07 março 2005

Diário do Garfanho - 65

13 de Fevarço

O episódio custou-me mas nunca ninguém soube. Evitou-se, à tangente, uma tragédia de proporções bíblicas, pois, o Oliveira manteve-se sempre a rondar.
A muito arranjada contribuinta senta-se à minha frente e sorri. Eu retribuo.
– Não sei se o senhor me pode ajudar... – diz ela num sensual fio de voz.
– Posso, com certeza. – Interrompo-a eu, inchando o peito como um pombo a fazer a corte. – Em tudo o que a senhora precisar.
– Oh, não diga isso... – A frase, o tom e o gesto de vergonha fingida foi um bocado exagerado mas eu tomei o episódio como um incentivo.
– Digo e digo-o outra vez. – Tornei-me também demasiado explícito. – Disponha de mim como e quando quiser.
– Obrigado – ela sorriu como se estivesse habituada a ver os homens dissolverem-se em testosterona. – Na verdade, o que tenho a pedir-lhe é muito simples: perdi o meu cartão de contribuinte.
– Sim, senhora. Às vezes, os pedidos mais simples são os mais importantes. E as pessoas que se preocupam com as coisas simples da vida, são as que lhe dão mais valor. – A gaja bebia as minhas palavras. Conversa da treta e ela sorria como se estivesse a ouvir os concertos para (o) violino de Chopin. – Por acaso, não sabe o seu número de identificação fiscal?
– O meu... – ela suspendeu a frase e apenas com o olhar pediu-me ajuda.
– Ah! Desculpe, é calão técnico-fiscal. Queria saber se a senhora sabe o seu número de contribuinte.
– Oh! O número de contribuinte... – suspirou ela. "Demasiadamente melodramática", pensei. – Sei, é o 123...
– Sim, senhora, ajuda-me muito. Vamos já tratar disso – e digitei o número. Li o resultado. – Deve-se ter enganado. Importa-se de repetir?
Ela repete e eu torno a digitar, com o mesmo resultado.
– Não pode ser. A senhora está enganada, desculpe. Este número está em nome de um tal Augusto...
– Augusto António da C... P... G... – interrompeu ela.
– Exactamente – disse, surpreendido com a prontidão e certeza da resposta dela. – Esta confusão já tem acontecido outras vezes?
– Sim – ela sorriu. – Pode-se dizer que sim.
– Então não se lembra do seu número? – Perguntei eu inocentemente. Totó.
– Esse é o meu número – disse ela.
– Ah!... – Devo ter ficado de todas as cores. Ela sorriu de uma forma tão natural que me envergonhei ainda mais. – Sim, senhor...a, é o cartão de contribuinte que quer. Muito bem. Sim, senhor...a. Vou já tratar disso.
E tratei e ninguém percebeu (nem eu) e despedi-me educadamente.

– Porra, "ganda" avião! – Veio o Oliveira dizer-me logo que ela se levantou.
– Artilhado, ó Oliveira. Todo artilhado!

Garfanho

06 março 2005

Confissão

foto: emil schildt

Nunca pequei por pensamentos
Nunca pequei nos actos
Pequei pelas omissões.
Pequei quando não fiz o que queria
Lixando-me para o que pensassem
E se era o correcto ou não.
Pequei contra mim
Todas as vezes que me retraí
E contive desejos e vontades
E ao não passar do pensamento ao acto
Pequei por omissão.
E no dia do juízo final
Arguida e juiz de mim mesma
Declarar-me-ei pecadora,
Mas alegarei em minha defesa
As vezes em que não calei
As vezes em que não me omiti
E soltando desejos e vontades
Pratiquei todos os actos pensados
E conheci o paraíso
E nele me redimi.

DICK HARD NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA - 2

(... com ti nu)

Porra que a tarde não estava a correr bem. Cada vez que falava com uma miúda era insultado. Estava ele nestes preparos mentais quando a manifestação avançou de forma inexorável e entrou para as galerias da Assembleia da República, onde ia ser debatida uma moção de censura do Bloco de Esquerda contra o aumento do preço dos strap-on. O PP estava decidido a contra-atacar com uma proposta de subsídio ao lubrificante KY. Por seu lado, o PS estava pronto para reivindicar a substituição do Y de KY por um I, na defesa da língua portuguesa. Dizia-se à boca pequena que Edite Estrela estava na base da conjura.Claro que o PSD não se podia ficar. Corria nos bastidores que planeavam uma orgia de desagravo.
Pelas 17 horas, serviram chá e bolinhos nas galerias, uma iniciativa da nova maioria. Dick Hard ficou muito bem impressionado, mas a maior parte das lésbicas recusou:
- Camaradas, recusem os bolinhos. Não se deixem comprar.
- Ó biscoito, acalme-se lá. Uns bolinhos caem sempre bem...
Ainda Dick não tinha acabado de proferir estas palavras e já estava a levar com um tabuleiro na tromba.
- Vê lá se este tabuleiro te cai bem...
Passados 20 minutos, a ordem voltou ao parlamento. Cerca de 30 manifestantes detidas, os feridos mais graves a caminho do hospital, Dick Hard a caminho do posto de primeiros socorros a náufragos da Assembleia da República.
O posto de primeiros socorros a náufragos da Assembleia da República era numa sala amplamente adjacente aos Passos Perdidos, quase ao lado da secção de Fodidos e Manchados.
Dick, com um nariz à Belenenses, a escorrer o muco azul que lhe vinha da aristocracia materna (a Marquesa de Massage-Massoterapie), entrou pé ante pé, com o lenço bem colado à penca.
- Entre, faz favor. O senhor é mais uma vítima das fufas, não é?
Dick olhou em volta e só não se beliscou porque tinha uma mão a agarrar o lenço e a outra no bolso, tentando acalmar os ânimos do Dick mais pequenino, em plena fase de crescimento espontâneo, como se tivesse acabado de tomar um batido de Fercol ou um cocktail de Viagra.

(... com ti nua)

Webcedário - o blog mais letrado


O ABC Dário que me perdoe mas não resisti a fazer
esta brincadeira inspirada nas suas letrinhas
(e isto também serve para o lembrar
de que há muito tempo que não me liga nenhuma...)

Rotulagem

Oh Manela eu estou-me nas tintas para os rótulos!... Benditas as primeiras rugas que nos fazem esquecer os rótulos e a aceitação dos outros!...
Eu estava triste, tão triste que nada me fazia sorrir ou me prendia a atenção. Então senti que se colava a mim, insistindo em me ouvir e que inventava programas para me distrair. Aqueles cabelos loiros pequenitos e aqueles olhos verdes enormes e sorridentes começaram a fazer-me circular o sangue e a estimular aquela sensação que todos queremos na vida: sentirmo-nos amados.
E quero dizer-te Manela que foi por me sentir amada que quando ela me pegou na mão, eu imediatamente lhe estendi os lábios para um longo beijo e que quando ela me tocou os seios e com a polpa das pontas dos dedos me dedilhou os mamilos, eu literalmente desabei sobre o seu pescoço para o beijar pedacinho a pedacinho, humedecendo-lhe os poros.

O que eu te quero transmitir Manela, é que apesar de ser a primeira vez que acariciava os seios de uma outra mulher e lhe conhecia ao vivo o sabor, a sensação era a de que nada era estranho, como se sempre lá estivesse estado. Ela sabia tocar-me em todos os pontos essenciais com uma língua musculada e dançante tal como sabia manipular os dedos como se fora eu própria. Mesmo quando me penetrou com um dildo, tudo foi tão certo no tempo e no ritmo que nada me pareceu fora do lugar. A não ser, Manela que o prazer seja uma coisa estranha no nosso corpo.

05 março 2005

O beijo

foto de Tim Flach
Há momentos na nossa vida que não esquecemos, por mais que o tempo passe.
Talvez por isso saiba o instante exacto em que me apaixonei por ti.
Nunca esqueci aquele beijo que trocámos, em que as nossas almas se tocaram...
Na altura não percebi o quão intenso foi o momento.
Nesse dia recordei o teu sorriso, o teu olhar, o prazer que existiu... mais que esse beijo.
Nesse dia brincámos, rimos, gozámos, fomos amantes.
Nesse dia o mundo sorriu para mim e eu nem percebi!
Hoje recordo os nossos corpos lado a lado, os dedos entrelaçados, as cabeças na almofada, os olhos fechados, as bocas coladas... aquele beijo, tão especial.
Recordo o instante em que foste meu, como nunca depois aconteceu.
Prometi-te que não me apaixonaria por ti, achei que isso nunca iria acontecer.
Mas não cumpri essa promessa.
Como seria possível não te amar?
Tu, o meu princípe encantado do conto de fadas onde eu nunca fui princesa...

Video automobilístico

O Bichana Gato (desaparecido lá no fundo) gosta muito deste carro mas não sabe qual é a marca nem o modelo.
Principalmente, quer saber o número de telefone... do modelo.
Alguém (ou outra visita qualquer) o ajuda?

DICK HARD NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA - 1

Um frio de rachar. O céu azul.
Um copo de Super Bock Stout.
Podia estar-se pior. Mas o tédio invadia de comichões existenciais o detective mais ordinário a oeste de Paços. No guardanapo de papel, Dick acabava de escrever mais um dos seus poemas:
"Se vou às putas
nunca me venho
não se deve gozar
com quem trabalha"
Dobrou A BOLA sem saber porquê (deixou o exemplar em cima da mesa do snack-bar) e pôs-se a passear sem rumo e a dizer piropos fora de moda às miúdas que saíam da escola secundária com o cio juvenil a tiracolo:
- Não sabia que as flores andavam.
- Vai prò caralho que te carregue, ó velhadas!
Primeiro, Dick estranhou um insulto tão hard da parte da miúda. Já não se podia ser galante. Depois pensou que a juventude não estava tão mal como isso. A miúda tinha revelado um trocadilho inteligente, misturando a frase “Vai para o Diabo que te carregue” com “Vai prò caralho”. A nível subsconciente talvez Dick tenha pensado: “Ó Diabo, estão a mandar-me prò caralho”.
Por norma, quando o mandavam para o caralho, Dick não ia. A menos que fosse muito bem pago, que houvesse bom uísque e o caminho fosse de primeira e não tivesse muitas portagens.
Fosse como fosse, estava na hora de ir tomar um copo às Docas. Meteu os pés a caminho e desceu do Largo do Rato. À porta da Assembleia da República deparou-se com uma manifestação de lésbicas.
- Ó amiga, desculpe lá a pergunta. Esta manif é contra quê?
- Contra o custo de vida.
- Isto realmente está pela hora da morte.
- Pois é, já não se pode comprar um strap-on sem andar na esquina a render.
- Um quê? Um pónei?
- Cavalo é você! Um strap-on, um dildo de cintura, um caralho para te meter na peida, já estás a perceber agora, ó panasca?

(... com ti nua na próxima legislatura)

Porta aberta

foto:Pascal Tarraire

Quem tiver coragem que me refreie
Que me ponha um freio
Uma mordaça
E cale a voz que tenho em mim.
Tenho tempestades para dar
Se alguém se atrever a entrar
Nas portas que abro aqui.
Quem quiser calmaria
É melhor nem espreitar
Que oásis, santuário de paz
Nada disso sou, ou encontram em mim.
Mas quem quiser ser vento comigo
Atravessar tempestades
Subverter as possibilidades
Mergulhar sem saber a profundidade
A porta está aberta
Pode entrar!

04 março 2005

Cisterna da Gotinha

Mulheres de acção: e de armas.

Porquinho inocente: mas só à primeira vista...

Inner Sanctum: fazer umas comprinhas de Latex

The Sex Melon: tudo é possível...

Quem quer comprar Cuecas??!?:.. ahhh.. esqueci-me de dizer que são cuecas usadas!!!

De ir ao céu

«Môor…hummmmm! Hoje quero que faças de mim o que quiseres», diz-me ela.
«Ui…que bom! Vou fazer com que te sintas no céu, doce», digo eu.
«Sim, faz-me isso», responde-me.
Pego nela, ponho-me em pé, com ela agarrada ao meu pescoço e bem encaixados um no outro. No calor da luta piso um sapato que estava no chão. Caímos os dois e ela dá com a cabeça na beira da cama e diz: «Fhhhh! Ai, porra môr, até vi estrelas». Os dois a rir que nem perdidos, no chão, e eu a dizer «vês, vês, eu não te tinha dito».

De boas erecções está o inferno cheio!

Não, não é mais um provérbio POPular da nossa lista. Mas podia ser. É o título de um livro de poesia satírica de Dick Hard (Luís Graça). Poesia dura e grossa, que a diáCona (onde pára ela?) não desdenharia atirar para a fogueira da inquisição. E que melhor elogio poderia ter um livro?
Fiquem-se só com um exemplo que faria o Einstein babar-se:


E=mc2

Uma erecção
a preceito
não passa duma relação
cona/efeito

Eu até já tinha outro livro deste autor na mesma editora (Polvo): "O homem que casou com uma estrela porno"... hmmm...
E se vos disser que o Luís Graça se alistou na FundiSão?

Consegues completar o desenho?


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