14 março 2005

DesAmandoa em ti

Só mais uma…
Desarmazena-me de ti, amêndoa-me com a boca
Procura-me!
Entre, dentre e por mim, dentro
EncontrAmaMendoa.
Afaga-a com os beijos doces que se mesclam com o meu derreter.
De te ter.
(prazer que armazeno com a saudade)
Mais uma, só contigo
na minha amêndoa
amando-a.
(saudade despida do teu doce...)

FiscalizaSão

Oh Manela tu sabes que eu gosto de correr riscos e me excita o facto de contrariar o proibido, como se isso fosse a minha missão divina na terra. Por isso, quando caminhavámos pela Avenida da República fora, ao cair da tarde e demos de caras com as obras de reconstrução de um prédio, sem os funcionários dos baldes de cimento e das medições, olhámos um para o outro com uma cumplicidade adolescente, averiguámos ao redor a escassez de transeuntes e escapulimos para dentro através da rede verde.

Aquilo era húmido e obscuro mas sentia perfeitamente o cheiro da excitação dele. Desabámos na boca um do outro como se as nossas línguas pudessem penetrar o outro pelo esófago numa acidez de maçãs. Os dedos dele trespassaram a minha saia na pressa de tocar os meus lábios orvalhados enquanto eu lutava com cinto, botões e fecho éclair para agarrar aquele músculo que crescia nas minhas mãos. Encostada à parede recém-cimentada sentia-me pregada numa cruz, elevada às nuvens por um pedaço de carne que endurecia em mim com a ajuda de umas apertadelas ritmadas e um duelo de línguas.

Mas, como num filme, Manela, estando nós a acabar de nos compôr, ponta de camisola aqui, ponta acolá, aparece-nos um energúmeno, fardado de forma que ninguém rejeitaria identificar como polícia e nos pediu identificações, mirou e remirou tudinho de alto a baixo, para o puxar a ele à parte e lhe sussurrar «Ouça lá, você não a podia ter levado para uma pensão?»

Poema fodido



Apetece-me escrever como o Bocage
Mandar tudo para o caralho
E que se lixem as boas maneiras.
E num poema fodido
Porque estou com um humor de cão
Mando à merda a boa educação
E escrevo o que me apetece.
E dou um murro no poema
Como se desse um murro nas trombas
De quem não gosto e me chateia.
A merda que escrevo é só minha
Não sou correcta, educada, certinha
E na escrita sou
E faço o que me apetece!
Portanto mando a poesia para o caralho
E num poema fodido
Esmurro a página e a linha
Porque escrevo o que me apetece
E a merda que escrevo é só minha!

Ilustração: Da São, a própria

M a r c e l N i n o P a j o t


Marcel Pajot é um pintor e ilustrador francês.

A melhor introdução de sempre de um filme pornográfico


"Eu sei fazer reanimação cárdio-respiratória!"

Genial! O que eu me ri com isto...

As saudades que temos da Shivaree...

Por onde andará a Shivaree?...
A fodografar e a enviar por telemóvel imagens eróticas feitas com as mãos?...
Estará a fazer «bondage» na House of Gord (com especial atenção à «forniphilia - mobília humana»)?...
Andará a fazer compras do que seleccionou no Fashion Lingerie Paris 2005?
Perde o tempo todo dela a destruir as provas no computador, para que não lhe aconteça o mesmo que ao CEO da Boeing?
Terá seguido o conselho do Dupont e foi visitar a exposição de antigos instrumentos do sexo chineses? É que ele queria mostrar-lhe como os Queen gozavam a vida...

É só atar e pôr ao fumeiro!


(enchidos confeccionados pela Gotinha)

13 março 2005

Prioridades

Foto: Konrad Gös

"Claro que temos de rever as prioridades..."
Calou-se, estremeceu, olhou em frente, entrou nos olhos dela.
Ela sorriu.

As conversas, o barulho das vozes e dos talheres pairavam acima da toalha branca, comprida.
A toalha ocultava o pé descalço que lhe tocava o joelho, lhe exigia a atenção, lhe dizia:
- Estou aqui.

Ela acariciou-lhe o joelho com as pontas dos dedos do pé.
Deslizou para o interior da perna em movimentos curvos, sinuosos, que subiam e os isolavam do jantar, das conversas dos outros, do lugar.

Chegou à base do sexo.
Parou.
Tocou mais forte perguntando:
- Continuo?

Ele moveu-se na cadeira. Sentou-se na berma.
Com os olhos, com o corpo disse:
- Sim.

Dick Hard no «Nacional» de Surf

Só começámos agora a acompanhar as aventuras do Dick Hard e já parece tão familiar.
Desta vez vamos conhecer a Clarimunda:

Era uma namorada do mais improvável, uma «chavala» pescada na lota de Cascais. O pai era pescador e a miúda deu em surfista e puta amadora. Quer dizer, para além de foder o dinheiro que o pai ganhava com o sal do mar e o suor do corpo, fodia com todos os pescadores que pudesse. Era um bocado chato para o pai, que saía para o mar nas chatas em vias de extinção e apanhava conversas cruzadas entre a rapaziada:
- A filha do Peres é que tem boa boca...
- Isso não é garganta tua?
- Pelo contrário. É garganta dela.

A vida do Dick Hard é como tantas outras:
Dick metia-se muitas vezes no Lotus Europa rosa-choque, a cair aos bocados, e ala até Cascais. Uns "shots" com a Clarimunda no John Bull, um peixinho nos restaurantes aprazíveis da cidade, uma punheta bem tirada num canto escuro, uns meles, uns beijos ou até uma pinocada clássica em casa da miúda, com o pai no mar atrás dos sargos. As sardas em terra atrás da miúda, a miúda atrás das sardas e o pai em pleno mar, armado em pargo, aos sargos. Dick por baixo, Clarimunda por cima. Ah! pois, a vida não está para grandes aventuras. Dick deixava a miúda cavalgá-lo segundo as regras do manual da instrução primária e punha-se a olhar para o tecto e a pensar: "Já dei muito o cabedal. Ela que trabalhe. Logo à noite vou comer uma feijoada à transmontana à tasca do Nicolau".
Crica aqui para surfares com o Dick, a Clarimunda e a amiga colombiana Maria del Mercedes... na história completa.

Serviço Público à CUltura


Domingos Monteiro d’Albuquerque e Amaral, transmontano nascido em 1744, parceiro das tertúlias de Filinto Elísio, foi um dos muitos poetas brilhantemente caídos no esquecimento da voragem dos dias...

Danadinho para a sátira e para a poesia burlesca, dele nos chegaram pouquíssimas obras, uma das quais irei divulgar aqui, conforme recente edição da Editora Apenas Livros (apenaslivros@oninetspeed.pt), com pedido de desculpas pela publicidade, mas o seu a seu dono.

Senhoras e Senhores, atentem no tom heróico das oitavas de “A Peidologia” e leiam bem alto, onde quer que se encontrem e verão como o vosso domingo ficará diferente:

A
É o Peido o ABC de uma cagada,
Porque todas por Peido principiam;
É Autómato de ouvir que fica em nada,
Arsénico de dores que roíam,
Arenga que o cu traz sempre estudada,
Aroma que os partos não desviam;
É aula que se cursa, e é Aurora
Que quando ri no cu, na fralda chora.

B
É Borrasca do sesso quando é forte,
Bacharel que palra sem ter arte,
Baixão que tange o cu de toda a sorte,
Bando que o rabo deita quando parte;
É Bombarda que fere e não traz morte,
Bomba que estoura sem se ver a parte,
Barbeiro que ensaboa com bafio,
Brejeiro que dá senha de assobio.

C
É Casquilho que traz consigo o cheiro,
Camaleão que vive só de vento,
Chamariz para pulhas de arrieiro,
Calo que pregam a nariz nojento;
É Criança que mama no berreiro,
Carapeta de velho flatulento,
Capitão posto em frente da cagada
E Censura em senhora delicada...

... e por aí fora, até à letra Z. Quem quiser mais, pode sempre encomendar o livro à editora.

12 março 2005

Bate... o Record no Fim de Semana


Jogo
: bem fecundo...

Índios

Queres mesmo saber como era com quem te antecedeu, Frederico?... O tamanho da pila ou se era melhor do que tu na cama?...

Sabes, Frederico, nós tínhamos arrendado umas minúsculas águas-furtadas, num bairro antigo, para desespero da vizinha da frente que continuamente nos presenciava escarrapachados, com as cabeças sempre enfronhadas no meio das pernas do outro, por nem sequer termos tempo de nos lembrar de fechar a janela.

Não contentes com isso, forrámos o espaço a espelhos de metro e meio, de forma a conseguirmos uma visão em profundidade dos nossos exercícios na barra fixa. Aplicávamo-nos mesmo no estudo e como diz alguém, era muito trabalho, muito trabalho, que só a banheira e muita espuma sossegavam.

Até que um dia, Frederico, cada um de nós fez um golpe no polegar esquerdo e unimo-los, numa tradição índia. Pena foi que depois nos atormentasse o incesto.