17 abril 2005

Dick Hard no Centro de Estética

Dick Hard não podia ser considerado minimamente um metrossexual. Em primeiro lugar porque não gostava de andar de metropolitano. Depois, porque nunca tinha tido sexo em plena carruagem.
Por isso, quando a sua amiga Lolita lhe disse que não era preciso ser metrossexual para a acompanhar ao Centro de Estética, Dick Hard encolheu os ombros e deixou-se guiar, de braço dado, pelas labirínticas ruas de uma Lisboa antiga que já se mentalizara em aceitar um centro de estética.
O «Miminhos do Corpo» era um centro bem catita, com clientela do mais seleccionado. Esposas de gestores, viúvas de ex-traficantes de droga arrependidos, namoradas de seguranças de escritoras de livros de auto-ajuda, funcionárias de organismos estatais em vias de decomposição.
E como um centro de estética não tem de ser necessariamente dedicado às senhoras, o «Miminhos do Corpo» era bissexual, por motivos financeiros: tinha uma secção para senhoras e outra para cavalheiros. Era importante não descurar o negócio.
Lolita tocou à campainha e ouviu-se a voz de Vincent Price no filme de terror «O gato miou três vezes». Dick não percebeu bem a frase, mas era assim a modos que a atirar para o horripilante. Se fosse levada a sério. Com o Vincent Price era difícil levar o terror a sério. Que raio de ideia para um toque de campainha!
A porta abriu-se e na recepção estava uma loira do mais terrífico que se podia imaginar. Ver aquela menina e não poder saltar-lhe para a espinha com imediatismo era algo digno de um filme de terror com Boris Karloff ou Cristóvão Lee.
O Dick mais pequenino pôs-se aos saltos dentro das calças de ganga do dono:
- Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero!
Dick deu-lhe a meia-volta do costume (como indicado no livro de Alberto Moravia, «Eu e ele») e sossegou o personagem.
Lolita dirigiu-se à Vânia Vitória (a menina da recepção que provocava erecções à velocidade da luz) e sorriu:
- Olá, o meu nome é Lolita Esplendores e tenho marcação de «Revisão Total Especial» para as 16 horas. Hoje trouxe um amigo meu. Gostaria de saber se é possível inscrevê-lo num programa especial de «Trate de si, cavalheiro».
- Pois é, D. Lolita, sem marcação para o seu amigo vai ser um pouco difícil. Hoje é um dia mau. Tem estado tudo cheio. Sabe como é, sexta-feira, dia de sol, vésperas de Primavera. As pessoas saem de casa com vontade de se tratar bem.
- Veja lá o que se pode fazer. Eu quase arrastei o meu amigo...
...
Será que ela abre a vaga para o Dick Hard? E será desta que a história acaba bem para o nosso herói? Duvido, mas lê o resto...

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