27 agosto 2005

Garfiar, só me apetece - 115

MATA - §18

Armando Lenhador sentou-se.
O chulo educado sentou-se numa outra cadeira à volta da mesma mesa.
O índio escanzelado manteve-se em pé uns momentos fazendo ruídos intestinais, agitou furiosamente as mãos atrás das costas fazendo circular o ar que aí se acumulava perigosamente e, depois, sentou-se noutra cadeira da mesma mesa.
O motorista sentou-se noutra cadeira da mesma mesa.
A décima terceira puta saltou para cima da mesa, gritou “Table dancing - literal” e começou a dançar em cima da mesa.
O chulo educado olhou para os outros homens mas ninguém olhou para ele.
– Não viemos cá para isto – disse o chulo.
O índio escanzelado riu-se e encolheu os ombros.
– O que podia ser melhor que isto? – perguntou o motorista sem tirar os olhos da décima terceira puta.
– A décima segunda puta – gracejou o índio escanzelado. Os outros riram-se e atiraram, sem qualquer critério, outros números de putas. A décima terceira puta sentindo-se ofendida parou de dançar.
Um curioso numa mesa próxima ficou suspenso da atitude da “table-dancer” e chamou a D. Ermelinda, prometendo-lhe copos de plástico se a “table-dancer” se mantivesse a dançar e copos de vidro se ela viesse dançar para a mesa dele.
A D. Ermelinda que tinha grande necessidade de copos de vidro na taberna, não hesitou e saltou para cima da mesa do curioso.
O curioso ficou estupefacto, tal como todos os restantes frequentadores da tasca, mas, sensível como era, preferiu ver o triste espectáculo, a dizer à D. Ermelinda que quem ele queria a dançar na sua mesa não era ela, mas ela – a outra.
Armando Lenhador agarrou no telemóvel do motorista, distraído com a D. Ermelinda, e ligou a um colega para passar palavra: daí em diante, a taberna iria ter copos de vidro lavados, além de copos de plástico encardidos. A notícia espalhou-se na mata como fogo em lenha seca e a alegria foi imensa.
D. Ermelinda, pensando nos copos de vidro, esquecia-se de si, do seu corpo, da sua vergonha (caso a tivesse) e da precariedade de um corpo de cerca de 100 quilos a mover-se, sem nexo, numa mesa de três pés.
– A velha tem carteira profissional? – perguntou a décima terceira puta ao chulo.
– Pergunta-lhe antes se tem seguro de vida – respondeu o chulo concentrado nos movimentos pseudo-sensuais da D. Ermelinda.
O índio escanzelado chorava e, disfarçadamente, peidava-se, tinha sido assim, num assomo de ganância e loucura, que a sua mãezinha tinha ido desta para melhor – “se é que é melhor estar empalhada em casa há duas décadas.”
O curioso via o empenho, o denodo, a audácia, o arrojo, o desprezo pela vida que a velha demonstrava e, suando, pensava na quantidade de copos de vidro que ela esperaria receber.
– A D. Ermelinda rebola-se como poucas – comentou o motorista.
– É por uma boa causa – disse Armando Lenhador, cansado de beber por copos de plástico cheios de verdete.
O chulo via a velha e fazia contas de cabeça.
– O turismo sexual sénior é um mercado a explorar – disse o chulo à décima terceira puta, sentada em cima da mesa.
– Sim, é um nicho de mercado com potencialidades – concordou a décima terceira puta, consultora da “Flor do Entulho – Prestação de Serviços Essenciais, Lda.” para a área da prospectiva e desenvolvimento. – É até um produto que facilmente se podia internacionalizar: velhos reformados dos países desenvolvidos passavam-se com isto.
A D. Ermelinda cansada, pensava em terminar o show, já devia ter ganho umas boas resmas de copos, e fez sinal ao velho índio, que se mantivera atrás do balcão.
– Senhoras e senhores – gritou o índio, fazendo que todos olhassem para ele, enquanto a D. Ermelinda se esparramava de pernas abertas sobre a mesa para o grande final. – Como dizia Horácio, esse grande poeta: “PAUPERTAS IMPULIT AUDAX”.
A D. Ermelinda, que de latim nada percebia, limitou-se a erguer e abrir os braços e gritar:
– TCHARAM! – e virando-se para o curioso: – Que venham os copos.
Os frequentadores do café, todos sem excepção, levantaram-se num pulo e bateram palmas com fervor religioso.
– “Paupertas impulit audax!” – entoavam todos, com excepção do curioso e da D. Ermelinda, pouco dados a locuções latinas. – “Paupertas impulit audax!”
– “Non nova, sed nove” – disse o chulo para os companheiros de mesa, que concordaram com acenos de cabeça sabedores.
– Minha senhora, mil copos – disse o curioso, sensível ao esforço da velha. – Mil copos é o que eu lhe darei e mais não dou porque não tenho.
A D. Ermelinda, ajudada pelo índio pai, tentava descolar as partes íntimas do tampo da mesa e nem sorriu; a sucção e as frases enigmáticas proferidas irritavam-na.
– O que é que tu disseste? – perguntou a velha ao índio, que manejava uma espátula com cuidado.
– “A pobreza audaciosa me impeliu” – respondeu o índio, sorrindo. – Um velhíssimo brocardo latino de Horácio, que parece ter sido escrita há mais de dois mil anos para esta situação em concreto. O poeta Horácio era um sábio, um visionário.
– E o chulo? – perguntou secamente a D. Ermelinda, a quem causava náuseas o conhecimento. Qualquer conhecimento.
– “Não coisas novas mas de uma nova maneira” – respondeu o índio, manejando a espátula sem cuidado, gostava da velha mas tinha nojo da sua tacanhez e ignorância.

Garfanho, daqui

Urbanismo sem urbanidade

26 agosto 2005

Carta secreta de Soror Mariana ao cavaleiro de Chamilly

Escreveu Soror Mariana na sua cela:

Ah ignaro e ignoto amor que me atormentas
E de pecados e luxúria meu catre enfeitas
Senhor! Tocar teu apetrecho…
Será que posso? Será que deixas?
É este desejo de ter vosso apetrecho nos meus dedos
Que me aquece as mãos e as noites
Sem vós tão frias.

 Rafal Bednarz

Resposta do cavaleiro de Chamilly:

Toca meu apetrecho. Toca que eu deixo.
Senhora de teus dedos flui magia
E meu apetrecho rejubila de alegria
Quando o tocas qual trompa divina, celestial.
Ah! Fora eu Camões e dava-te mais que um canto
Oferecia-te uma casa. Mais! Uma moradia.
Imagina-nos meu amor, no nosso canto
Tocando música todo o santo dia
Tuas mãos de fada e meu apetrecho
Em desbragada e completa sinfonia.

Foto: Rafal Bednarz

Quem dá um título a esta Imagem?!


(via Fishki)


Maquie: Cinto de CUstidade
Pedro Sousa: Aqui não entras tu!!
Jorge: Para no cu não entrar maleita, Pego na cueca de folheta.
São Rosas: Ao menos que fosse: Para não entrar malapata, Uso estas cuecas de lata.
Papagaio: Companheiro fora trancas na porta.
Dupont: "Plano de Contenção de Desperdícios do Governo PS"
CrazyPet: Se olharem bem, a folheta tem um vibrador agregado... colocado estrategicamente. Aquilo não é um resguardo... serve para segurar o dito vibrador no local correcto!

Agora... falo!

Caros vizinhos, será que nós aqui na Funda São temos a resposta a esta questão?
Existirá mesmo uma "cultura fálica" ?

Pelo direito à mão direita!

Um estudante de doutoramento em Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro pode ir para a prisão 2 a 4 anos por utilizar sem autorização a conta de e-mail de uma sua professora.
O estudante terá mandado desse endereço da professora mensagens e imagens lúbricas para outros professores.
E, além da prisão, poderá ter vedada a defesa da sua tese (cujo tema imagino ser «reacção química que transforma uma prof-foda numa auto-foda»).
Coitadito do Robson Pacheco Pereira [este apelido soa-me familiar]. Se fores para a prisão podes usar o meu e-mail, rapaz. Desde que mandes uma cópia de tudo também para mim.

Julgam que inventei?! Nem piçar. It's true.
Aliás, a ficha dele até está na net.

Sinto-me flutuar... hmmm...


Bóias fornecidas pelo J. Costa

Ai o raio da velha!

Casal de velhinhos sentados no banco do jardim. De repente a velhinha dá um valente estaladão na cara do velhinho e diz:
- Isto foi pelos 50 anos de sexo péssimo!
O velhinho fica pensativo. De repente dá uma bordoada na cara da velhinha e grita:
- Isto é por tu saberes a diferença!

(enviado por Lamatadora)

25 agosto 2005

Porquê falar de Pat Robertson neste blog?




Porque o mesmo Pat Robertson que pediu ao governo dos EUA para assassinar Hugo Chávez, presidente da Venezuela (e agora disse que não disse e pede desculpa), já assinou uma carta com a seguinte pérola:
"[O feminismo] é um movimento político socialista e anti-família que encoraja as mulheres a abandonar os seus maridos, a matar os seus filhos, a praticar bruxaria, a destruirem o capitalismo e a tornarem-se lésbicas".
O senhor Pat Robertson também disse depois que não disse...

Jogo - Mojo Master

A Axe criou um jogo para especialistas da sedução:

Mojo Master

Este jogo é para descarregar. Está disponível nesta página em duas versões (mais rápida - 36MB - e completa - 93.5MB).
Tens aqui uma apresentação (em flash).
Agora é que se vai ver quem sabe seduzir... hmmm...

Orgasmo de pixels




Sabes São, a intimidade que a net cria entre estranhos é extraordinária. Como se o monitor filtrasse as máscaras que usamos na vida quotidiana e intensificasse a partilha de nós próprios como dois náufragos isolados numa ilha.
Digo-te isto a propósito de que falar com ele no MSN se tornou uma rotina excitante. Na magia dos pixels, do cão da vizinha à preferência por restaurantes nepaleses, das últimas notícias até ao Teorema de Tales, ele até podia discorrer sobre as melhores formas de garantir boas canalizações que eu ficava ali, vidrada, a sentir a vibração de cada palavrinha sua. E a saborear cada frase que lhe digitava como se de um orgasmo se tratasse. O jogo das palavras prendia-nos ao monitores feitos rosto do outro.
A ponto de quando circulávamos pelo dia a dia em locais desprovidos de internet, gastarmos um ror de pacotes de mensagens a trocar impressões cúmplices sobre a zona e os nativos. E com o passar do tempo Sãozinha, acordava no duche a pensar nele e escolhia uma roupa leve e fresca, a tapar uma lingerie minúscula, para rapidamente me sentar à frente do computador qual adolecescente que se veste e corre para o primeiro encontro. Obviamente, mesmo sem carne palpável, ambos detínhamos as informações sobre as posições favoritas de cada um, ao pormenor de ele saber que dois dedos desenhando uma curva no meu pescoço me faziam contorcer e baixar as pálpebras, tal como a ele surtia o mesmo efeito uma língua dançando no pavilhão auricular até descer para sugar o lóbulo.

Até que há pouco tempo ele me confidenciou, junto com um daqueles virtuais beijos sonoros que inundam toda a janelinha, que nunca contara tanto do que sentia e do que vivera a ninguém. Nunca estivera tão à vontade com ninguém. E foi aí Sãozinha que algo estremeceu em mim. Será que nós, as pessoas, perdemos a capacidade de falar cara a cara?...

O NikonMan recomenda:


Mede sempre muito bem os teus actos

Não faças nada às cegas

24 agosto 2005

Heroína do Amor, por moStrenGo adamastoR

Antes de começar este post, uma ressalva: esqueçam tudo o que viram nos filmes DareDevil e Elektra, as mais execráveis adaptações de livros de Banda Desenhada, alguma vez feitas para cinema.

Vamos a isso, então. Elektra é uma das mais ambíguas personagens - se não a mais estranha - de toda a Marvel. Criada por Frank Miller em 1981 [sim, esse mesmo!], está envolta num passado obscuro de violação, pedofilia, adultério, incesto, assassinato e abandono que mais parece saída de um livro de BD francófona underground.

Personagem secundária, Elektra depressa ultrapassou o estatuto - primeiro como rival do Demolidor, depois como paixão proibida e aliada contra Kingpin e Bullseye - e acaba por preencher uma lacuna enorme das estórias aos quadradinhos: a falta de heroínas, mulheres que não fossem simples namoradas histéricas à procura de omoplatas espadaúdas [havia uma ou duas excepções, a que darei o destaque devido noutro post].

E que heroína [ou anti-heroína, para ser mais preciso]! Armada com dois sabres ninja, e vestida com um justíssimo uniforme de lona carmesim, Elektra daria tesão a um cego. E dava mesmo. O problema é que tinha um feitio terrível. Impossível resistir a tanto charme.

A estória que introduz os personagens referidos acima e mais alguns é editada no livro Dívida ao Diabo - de Greg Rucka e Salvador Larroca, disponível por 10 euros em mais uma iniciativa conjunta do jornal Blitz e da editora Devir.