Apressadamente, e desviando os olhos dela que me fitava intensamente, dirigi-me à sacristia, desejando subir as escadas interiores que davam para o primeiro andar onde tinha os meus modestos aposentos. Pouco mais que o essencial, entre os quais uma estante recheada de livros que sempre foram a minha paixão.
Após o sucedido, de ter cometido o pecado imperdoável de ter tido uma erecção quando estava prestes a celebrar a missa seguida da masturbação mesmo ali ao lado na pequena casa de banho da sacristia, precisava em absoluto de encontrar-me só perante mim e Deus e questionar o acontecido.
Pedir-lhe perdão com toda a intensidade e verdade interior. Passar parte da manhã em leituras e oração. Depois, visitar alguns idosos, as suas chagas e misérias, cumprindo a missão em penitência, com todo a entrega, guiado por Deus e sua infinita misericórdia.
Apesar do sucedido me flagelar sentia como entendia agora os pecadores. Lembrava-me vagamente do meu Mestre: - Só um pecador pode entender o inferno que há na alma de outro pecador… -
Vinha-me ao cimo o verdadeiro entendimento do que me tinha sido confidenciado por alguns paroquianos durante as confissões. Aquelas paroquianas e paroquianos que inicialmente me haviam feito crescer a revolta perante a sua voluvelidade, incapazes de enfrentar e vencer as tentações da carne. A paixão a devorar a alma, as traições e infidelidades.
Como agora os entendia....
No mesmo instante em que punha a mão na alavanca do velho e desengonçado puxador da porta da sacristia, senti uma mão no ombro.
- Senhor Padre…Preciso falar consigo. É muito importante…-
Fiquei parado sem resposta. De repente, todas as minhas intenções, toda a minha boa vontade se haviam fulminado.
Evaporado sem deixar rasto. Senti como de repente, um formigueiro se instalava no estômago e o meu pénis avolumava a caminho duma nova erecção empurrando a roupa interior..
- Oh meu Deus! – Suspirei em silêncio.
Caí em mim. Fechei os olhos e lembrei-me das várias formas que o Demo pode assumir, e mentalmente repeti as palavras aprendidas no Seminário tantas vezes ditas em voz alta até fazerem parte de mim. Voltei-me para ela ainda de olhos fechados, na certeza dos meus propósitos. Seria firme como era exigido a uma alma que se entrega toda à obra de Deus.
Abri os olhos. À minha frente ela mirava-me de cabeça ligeiramente inclinada para a frente olhando-me de baixo para cima com a doçura duma criança no olhar. Mordeu ligeiramente os lábios, depois passou a ponta da língua para os humedecer e disse, em tom baixo recheado de doçura:
- Senhor Padre. Quero ser ouvida em confissão…-
Esperei um pouco, respirei muito lentamente em acto de disciplina interior.
- Esperemos um pouco para que saiam os fiéis e depois vamos ali para o confessionário. – Disse-lhe eu, satisfeito por ter conseguido passar o momento em controlo de mim mesmo.
Caminhámos em silêncio até à porta e depois a par e já com a nave central quase vazia, convidei-a a sentar-se numa cadeira à minha frente, numa ala iluminada mesmo defronte à outra porta que dava para a sacristia e junto à qual estava o pequeno recanto, recatado e secreto onde os pecados que massacram as almas são confiados em confissão ao ministro de Deus.
Olhei para cima, para a luz que se filtrava pelos vitrais enchendo o espaço de tons e brilhos, e reparei pelo canto do olho como ela me mirava. Sentia-lhe o palpitar do mesmo coração que batia no meu peito, e que eu fingia agora não sentir. Toda ela era uma jóia que deslumbrava a própria luz com que as cores dos vitrais se atreviam a tingir-lhe a pele, concentrando-se em expoente, no brilho que irradiava da humidade dos seus lábios.
Atrevi-me a olhar directamente para ela e deixei escapar, num sorriso, toda a alegria que sentia por tê-la junto a mim. Ela sorriu também e no meu peito uma agulha atravessou-me a alma fazendo o coração disparar e secar momentaneamente a saliva. Senti contra a minha perna o membro viril a crescer tomando a rigidez completa e a humedecer-se. Perdi-me no seu decote e deixei olhar escorregar-lhe pela cintura do meu desejo acabando a viagem no mergulho um palmo mais abaixo. Nesse sonho que fora o meu pesadelo da noite anterior.
Meu Deus! Isto não podia ser pecado! E se fosse, pecado, que doçura, que encanto, que Paraíso meu Deus. Que mulher esta! Tão boa, que só me apetecia comê-la mesmo ali, sem mais nada que não fosse o simples levantar da saia leve por onde deixava escapar todo o seu mundo interior.
Um ruído vindo da porta da sacristia voltou a pôr-me os pés no chão.
Era o sacristão a terminar os seus misteres. Fazendo os barulhos com a frieza da rotina, arrancando-me da magia do momento que estivera a viver.
Dirigiu-se me com duas ou três palavras sobre pequenas coisas de gestão corrente e depois retirou-se em passo curto, saindo pela porta principal.
Levantei-me e olhámos um para o outro, o seu olhar intenso atravessando o meu mar de desejos.
- Vamos, então? – disse-lhe eu apontando levemente para o confessionário enquanto me atrevi a pegar-lhe no braço, ajudando-a a levantar-se e encaminhando-a na sua direcção.