar. Mande sempre.

[Momentos Sublimes - As aventuras picantes de um casal bem humorado]

07 fevereiro 2012

O treino no jardim

Os médicos não dizem que temos que andar?
Pois hoje fomos fazer isso mesmo. Fatinho de treino à maneira. Acreditam que ela tem um fato de treino côr de rosa? Como é que é possível? Bom, foquemo-nos.
Pois fartámo-nos de andar. Devíamos estar a andar há uma hora quando ela me disse:
- Tenho mesmo que me sentar. Já não posso com uma gata pelo rabo.
O jardim é grande e ao domingo de manhã costuma ter algumas pessoas. Ela foi sentar-se ao pé de uma árvore. Pensei, o fato côr de rosa vai ficar com o traseiro cheio de terra. Mas ela pareceu não estar muito preocupada com isso.
Sentei-me ao lado dela. Eu estava a armar em forte, mas a verdade é que já estava cansado. A barriguinha da prosperidade já faz das suas.
De repente sinto algo nas calças. Olhei para baixo e, de facto, lá estava a mãozinha. Depois olhei para a cara dela e continuava a olhar em frente, como se nada fosse.
O Ambrósio deu sinal de si. Eu ia olhando para a movimentação. Até que o Ambrósio começou a dar indicações claras de que algo estava para acontecer.
Indicações muito claras.
Indicações muitíssimo claras.
Eu disse-lhe apenas:
- Olha que...
E ela fez-se desentendida. Como se nada fosse com ela.
Pronto. O Ambrósio não é de ferro, certo?
Quando acabou e voltei a perceber em que sítio é que isto estava a acontecer olhei para ela. Tinha tirado a mão e passado disfarçadamente pela erva.
Depois levantou-se e disse-me:
- Olha, que bom. Já estou menos cansada.Vamos continuar o treino?
E eu lá fui. Ainda bem que ninguém me viu naquele momento. Acho que não saberia explicar muito bem porque é que estava a andar como se fosse um dos patos do jardim.

[Momentos Sublimes - As aventuras picantes de um casal bem humorado]

19 janeiro 2012

O Estúdio Raposa continua em erupção... também em prosa

O nosso amigo Luís Gaspar continua a publicar, a um ritmo "arreda que vai doido", leituras suas de textos (na grande maioria poemas) de vários autores, na página Poetas do Estúdio Raposa.
Recomendo que vão lá. Hoje deixo-vos aqui alguns textos em prosa, lidos pela «voz de ouro» do Luis Gaspar:


Paulo Afonso – “Carta de amor”
Joana Well – “Corpo”
Joana Well – “Armadilha”
Novas Cartas Portuguesas – “A Paz”(do livro “Novas Cartas Portuguesas” de autoria de Maria Isabel Barrento, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa)
José Saramago – “Maria Magdala” (do livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”)
O “Capuchinho Vermelho” de Charles Perrault
Paulo Afonso – “Quero-te”

18 janeiro 2012

Carreira Paralela

Começo outra vez a pensar seriamente na possibilidade de me prostituir. É sempre a mesma história, quando fico mais de um mês sem sexo! Não é que eu tenha dificuldade em arranjar alguém…o problema é que ao chegarmos a uma certa idade e quando temos uma certa experiência, já não nos satisfazemos com qualquer coisa e se é para ter qualquer coisa, mais vale ir para casa sozinha – pelo menos a sós, sei com que qualidade posso contar e, felizmente, o sexo comigo própria é sempre fantástico! Quando passo mais de um mês a fazer amor sozinha, começo a ficar com cãibras nas mãos só de pensar que vou ter de me masturbar…outra vez! E o fantasma da tendinite começa a vir à superfície. Sim, sim, tenho uma bela colecção de apetrechos que fazem tudo e mais alguma coisa mas nenhum imita a sensação suave dos meus dedos húmidos com a minha saliva e, para me provar (coisa que adoro fazer!), não há nada como provar-me dos meus próprios dedos; era só o que me faltava, andar agora a lamber vibradores!
Estou assim neste estado agora e por isso é que nem tenho escrito. Em tempos de seca, falta-me a inspiração. Estou a precisar de umas belas trancadas para ficar outra vez com gosto e inspiração para a vida!
Sei que se me prostituísse, o sexo não seria garantidamente bom… mas pelo menos seria uma oportunidade de libertar esta energia e, no mínimo, abusar um bocadinho de alguém, ser bruta, dar uns tabefes, espremer uns mamilos ou uns testículos até que gemam de dor; talvez algemar um tipo a uma cadeira e chicoteá-lo, masturbar-me com o meu sexo quase encostado ao nariz dele sem deixar que ele me prove e finalmente montá-lo, virada de costas para ele, sem deixar que ele me toque com as suas mãos. É o que me apetece fazer em tempos de seca; abusar de alguma pobre vítima, arrancar-lhe o meu prazer. Será que voa, se eu puser um anunciozito num jornal a dizer algo como “acompanhante de luxo… para quando lhe apetecer que doa para além da carteira”?

31 outubro 2011

"Well, this is Joana - Joana Well" - entrevista na Webzine Muro #8

Já bastava a nossa companheira de sempre, Buguita (lady.Bug) estar envolvida no projecto da Webzine Muro para ser garantia de qualidade. Mas os conteúdos falam por si... e estes já vão no número 8.
No número 4 - lembram-se? - publicaram uma entrevista comigo.
Nesta Webzine Muro #8 publicam 4 páginas com uma entrevista à nossa Miss Joana Well:




A Missita (Joana Well) tem andado arredia da escrita... e por muitos bons motivos, sei-o eu. Aliás, entendemos isso quando lemos este pedacinho do início da entrevista:

19 outubro 2011

Mulierem Sapiens


É frequente eu ser acusada de pensar como um homem. “Não sei como é que consegues separar as coisas”, dizem-me as minhas amigas falando de sexo e emoção, ou sexo e envolvência ou sexo e… amor? O que é certo é que é verdade e por isso me sinto tão competente neste papel que escolhi para mim própria de ser, quase permanentemente “a Outra”. Considero-me uma alma caridosa, uma voluntária que ajuda as relações dos outros a serem mais suportáveis sem os custos insuportáveis da terapia ou prostitutas. Apesar de tentar evitar assuntos muito pessoais, converso o suficiente acerca deles para ter uma noção de como é a vida conjugal destes homens. Na maioria das vezes é-me relatada uma situação quase insuportável de uma esposa que não gosta de sexo ou que desde que se casou que se esqueceu que é mulher ou de mulheres que se dedicam tão exclusivamente aos filhos que se esquecem que têm um marido lá em casa. Deixar o Zezinho na casa dos avós para poderem ir jantar os dois juntos está simplesmente fora de questão, apesar de o Zezinho já saber ler e escrever… O que é certo é que maioria dos homens com quem eu estou, passam tempo comigo porque têm algum grau de infelicidade marital e estão a preparar-se (nem que apenas na sua imaginação!) para eventualmente abandonarem a situação em que se encontram.
No entanto, uma vez andei metida com um tipo que me dizia que gostava muito da mulher e que o sexo com ela era fantástico e despedia-se de mim com “desculpa, mas tenho de ir ter com a menina que amo”. Isto incomodava-me um bocado porque com essas palavras eu já não era a alma caridosa, nem estava a ajudar ninguém. Divertíamo-nos na companhia um do outro, sem dúvida mas eu, que supostamente penso como um homem, questionava-me - mas por que raio andamos então aqui às escondidas? Não seria muito mais fácil ele ter uma conversa franca com a sua querida e dizer-lhe “Amorzinho, gosto muito de ti e quero passar o resto da minha vida contigo. Mas sou incapaz de ser fiel – não tem absolutamente nada a ver com o que sinto por ti nem com a qualidade ou quantidade do sexo entre nós. Não és tu, sou eu. Simplesmente o meu prazo de fidelidade expirou”.
Ela se calhar até lhe agradecia e diria algo como “Meu amor, ainda bem que me dizes isso! Eu sinto o mesmo, o que achas de abrirmos a nossa relação para podermos estar com quem nos apetece sem culpas?” – e viveriam felizes para sempre!

18 outubro 2011

«Proibições que são hinos à vida» - quarto video de divulgação da colecção de arte erótica

Neste quarto e último video desta série, toda ela produzida e realizada pela Joana Moura, a voz de ouro de Luís Gaspar revela-nos desta vez um texto de Jorge Castro (OrCa) inspirado na minha colecção.



Para memória futura e como tributo à malta que me ajudou a fazer esta «colecção sobre a colecção», deixo aqui os textos que o Luís Gaspar leu em cada video e os respectivos links:

«Proibições que são hinos à vida»

"A COLECÇÃO DE OBJECTOS ERÓTICOS DA SÃO ROSAS

Aqui um livro que não me deixavam ler; além um baralho de cartas que o pai guardava numa gaveta fechada a sete chaves; no armário da sala, por trás de copos, medalhas, e tralhas diversas, um cinzeiro metálico com uns relevos esquisitos; na arrecadação, numa velha caixa de cartão, um avental que só era usado em festas de amigos mais chegados e onde todos queriam meter a mão num bolso central que revelava uma conspícua protuberância…
O prazer estimulante de um sorriso brejeiro, a curiosidade avassaladora a que a vida vai dando mais perguntas e respostas, e tudo a pairar no sedimento dos objectos que nos vão rodeando, pelos degraus do nosso ser, altares de proibições sem sentido que, afinal, mais não são do que hinos, com redenção mais ou menos conseguida, à mesma vida que os sugeria.
Depois, guardar um objecto que se ri de nós e connosco, que lembra ou espicaça a aventura, que nasceu porventura das mãos de um sonho ansiado ou, muito ao contrário, de uma realidade degustada à exaustão.
Atrás desse, outro vem. O metal, o papel, o vidro, mas também a madeira, o plástico, o tecido, cúmplices e conluiados todos em estratagemas subversivos, perversos, amorais, para desinquietarem os espíritos ou para marcarem presença de troféu aventureiro, concretizado e irredutível.
Um a um se juntam os objectos como as lembranças, para edificarem o que queremos filtrar das vivências. E somos essa manta de retalhos, estranhamente unificada no edifício coerente, por onde correm os medos e as virtudes, as alegrias e os pecados, em suma o acto de coragem de se estar vivo.
Pode haver arte, com primores técnicos ou artesanalmente rupestre. Nada disso importa, para além do incontrolável sorriso que a gravura, o relato, a escultura, a pintura, o engenho projecta no material seleccionado pelas mãos para dar corpo ao que a mente anseia…
Levanta-te e caminha? Porque não, se está ali tão representada a força vital mais derradeira da Humanidade?

- Jorge Castro
2 de Setembro de 2011"

«Um olhar repleto de pulsações»

"há uma poalha dourada
a escorrer pela fímbria do tempo
onde se desenham as volutas de corpos
atormentados de luxúria
na partilha das seivas vitais
sangue
sémen
saliva
e um restolhar doce
que pode ser o ruído arrastado dos passos de todos os espíritos
dançando um tango de Piazzolla no salão nobre dos dias

há um frémito que percorre o aposento
cheio de ausentes presenças
cheio de todos os nadas de tudo de que a vida é feita
e desfeita
contrafeita
um encontro furtivo de amantes
um estertor
ou um olhar repleto de pulsações

e quando a noite cai
ou o clima sossega
e as estrelas vogam no seu interminável
passeio pela eternidade
cada objecto reflecte um brilho único
que lhe é próprio e alheio
ao mesmo tempo

que lhe é próprio e alheio
porque assim é
porque assim se conjuga o intemporal presente
feito de tudo o que nos é próprio ou alheio
apenas por sermos
o que somos
e não qualquer outra coisa sem sentido.

- Jorge Castro
02 de Setembro de 2011"

«Carícias ao nosso olhar»

"As peças não são imóveis,
vibram, acariciam o nosso olhar
como se, subitamente, entre olhos,
se nos abrisse uma vulva
que recolhe um corpo já vivo
e animado pelo bater do erotismo.
Nós somos os quase imóveis, os pasmados,
assim, percorridos até às entranhas
por este gemido da percepção.

Miss Joana Well"

«Caminhantes no vale da sedução»

"Todas estas cores se unem
entram em nós pelos olhos,
pelas mãos, pele já rendida;
todas estas cores formam uma,
antes da ancoragem no corpo;
se essa uma cor pudesse falar,
apresentar-se-ia: Erótica,
a caminhante no vale da sedução
e nós, os rendidos, os dobrados
ao tom mais Sol de todos,
observamos o que nunca foi inanimado
e escutamos o gemer da inspiração.

Miss Joana Well"