Oh Manela tu sabes que eu gosto de correr riscos e me excita o facto de contrariar o proibido, como se isso fosse a minha missão divina na terra. Por isso, quando caminhavámos pela Avenida da República fora, ao cair da tarde e demos de caras com as obras de reconstrução de um prédio, sem os funcionários dos baldes de cimento e das medições, olhámos um para o outro com uma cumplicidade adolescente, averiguámos ao redor a escassez de transeuntes e escapulimos para dentro através da rede verde.
Aquilo era húmido e obscuro mas sentia perfeitamente o cheiro da excitação dele. Desabámos na boca um do outro como se as nossas línguas pudessem penetrar o outro pelo esófago numa acidez de maçãs. Os dedos dele trespassaram a minha saia na pressa de tocar os meus lábios orvalhados enquanto eu lutava com cinto, botões e fecho éclair para agarrar aquele músculo que crescia nas minhas mãos. Encostada à parede recém-cimentada sentia-me pregada numa cruz, elevada às nuvens por um pedaço de carne que endurecia em mim com a ajuda de umas apertadelas ritmadas e um duelo de línguas.
Mas, como num filme, Manela, estando nós a acabar de nos compôr, ponta de camisola aqui, ponta acolá, aparece-nos um energúmeno, fardado de forma que ninguém rejeitaria identificar como polícia e nos pediu identificações, mirou e remirou tudinho de alto a baixo, para o puxar a ele à parte e lhe sussurrar «Ouça lá, você não a podia ter levado para uma pensão?»
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Uma por dia tira a azia