Não entendo certa poesia erótica
Que fala de néctar em vez de orgasmo
Que compara sempre a pele a fruta
E que descreve todos os cheiros do corpo
Como aromas tropicais
Em que o sexo é tronco
Os membros ramos
E todo o acto em si é descrito
De um modo ecológico e florestal.
Gosto da carne que é carne
Do cheiro salgado e penetrante do suor
Gosto de braços e pernas
Que atam e prendem como correntes
Gosto do sexo que não é tronco
Mas espada, lança
Que penetra e atravessa
E porque é músculo, carne e sangue
Se sente dentro a pulsar.
Talvez o problema seja
Estar-me lixando para a ecologia
Não ser vegetariana e ser pouco viajada.
Mas quando leio amor
Gosto de sentir amor
Quando leio sexo
Gosto de sentir um arrepio na pele
Como se as letras fossem saltar do poema e tocar.
Gosto do acto descrito com a força do desejo
Carnal, instintivo.
Gosto do poema à flor da pele
Que faz o coração acelerar e dizer:
Porra, isto sim é fazer amor
Isto sim é sentir amar!
O OrCa apoia a Encandescente (e, claro, ode-a):
Da palavra pressentida
À palavra sussurrada
Nessa fúria mal contida
Incandescência de sexo
Onde a palavra gritada
Só no vernáculo tem nexo
Passo a passo até ao espasmo
Sangue assim será só sangue
E só depois do orgasmo
Se calará já exangue...