18 abril 2005

Diário do Garfanho - Heaven Knows I'm Miserable Now

Num autocarro, em Lisboa, vou mais de 39 minutos ao lado de uma belíssima mulher - mais adjectivação é desnecessária e seria, sempre, redutora.
39 minutos a pensar, a reflectir, a questionar.
39 minutos a agravar uma úlcera (se a tivesse), com palpitações (se as sentisse).
39 minutos de angústia, de dúvida, de embaraço.
39 minutos a perscrutar os insondáveis caminhos do Senhor (se fosse crente).
39 minutos de desejo, de esperança, de devaneios.
39 minutos de olha, não olha; fala, não fala; sorri, não sorri.
39 minutos de cálculos, de considerações, de especulação.
E, um minuto depois de ela sair, a dúvida sufoca-me e já estou arrependido, para a vida!, de nunca vir a desatar o nó que se me formou na garganta:
Que roçou roçou. Agora se se roçou ou se apenas roçou... Aí é que está o cerne, o fulcro, o busílis da questão.

Uma Rosa é uma Rosa é uma Rosa (São Rosas)

17 abril 2005

Dick Hard no Centro de Estética

Dick Hard não podia ser considerado minimamente um metrossexual. Em primeiro lugar porque não gostava de andar de metropolitano. Depois, porque nunca tinha tido sexo em plena carruagem.
Por isso, quando a sua amiga Lolita lhe disse que não era preciso ser metrossexual para a acompanhar ao Centro de Estética, Dick Hard encolheu os ombros e deixou-se guiar, de braço dado, pelas labirínticas ruas de uma Lisboa antiga que já se mentalizara em aceitar um centro de estética.
O «Miminhos do Corpo» era um centro bem catita, com clientela do mais seleccionado. Esposas de gestores, viúvas de ex-traficantes de droga arrependidos, namoradas de seguranças de escritoras de livros de auto-ajuda, funcionárias de organismos estatais em vias de decomposição.
E como um centro de estética não tem de ser necessariamente dedicado às senhoras, o «Miminhos do Corpo» era bissexual, por motivos financeiros: tinha uma secção para senhoras e outra para cavalheiros. Era importante não descurar o negócio.
Lolita tocou à campainha e ouviu-se a voz de Vincent Price no filme de terror «O gato miou três vezes». Dick não percebeu bem a frase, mas era assim a modos que a atirar para o horripilante. Se fosse levada a sério. Com o Vincent Price era difícil levar o terror a sério. Que raio de ideia para um toque de campainha!
A porta abriu-se e na recepção estava uma loira do mais terrífico que se podia imaginar. Ver aquela menina e não poder saltar-lhe para a espinha com imediatismo era algo digno de um filme de terror com Boris Karloff ou Cristóvão Lee.
O Dick mais pequenino pôs-se aos saltos dentro das calças de ganga do dono:
- Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero!
Dick deu-lhe a meia-volta do costume (como indicado no livro de Alberto Moravia, «Eu e ele») e sossegou o personagem.
Lolita dirigiu-se à Vânia Vitória (a menina da recepção que provocava erecções à velocidade da luz) e sorriu:
- Olá, o meu nome é Lolita Esplendores e tenho marcação de «Revisão Total Especial» para as 16 horas. Hoje trouxe um amigo meu. Gostaria de saber se é possível inscrevê-lo num programa especial de «Trate de si, cavalheiro».
- Pois é, D. Lolita, sem marcação para o seu amigo vai ser um pouco difícil. Hoje é um dia mau. Tem estado tudo cheio. Sabe como é, sexta-feira, dia de sol, vésperas de Primavera. As pessoas saem de casa com vontade de se tratar bem.
- Veja lá o que se pode fazer. Eu quase arrastei o meu amigo...
...
Será que ela abre a vaga para o Dick Hard? E será desta que a história acaba bem para o nosso herói? Duvido, mas lê o resto...

Nítido


Oh São, foi como voltar à adolescência!... A nítida frescura da pele dele e o sorriso genuíno que imprimia na cara incentivavam-me a rebolar pela humidade dos relvados da noite de Belém, preparada previamente de saia e isenta de cuecas, para o reconhecer explodindo em mim, na pressa de não sermos apanhados.
Era a brincadeira contínua do duche quente em que nos ensaboávamos para ele remexer em todas as direcções geodésicas da minha cavidade, defendendo que assim ficaria bem lavadinha enquanto engolia as gotinhas de água que me escorriam dos mamilos, para não se perder nada, obviamente. Eu afiançava-lhe que precisava do duche mais próximo para me matar a sede e engolia-o como bebida isotónica, com a água a salpicar-me os cabelos enquanto lhe sopesava as recargas que depois serviam de fio dental.
Era a pressa de responder a mais um sms que marcava encontro num sítio recôndito da cidade, para onde partia aos pulos, dançando em sapatos voadores, mesmo que fosse o escurinho do cinema, onde os beijos lânguidos e as mãos desassogadas e continuamente espalmadas na carne, por entre fechos e tecidos e lãs, impediam de apreciar condignamente a obra do realizador.
Mas, oh São, eu não estava preparada para encarar as coisas de forma séria como quando ele se ofereceu para fazer uma vasectomia.

Tomai e bebei: este é o meu prazer derramado por vós


(enviado por Roxy)
(título da Maria Árvore)

15 abril 2005

Pela primeira vez na vida comprei um jornal desportivo!

70 cêntimos. Só por causa da primeira página!

ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! etc.
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A cópula

de Manuel Bandeira

Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
colhões e membro, um membro enorme e tungescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinente,
não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
e fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona a dentro o mangalho até o cabo.

A Rainha de Copas - Matt Ridley

Aconselho este livro científico (cujo subtítulo é «o sexo e a evolução da natureza humana») publicado em Portugal pela Gradiva.
Uma análise profunda da sexualidade como tema central da nossa evolução.
Deliciem-se com esta citação de Charles Darwin que Matt Ridley usa para ilustrar a questão do perfeccionismo sexual:
«Se todas as mulheres se tornassem tão belas como a Vénus de Medici, durante um certo tempo ficaríamos encantados, mas depressa desejaríamos a variedade e, logo que tivéssemos obtido a variedade, desejaríamos ver certas características das nossas mulheres um pouco exageradas para além do padrão então existente.»
Porque será que isto me fez lembrar a Campanha por Beleza Real, que eu a-do-ro?!

Graças ao sofá


Não sei se a culpa não foi do sofá, São! Eu apenas o ouvi a desfiar os seus problemas no sofá fronteiro, ao ritmo de cervejas mornas e cruzei e descruzei as pernas vezes sem conta, dando-lhe alento em palavras feitas tremoços.
E ele São, veio direito a mim e desabou a beijar-me o pescoço, a deixar escorregar as mãos pelo meu peito e pelos intervalos das minhas calças. Perante o meu espanto mudo, abriu-me o fecho e resvalou a sua mão direita do monte para o interior dos lábios até o seu indicador chocar com as minhas nádegas. Ergueu o queixo para me indagar com os olhos se tinha aval para continuar, sinal a que retorqui com um longo beijo de línguas. E vai daí, ele afundou-se em espirais no meu botão de sintonia, pulou dos grandes para os pequenos como linha de cerzir, enquanto as minhas mãos o despenteavam atabalhoadamente. Aprimorou-se a passear a língua monte acima, monte abaixo, com o rigor de uma toalhita enquanto a sua mão esquerda me espremia as nádegas para o indicador e médio direitos se enfileirarem vulva adentro. Voltou para tragar o meu clitóris, em pedacinhos pequenos e tanto petiscou que me contorci, abraçando a sua nuca com os meus joelhos. Peguei-lhe a cabeça com ambas as mãos e debruei-lhe os lábios e o céu da boca com beijos.
Foi aí São que ele me agradeceu e eu ainda zonza, nem queria acreditar nos meus ouvidos. Apenas lhe dei a minha atenção. Oh São, há necessidade de pagar a amizade?...

A Maria Árvore depois da aventura do sofá


(o F. Monteiro não a consegue desencaixar)