02 outubro 2005

Anukete - por @lhos

“Uma mulher linda, lindíssima”. Era homem de poucas palavras, sabia-se rude, grosseiro. Linda, lindíssima, repetiu a si mesmo, como se o tremor no canto direito do lábio não fosse já suficiente para revelar a sua excitação. As mãos, no entanto, não o denunciavam, continuando lentamente a executar com precisão a sua tarefa. Devagar, muito devagar, a mão direita ia fazendo pequenos movimentos circulares, enquanto a esquerda a seguia, atenta, tomando mesmo aqui e ali o seu lugar. O corpo da mulher cheirava bem, e sua pele humedecida brilhava. Até a sua brancura era um louvor à sua beleza. O homem passeou o olhar pelo corpo nu e os seus olhos brilharam, pareceu mesmo ir chorar, mas não parou. Continuou até que todos os pontos do corpo dela tivessem experimentado a carícia milimétrica de uma toalhita perfumada. Depois, agarrou na caixa e deitou-a para o caixote do lixo, com raiva. Só então a vestiu, sem pressa.

@lhos
O lado dele da
imaginação dela, publicado no blog Alhos-e-bugalhos

01 outubro 2005

Saltar à Corda

A Matahary não se cansa?!

Gosto de pular contigo!
Deixa-me ser a tua corda.
Passar-te por baixo e
fazer-te saltar.
E depois num arco inventado
voar por cima e abraçar-te num beijo.
Com o teu corpo em tensão,
pulando em desejo.
E eu em corda tensa
em circulo fechado
amar-te ei num nó
de Amor apertado.

Charlie

fábula da rata, do rato, do gato e da dona - ode o OrCa


e assim destemido e guloso
lambareiro se foi o bichano à dona
mansarrão o cínico e prestimoso
roçagando na penugem mesmo à tona

"oh bichano, come aqui que eu já nem posso"
diz a diva, "que me sinto esbraseada!..."
e a rata lhe comeu sem alvoroço
apanhando a doce bicha descuidada

sorte teve o ratinho que escondeu
o corpinho no redondo mais estreito
assim comendo o que o gato não comeu
mas a dona ambos comendo a preceito

OrCa

Navegantes

De meu corpo faz teu barco,
iça a vela em mar aberto,
de meu cheiro a maresia que te embriaga a razão...
Navega-me ardentemente,
de meu falo faz teu leme,
de minha boca a rota a orientar sedução...
Flutua neste oceano com a tua boca voraz,
lança âncora no meu sexo
e nele permanece até me extraires gemidos de puro prazer...

Suga-me todos os poros,
acaricia-me o peito,
e com tua língua marota encharca-me de saliva,
qual onda a beijar a areia,
durante o entardecer....
Sacia essa tua sede,
nos líquidos das minhas águas,
sorve gulosamente cada gota cristalina...

Arrebata meus desejos,
sussurra em meus ouvidos,
palavras despudoradas,
diz que me amas e me queres,
diz que eu sou o teu tesão,
e tu quem me domina...
Como num porto seguro,
traz teu barco ao meu encontro,
usa as mãos como amarras
e aporta-te no meu eriçado
e viril membro,
fazendo-me delirar ao sentir o calor aconchegante da tua húmida
e voraz gruta...

Como as ondas quebradeiras,
Cavalga-me insanamente,
sobe e desce num repente,
como as marolas do mar...

No rebolar do teu corpo
sinto fortes contracções,
e com o mastro embebido inventamos posições,
como ilhas flutuantes
que nunca estão no lugar...
E como a visão singela,
do sol penetrando o mar,
nossos corpos encaixam-se na volúpia de amar...
Proa e popa unificadas,
num ritual prazeroso,
tua fenda preenchida por meu sexo volumoso,
e como a bruma das ondas
que a areia vem beijar,
nossos líquidos misturam-se no momento de gozar.....

Qual correnteza das águas que mais parecem espasmos,
nossos corpos regozijam em duradouros orgasmos.....
Navegantes nos tornamos,
sem rumo e sem direcção,
mútua entrega abençoada
glorificando a paixão....

José Cardoso

30 setembro 2005

Que caloraça!!


(via 7floor )

O Código da Estrada prevê isto?


Sexo pela rua

(a Mad garante que
não os atropelou)

Febre - por Anukis

Sentia o corpo todo dolorido. Costumava aguentar todas as doenças e maleitas de pé. Nunca tinha tempo para estar deitada a dormir quanto mais a ficar doente. Vivia sozinha e habituara-se a não precisar de ninguém. Mas, desta vez, tinha mesmo que se deitar. O termómetro marcava 40,5º e chegara a um nível que ela já não conseguia aguentar.
- Maldita gripe, resmungou para si mesma. Para o ano, tomo a vacina.
Não se lembra bem como nem quando, entrou em delírio. Tinha tomado uns medicamentos quaisquer que a médica tinha recomendado. A febre ainda não baixara e ela não conseguia mexer-se nem sequer raciocinar claramente. Tinha apenas em cima do corpo o lençol e mesmo assim sentia-se deitada em cima dum lago.
- Tenho que mudar de roupa ou meter-me na banheira com água morna para baixar a febre, pensou já em delírio.
Não conseguia levantar-se e adormeceu dum sono povoado de sensações estranhas. Havia uma mão que lhe tirou os cabelos colados ao rosto. Passava-lhe algo de húmido na testa e no pescoço. Hummm que sensação refrescante. A mão, talvez duas, não se lembrava bem, acariciavam-lhe o corpo. Pareciam orvalho acabadinho de cair de madrugada. Começou a desejar que aquelas mãos não parassem, que a envolvessem toda, que as mãos tivessem corpo, boca e língua, que pertencessem a um homem que a desejasse de igual forma. Só queria que não parassem. Tornar-se-ia flor para ele: o clítoris em orquídea só para ele.
As mãos pareciam ouvir os seus pensamentos. Das mãos nasceram uma boca que lhe murmurava palavras de amor, uma língua que a deixava doida e um corpo que era pele a roçar a pele dela. Afinal já não amaldiçoava a gripe. Há muito que tinha esquecido estas sensações e agora recordava o quanto eram deliciosas.
- Hummm mãos, boca, língua, pele. Vem até mim, disse ela em súplica.
E foi ouvida: sensações, prazer, deleite, êxtase...
Acordou no dia seguinte, já sem febre e com o corpo relaxado e cheiroso, apesar da febre.
- Tenho que parar de fantasiar - pensou ela.
E virou-se para a mesinha de cabeceira para beber um pouco de água. Ficou atónita. Havia uma caixa de dodots que nunca tinha visto antes. Como tinham lá ido parar?...

Anukis

A funda São foi à praça


O Bruno foi lá depois e
ficou a chuchar pelo dedo

29 setembro 2005

Candeeiro Original


«A Noiva» - de Joana Vasconcelos
(Via Jumento )

espera

foto de Massimo Bernardinello


... perco-me no meu corpo
à espera do teu...

Da noite



Ela trabalhava numa casa de alterne.
Ele alternava as noites entre casa e casas de putas.
Ela vestia sempre preto. Ele achava o preto deslocado.
Uma noite sentou-se na mesa dela. Ofereceu-lhe uma bebida e um sorriso.
Ela aceitou a bebida. Hesitou no sorriso.
Aceitou.

Procurou-lhe os olhos. Ela baixou-os. Ele gostou.
Ele não falou. Ela nada disse.
Olhava-a.
Ele ficou na mesa dela toda a noite. Lendo, interpretando o silêncio.
Os gestos púdicos, o negro da roupa.
O recato numa casa de putas.

No fim da noite ela saiu sem lhe perguntar se a queria.
Simplesmente, levantou-se e saiu.
Ele voltou na noite seguinte e todas as noites.
A noite dele a mesa dela.
O dia dele a espera da noite. A espera dela.

Uma noite ele estendeu-lhe a mão. Saíram.
Na rua falou dele. Falou dela.
Falou na casa que era dele onde uma estranha habitava. Não ela.
Falou no lugar que era o dela. Ela não pertencia ao lugar.
Não era o lugar dela.

Tão diferente o preto que ela vestia da cor do lugar.
Tão diferente o silêncio dela dos sorrisos falsos, das palavras abundantes e ocas.
Tão diferente o recato dela, o pudor nos olhos baixos, da luxúria, da oferta do corpo no lugar.
Ela apertou-lhe a mão como se só ele entendesse.
Ele sentiu-se único e responsável.
Ela fez amor com ele como se o amasse.
Ele fez amor com ela amando-a.

Ele deixou de alternar entre casa e casas de putas.
A noite, o bar, a mesa dela, casa única.

Uma noite ele assumiu perdas e derrotas, impotência e exageros.
Disse-lhe: - Vem viver comigo.
Ela apertou-lhe a mão.

Nessa noite não pegou, como todas as outras noites, no dinheiro que ele pousava ao lado da mala dela.
Como se não existisse compra. Como se nunca tivesse existido venda.
Fez amor com ele como se o amasse.
Ele fez amor com ela amando-a. Chamando-a sua.

No dia seguinte esperou-a no quarto feio e frio a que chamava agora lar.
Ela não chegou.
Esperou-a mais um dia e uma noite. No outro lado do telefone o silêncio.

Procurou-a.
A mesma mesa. O mesmo vestido preto. O mesmo recato. Outro homem.
Agarrou-a por um braço. Gritou-lhe dor e amor. Declarou-se perdido, a culpa dela.

Alguém o expulsou da noite, do bar, da mesa, da vida dela.
Alguém lhe disse rindo:
- Ela é a melhor puta da casa.

Foto: Marta Laura

Dadores de esperma precisam-se...

... e investidores em esperma também.
É um projecto artístico do francês Philippe Meste, que se propõe reunir um metro cúbico de esperma num cubo transparente e refrigerado.
Como obra de arte que se pretende universal, todos podem ser dadores (sim, si, a menina de boca cheia também). E podes pedir o teu kit de dador.
Ao mesmo tempo, podes comprar acções ao inseminador... digo, portador, que garantirão uma parte dos lucros da venda da... obra de arte.
Tens tudo explicadinho aqui:

SpermCube

A Rosa da Pastelaria - por Charlie

(continuação dos Cobertores do Ti Ferro)
Esperou que eu saísse com o meu sorriso enigmático cheio de pensamentos sobre o Ti Ferro.
Desejei do fundo do coração que ele tivesse encontrado aquele grande amor que lhe correra mal e que lhe marcara toda a vida.
Despedi-me do idoso e saí.
Lá dentro da pastelaria, a proprietária voltara ao espaço destinado ao público e olhava para mim, que me afastava devagar atravessando a rua.
Rosa, assim era o nome dela, deixou os pensamentos vaguear pelos anos decorridos até ao dia em que entrara pela primeira vez na drogaria do António Ferro. Ia comprar apenas um pouco de palha de aço. Tinham acabado de montar a pastelaria e queria tudo num brinco. Umas persistentes manchas nuns azulejos junto à casa de banho teriam de ser retiradas a bem ou a mal.
Entrou na drogaria, descendo um degrau. Naquela zona de Lisboa de declives acentuados é frequente parte das casas estarem abaixo do nível do solo. Encarou o António pela primeira vez, que a mirou também. Sem dizerem quase nada ele aproximou-se e tocou-lhe na face com as costas da mão. Ela sentiu-se invadida por uma sensação que nunca havia experimentado antes. Era casada havia três anos e jamais sentira com o marido o que de repente lhe estava a acontecer. O coração a acelerar, a respiração em ritmo curto e a pele em erupção.
Sem desviar o olhar disse-lhe ao que vinha e ele entregou-lhe o pedido. Olhou mais uma vez para ela, vendo como o olhar não se desviava. Abriu a gaveta, e deu-lhe a chave. Disse-lhe:
- Depois das seis horas. Essa chave é a das traseiras. Onde está uma tabuleta a dizer bar.
Eram quase sete quando o António sentiu a chave na porta. Ela abriu-a e ficou olhando para o interior. Hesitando entre o passo que queria dar e a vontade da fuga daquela loucura.
António saiu ao seu encontro e puxou-a para dentro. De imediato apertou-a nos braços e beijou-a. Ela rendeu-se completamente e correspondeu. Os corpos num abraço apertado e as línguas em delírio total como se quisessem fundir-se num só corpo, numa só alma.
O que teria aquele homem para tê-la atraído assim? Num rebate de consciência veio-lhe a ideia do marido à mente, da sua dedicação... mas isto?... Isto era a aventura pura. Tinha o corpo a ferver. Ele esperou um pouco e perguntou-lhe baixinho e pausadamente o que queria tomar.
Perante a hesitação dela, ele avançou no lance e preparou dois cocktails onde um dos ingredientes era um pouco de água da torneira. Molhou os lábios, era doce e ao mesmo tempo de gosto férreo forte. Bebeu mais um pouco e sentiu o calor do álcool descer lentamente até ao estômago, invadi-la e espalhar-se num desejo que lhe tomava todo o ser. Os olhos de ambos
irradiavam a loucura dos corpos em efervescência.
Num salto subiram as escadas e atiraram-se sobre a cama. As mãos navegando no Tejo dos corpos, as línguas numa dança louca, esvoaçando nos céus das bocas no meio das gaivotas que gritavam em triunfo sobre a grande clarabóia.
Nem deram pelos instantes em que os ventos da paixão lhes levaram as roupas; velas dos mastros que se desprendem sob a fúria das tempestades.
Penetrou-a lentamente, apesar dos corpos pedirem tudo, enquanto lhe mordiscava e lambia os peitos. Sentiu todo o seu corpo estremecer de prazer.
Ela nem podia acreditar no que estava a fazer. Filha de pequenos comerciantes, moradora na Praça da Figueira, escapara incólume aos piropos e brejeirices do Terreiro do Trigo, Campo das Cebolas, Chão do Loureiro e demais sítios onde os triângulos amorosos competiam com as aves ribeirinhas por um lugar onde pousar no mastro de qualquer embarcação de breve estadia.
Só conhecera o homem com quem casara.
O namoro com o seu marido, fora de sete anos. Coisa séria. Um beijo, coisa insípida, só ao fim de meses, e uma breve estreia dos prazeres da carne só umas semanas antes do casamento.
Mas agora, estava em pleno vulcão prestes a explodir. Com um homem dentro dela que mal conhecia. Presa por um sentimento que nem pensara ser possível existir. Sentiu de repente que vivera toda a sua vida rodeada dum cenário de papel e que bastara um breve gesto para esfaquear a ilusão e ver o mundo com todas as cores que estavam para lá da sua redoma.
Penetrou-a mais até sentir-se todo dentro dela. Empurrou-se mais para dentro e ela acompanhou-o apertando mais o corpo, com os olhos fechados, abertos para o vislumbre do Paraíso que sentia chegar a todo instante.
Ele fechou os olhos, repetiu a penetração, rodou o corpo e perante ele surgiu o rosto do grande amor da sua vida que ficara perdida numa partida fera pregada pelo destino. Duas lágrimas correram-lhe pela face e salgaram os lábios dela, dando-lhe o sabor ao mar imenso que estava vivendo, e onde ele navio em tempestade era, sem que ela soubesse, uma alma em naufrágio
pelo amor perdido.
Num estremecimento mútuo, todo o rio se precipitou numa enxurrada naquele quarto enquanto o céu caía da clarabóia para dentro daquelas duas almas perdidas no abraço breve à eternidade...
Charlie