Estive ali hoje.
Durante anos a fio, sempre que ia com o meu ex para o Algarve, já quase no fim da viagem, via aquela placa na estrada a indicar a localidade. Lembro-me como ficava olhando para o vago casario a poucas centenas de metros da via rápida e que se ia diluindo na paisagem à medida que o carro avançava.
Das primeiras vezes, recém casada com o brilho da aventura ainda no olhar, pedia ao meu ex-marido para desviarmo-nos da rota e entrarmos naquele sítio, mais que não fosse só para ver como era. Mas ele respondia sempre que não tinha já tempo, que estava atrasado para o check-in do hotel, que para a próxima vez logo passariam por lá, e por aí fora...
Os anos seguiram-se, as férias passadas metade do tempo sozinha no hotel enquanto ele andava sabe-se lá por onde e por onde muito bem queria. As tardes na praia a ler uma revista qualquer a fingir divertir-me com o meu aborrecimento.
Na volta para Lisboa, perguntava novamente se podíamos desviar nem que fosse por cinco minutos, ao que ele respondia com a monotonia do roncar do carro a passar velozmente pelo silêncio. Até eu entender que o meu lugar era sempre o do adiamento, do amanhã, do agora não, do mais logo, do um dia destes, do logo se vê, do da próxima vez é que será e que nunca mais era...
Deixei de perguntar, fiz-me à rotina, limitei-me a sonhar de todas as vezes que por lá passávamos. A sonhar que nos restantes dias da minha vida ainda poderia ter sonhos, até ao dia em que mesmo os sonhos se transformaram em pesadelos e sobreveio o divórcio.
Hoje, desviei-me da via rápida e senti como se estivesse a atravessar o portal da liberdade. Estacionei o carro e andei a pé por aquelas ruas provavelmente iguais a outras em qualquer parte do Algarve, mas que me encheram de uma alegria indescritível.
Andei devagar, olhei para as casas, para as pedras do chão, para a areia que se acumula em camadas finas junto aos lancis dos passeios, para as pessoas. Olhei para tudo como uma recém nascida com os olhos rasos de novidade, vendo o sol em cada rosto que se cruzava comigo.
Quase em frente a um café olhei para ele. Tinha bom aspecto, tranquilo e trocámos um sorriso. Tinha um olhar firme e franco, não desviando-se do meu. Andei uns passos na sua direcção e já em frente ao estabelecimento perguntei-lhe tolamente onde poderia tomar uma bica. Sorriu e entrou comigo. Sentámo-nos, passámos dez segundos pelas trivialidades e lugares comuns e após uma breve pausa, falei com ele como se de repente o conhecesse desde sempre. Disse-lhe que o mais importante para mim era estar agora naquele sítio a falar abertamente com um estranho, que nem sequer seria importante ir para a cama com ele, apenas e só o facto de estar ali pela primeira vez em tantos anos era uma conquista. Esperei um pouco, registei a sua reacção calma e continuei. Contei-lhe a minha vida de casada, as viagens, os meus sonhos, as frustrações, os anos perdidos e a angústia que me sobrevinha de saber o tempo passado irrecuperável. De como nos últimos anos de casada, me sentira com se estivesse sido enterrada viva. Disse-lhe como agora recuperada após tantos anos de ter sido posta em último lugar na lista das prioridades do meu ex, e embora divorciada há mais dum ano, este sítio representava contudo algo libertador e mágico.
Ele ouviu-me em silêncio, levantou-se e voltou a sentar-se. Pegou-me no braço, olhou-me bem nos olhos e convidou-me para almoçar.
“Sem segundas intenções” frisou bem. “Apenas almoçar e conversar. Conheço um sítio encantador e sossegado, não é muito longe daqui”.
Almoçámos, conversámos, bebemos e rimos e acabámos por passar a tarde em casa dele, uma vivenda um pouco mais para o interior onde ele vivia só, e onde desfrutei todo o sabor que pode ter a liberdade de fazer amor sem compromissos maiores do que a posse e partilha plena daqueles momentos que trago de volta para Lisboa, em que todo o prazer do mundo foi nosso...
Margarida
foto daqui
03 abril 2007
Auto-beijos
A Fresquinha sugere-nos esta maravilhosa e tão estranha série de fodografias de Pupsam - David Puel e Thomas Libé, com pessoas que se beijam a si próprias na boca:
SelfKiss
SelfKiss
02 abril 2007
Meninos, vamos ao sexo...
A propósito de um recente texto de Anani sobre este tema e a pedido de várias famílias, segue dissertação sexual acerca do meu entendimento da coisa. Não que ele seja especialmente relevante. Relevante, sim, é a coisa. A própria. O meu entendimento é, apenas, uma forma de a ver. Vejam lá as vossas…
O sexo. Falando da matéria em si (e em mim, que o solitário é menos interessante, ainda que não despiciendo...), diria que sexo... não sei se é, mas parece-me bem que sim.
O sexo. Falando da matéria em si (e em mim, que o solitário é menos interessante, ainda que não despiciendo...), diria que sexo... não sei se é, mas parece-me bem que sim.
Quando tentamos catalogá-lo, por mais profunda que seja a abordagem filosófica ou a matéria-prima a considerar, começamos logo a reduzi-lo e a perverter a coisa.
O "sexo" é a manifestação sublime do amor à Vida. É o que ao corpo apetece em contraponto ao que a evolução da nossa mente socializada determina (e condiciona).
Mas o primado vem-nos do sensorial. E daí, meus caros, não há pecado que valha nem credo religioso (ou outro) que anule. Podem inibir, claro. Mas aquilo que se espalha pelo corpo, sai-nos depois por vias ínvias e inadequadas - chamam-lhes, para aí, recalcamentos...
Milhares (milhões) de anos de evolução colocaram no centro do nosso corpo o pomo do nosso contentamento. E mesmo que toda a periferia se harmonize em sensualidade, o centro dos acontecimentos está... no meio. Exactamente, aí onde dizem residir a virtude. O que é bem verdade, pois nada mais virtuoso do que uma actividade sexual bem cumprida!
A mente liberta-se. Os pulmões expandem-se. O sorriso enche a alma. O ser humano humaniza-se e fica, assim, mais próximo do seu semelhante. Já pensaram nesse benefício sexual?
O sexo - isto é, a actividade humana derivada do impulso sexual - será, pois, a manifestação superior da evolução do ser humano enquanto indivíduo pensante. Qual procriação, qual treta!... A procriação é um, apenas um, dos incontáveis benefícios que a actividade sexual nos traz. Nem melhor, nem pior, nem coisa nenhuma outra. Apenas um dos efeitos, a par de uma imensidão de outros, que nos enriquecem a arte de viver.
Destes, outros dos efeitos é o da criatividade artística (ou outra). A pulsão criativa anda muito associada ao “antes” ou ao “depois” da actividade sexual. É a mola que despoleta ou que empurra ao acto criativo.
A actividade sexual é, por fim, o "porque sim" das nossas vidas. Porque viver apetece, é uma coisa boa, que tendemos a preencher com coisas boas ou, dito de outra forma, que nos apetecem e sabem bem e queremo-las tão só por isso mesmo...
É o estadio superior da liberdade individual do ser humano! Por isso é que sempre houve tanto poder religioso e político a tudo fazer para condicionar o ser humano nesta área e, assim, criar condições para as suas estratégias de poder.
Por isso, também e por oposição, qualquer movimento social rebelde ao “status” desenrola sempre uma qualquer bandeira sexual, significativa e indiciadora da contestação, da irreverência, da subversão em relação aos valores estabelecidos.
E, ao correr da pena, não me tiram da cabeça que esta história da SIDA teve (e tem) nela "mãozinha da reaça", deixando-nos a todos reféns de um pavor incontrolável... e que pode chegar-nos, para cúmulo de beatice, por quem nos está mais próximo. Já atentaram nos efeitos funestos de tal atitude na arte de bem (con)viver com o nosso semelhante?
Será, se quiserem, mania da conspiração global, mas cada um tem direito às suas paranóias. Ou não?... Na verdade, um indivíduo sexualmente satisfeito nem sente ímpetos de cólera que o levem a desvarios guerreiros. Tudo se arredonda na vida, para o indivíduo sexualmente satisfeito. E essa bonomia é contagiante... A dificuldade será atingir esse estadio superior, generalizado a tanto ser humano.
Mas que há-de ser porreiro, ah isso não tenho dúvidas nenhumas! Vejam lá o exemplo dos nossos primos bonobos – quanta arte na resolução dos conflitos.
Viva o sexo, pois, para que vivamos nós!
Fábio
Eu sei que os anos vão passando e que as oportunidades vão fugindo. Miúdas há-as por aí de toda a espécie e o apelo é forte – tivesse eu vinte anos e já tinha mandado gravar uma tirinha de línguas de fogo em tons de azul ali mesmo acima das nádegas para poder usar calcinhas de cintura descida. Assim, tenho de esperar que a dieta da seiva de pinheiro faça efeito para vencer os cinco quilos que se acumularam nas coxas. Resistência heróica a dos quilos, diria mesmo; já ando a ficar sem paciência para resistir às coisitas doces que me apoquentam o serão.
É por isso que, mesmo valorizando a literatura, a poesia, a escultura contemporânea e os blogs, que uma mulher deve ser culta, tenho uma feroz preocupação com a minha imagem. Gabinete de estética, massagens, mesoterapias, dietas férreas e caminhadas pelos circuitos de manutenção de todos os parques da cidade, roubam horas à minha vida e cobertura ao meu cartão; mas esta parte não é para desenvolver que o tempo vai mau para histórias deprimentes.
É por tudo isto que não perdoo ao Fábio ter atirado com aquela frase no final da noite, depois de o ter levado a jantar e de termos dançado, em ambiente ameno, até de madrugada.
É claro que os seus vinte e seis anos lhe permitem uma resistência que eu já não tenho, mas de aparência, disse ele, nada a apontar.
Então se não havia nada a apontar por que me faz ainda eco a frasezinha com que se despediu pela manhã, enquanto apertava o botão das jeans junto ao corpinho escultural que deus lhe deu e se preparava para voltar a casa dos pais? “Deve ser da idade” – disse ele.
Meu amigo, o blusão de couro vem já recambiado para a origem. E o resto vamos ver.
Ó se vamos!
CISTERNA da Gotinha
Atenção aos bonecos que saem da pardaloca.
A São Rosas comprou um aspersor novo para o jardim do Blog.
Palavras cruzadas de sexo baseadas na vida de Bill Clinton.
Cadeira erótico-confortável.
Noiva sortuda!
01 abril 2007
Além mar
O mar vivo na ponta de Sagres não dava para andar ali à vela mas que lhe importava isso, agora que conhecera aquele pescador de Lagos, com o rosto tisnado pelo sol mas senhor de uma pele jovem e macia pela qual a sua língua aguava?
Aqueles glúteos eram o império que atraía e que era forçoso agarrar com ambas as mãos, espalmando-as para puxar à sua face o padrão das descobertas e dar azo ao prazer do céu da boca. E quando lhe sentia o corpo a ajoelhá-lo no chão e a empurrar-lhe as nádegas com as coxas em vagas altaneiras, toda a linha do horizonte se tornava uma praia paradisíaca.
Mais a mais que desde que contratara a bom preço escudeiros e homens de várias nações para irem rentinhos à costa à cata do Preste João das Índias, que bem lhe tinham ficado de emenda os balanços e os vómitos da vez que foi a Ceuta e depois a Tânger, tinha todo o tempo do mundo para conviver com os rapazes algarvios que eram todos bem apessoados e seguros e despachados no manejo dos mastros, como se fossem espadas como na tropa.
Não fosse estarem sempre a chamá-lo à corte para o retrato de família e seria senhor absoluto da sua vida como num castelo onde todos se prestavam a servi-lo com delícias. Embora tivesse de convir que aquele chapeirão de abas largas com aquela enorme e voluptuosa fita pendurada lhe dava um ar de verdadeiro conquistador, habituado ao exotismo e calores medievais das praças marroquinas.
(esta é uma história ficcionada e qualquer semelhança com a realidade pode ser pura coincidência ou talvez não)
Aqueles glúteos eram o império que atraía e que era forçoso agarrar com ambas as mãos, espalmando-as para puxar à sua face o padrão das descobertas e dar azo ao prazer do céu da boca. E quando lhe sentia o corpo a ajoelhá-lo no chão e a empurrar-lhe as nádegas com as coxas em vagas altaneiras, toda a linha do horizonte se tornava uma praia paradisíaca.
Mais a mais que desde que contratara a bom preço escudeiros e homens de várias nações para irem rentinhos à costa à cata do Preste João das Índias, que bem lhe tinham ficado de emenda os balanços e os vómitos da vez que foi a Ceuta e depois a Tânger, tinha todo o tempo do mundo para conviver com os rapazes algarvios que eram todos bem apessoados e seguros e despachados no manejo dos mastros, como se fossem espadas como na tropa.
Não fosse estarem sempre a chamá-lo à corte para o retrato de família e seria senhor absoluto da sua vida como num castelo onde todos se prestavam a servi-lo com delícias. Embora tivesse de convir que aquele chapeirão de abas largas com aquela enorme e voluptuosa fita pendurada lhe dava um ar de verdadeiro conquistador, habituado ao exotismo e calores medievais das praças marroquinas.
(esta é uma história ficcionada e qualquer semelhança com a realidade pode ser pura coincidência ou talvez não)
Maria Árvore
blog Chez Maria
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O OrCa nem deixa a tinta do post secar, que ode logo.
para que Preste João
tem de haver nele um senão
que não seja assim tão bom
ou seja bom porque não
presta João por ser bom
e por ter ao pendurão
tripeça de ocasião
que dá ao mar outro tom
mas falta nessa tripeça
a terça parte preversa
pois se fosse outra a conversa
divisaria a cabeça
talvez este João preste
muito mais do que nele viste
por fulgor que o vento empreste
singra-lhe a cabeça em riste..."
31 março 2007
A natureza do sexo
O sexo é natural, o que não quer dizer mais do que: faz parte da natureza. Não significa que é inato nem significa que é desprovido de uma carga social que teima em torná-lo algo... problemático, polémico, controverso...
Para podermos usufruir de tudo o que fazemos com o nosso sexo e o do parceiro ou da parceira, é preciso aprendermos, ultrapassarmos os preconceitos — por exemplo, e escolho um mesmo estapafúrdio, de que a masturbação torna o clitóris defeituoso e prejudica os orgasmos em adulta (algo que cheguei a ler em adolescente!) — e descontruirmos algumas das bases da educação social e da moral vigente.
Comer também é natural, no sentido de que faz parte da vida e precisamos desse acto para sobrevivermos. Tiveram os nossos pais, normalmente, de educar e preparar todo o nosso aparelho digestivo, desde bebés, para comermos os alimentos que vão sendo introduzidos progressivamente desde que não temos dentes, até os termos, numa sequência também lógica da maior para a menor tolerância (acompanhando o desenvolvimento do dito aparelho).
As necessidades fisiológicas, como por exemplo fazer xixi, são absolutamente naturais e necessárias, nascemos com capacidade inata para as realizarmos, mas ensinam-nos a controlar os músculos responsáveis pela vontade de as resolver... e assim passamos das fraldas ao bacio... e por aí diante.
O mesmo é com o sexo, mas aqui parece que tudo é feito ao contrário, o que se me afigura digno de reflexão e questionamento...
Vamos sendo educados para considerar que o sexo só faz sentido numa relação a dois, onde haja amor e onde deve existir só de forma exclusiva. E que os homens, diferentemente das mulheres, terão "necessidades diferentes", normalmente acrescentando um "pronto", sem qualquer acrescento de argumentação (ideia com a qual não concordo e que dará origem a um texto autónomo). Esse tipo de socialização/educação anda de mãos dadas com os tabús e origina a que eu tenha de me esconder por detrás deste nick, porque ainda que exista gente interessante, a maioria das pessoas é profundamente conservadora (e, por profundamente, entendo isso mesmo, que o conservadorismo poderá não se notar logo à superfície e estar lá...)
E, por vezes, pergunto-me porque é que é assim. Pergunto-o a mim e aos outros. Porque é que qualquer pessoa é a encarnação (literal) de o que originariamente começou por ser um acto sexual, com ou sem amor, fruto de uma relação ou de um caso, de um encontro esporádico ou de um entre muitos, e ainda há tanto pudor acerca do que não é mais simples porque não se quer, do que é uma brincadeira entre adultos?
Eu valorizo MUITO o sexo; por isso considero-o uma brincadeira séria. Não o faço por dá cá aquela palha nem com qualquer um que me apareça à frente. Até porque não preciso só do corpo para ter relações satisfatórias, preciso de estar bem comigo e com a minha cabeça, preciso do cérebro — o que de mais erógeno tenho no corpo — e de me entregar a quem considero que me merece. Talvez por isso o encare como uma espécie de arte... Gosto de investir numa pessoa e, assim como em miúda tinha "melhores amigas", em adulta sigo o mesmo princípio de ter "o melhor amante", ou a pessoa a quem me dedico em exclusivo — ou quase, se não se der o caso de ter uma relação amorosa e exclusiva e de amor, etc. Mas tenho de aceitar que, desde que as pessoas se protejam de doenças, quer homens, quer mulheres, devem fazer aquilo que bem lhes apeteça e lhes dê na real gana. Porque, bolas, sexo e reprodução estão separados desde o momento em que é comum comprarem-se preservativos, pílulas, espermicidas, DIU, anéis hormonais e o rol de métodos contraceptivos que actualmente — e há muito — existem.
Sexo deve ser igual a prazer e nem sempre é igual a amor. A partir daí, porque é que a mulher que brinca com um homem hoje e daqui a dois ou três dias com outro, há-de ser uma "puta" (sentido pejorativo) e ao homem ninguém liga puto se ele hoje andar com fulana e amanhã com sicrana? E, inclusivamente, fazem-se anúncios publicitários em que se vangloria que um homem esteja com duas mulheres na mesma cama... e tal é visto de forma divertida...
E eu ainda ia falar da hipocrisia do dia da mulher... mas já fica demais neste texto...
Para podermos usufruir de tudo o que fazemos com o nosso sexo e o do parceiro ou da parceira, é preciso aprendermos, ultrapassarmos os preconceitos — por exemplo, e escolho um mesmo estapafúrdio, de que a masturbação torna o clitóris defeituoso e prejudica os orgasmos em adulta (algo que cheguei a ler em adolescente!) — e descontruirmos algumas das bases da educação social e da moral vigente.
Comer também é natural, no sentido de que faz parte da vida e precisamos desse acto para sobrevivermos. Tiveram os nossos pais, normalmente, de educar e preparar todo o nosso aparelho digestivo, desde bebés, para comermos os alimentos que vão sendo introduzidos progressivamente desde que não temos dentes, até os termos, numa sequência também lógica da maior para a menor tolerância (acompanhando o desenvolvimento do dito aparelho).
As necessidades fisiológicas, como por exemplo fazer xixi, são absolutamente naturais e necessárias, nascemos com capacidade inata para as realizarmos, mas ensinam-nos a controlar os músculos responsáveis pela vontade de as resolver... e assim passamos das fraldas ao bacio... e por aí diante.
O mesmo é com o sexo, mas aqui parece que tudo é feito ao contrário, o que se me afigura digno de reflexão e questionamento...
Vamos sendo educados para considerar que o sexo só faz sentido numa relação a dois, onde haja amor e onde deve existir só de forma exclusiva. E que os homens, diferentemente das mulheres, terão "necessidades diferentes", normalmente acrescentando um "pronto", sem qualquer acrescento de argumentação (ideia com a qual não concordo e que dará origem a um texto autónomo). Esse tipo de socialização/educação anda de mãos dadas com os tabús e origina a que eu tenha de me esconder por detrás deste nick, porque ainda que exista gente interessante, a maioria das pessoas é profundamente conservadora (e, por profundamente, entendo isso mesmo, que o conservadorismo poderá não se notar logo à superfície e estar lá...)
E, por vezes, pergunto-me porque é que é assim. Pergunto-o a mim e aos outros. Porque é que qualquer pessoa é a encarnação (literal) de o que originariamente começou por ser um acto sexual, com ou sem amor, fruto de uma relação ou de um caso, de um encontro esporádico ou de um entre muitos, e ainda há tanto pudor acerca do que não é mais simples porque não se quer, do que é uma brincadeira entre adultos?
Eu valorizo MUITO o sexo; por isso considero-o uma brincadeira séria. Não o faço por dá cá aquela palha nem com qualquer um que me apareça à frente. Até porque não preciso só do corpo para ter relações satisfatórias, preciso de estar bem comigo e com a minha cabeça, preciso do cérebro — o que de mais erógeno tenho no corpo — e de me entregar a quem considero que me merece. Talvez por isso o encare como uma espécie de arte... Gosto de investir numa pessoa e, assim como em miúda tinha "melhores amigas", em adulta sigo o mesmo princípio de ter "o melhor amante", ou a pessoa a quem me dedico em exclusivo — ou quase, se não se der o caso de ter uma relação amorosa e exclusiva e de amor, etc. Mas tenho de aceitar que, desde que as pessoas se protejam de doenças, quer homens, quer mulheres, devem fazer aquilo que bem lhes apeteça e lhes dê na real gana. Porque, bolas, sexo e reprodução estão separados desde o momento em que é comum comprarem-se preservativos, pílulas, espermicidas, DIU, anéis hormonais e o rol de métodos contraceptivos que actualmente — e há muito — existem.
Sexo deve ser igual a prazer e nem sempre é igual a amor. A partir daí, porque é que a mulher que brinca com um homem hoje e daqui a dois ou três dias com outro, há-de ser uma "puta" (sentido pejorativo) e ao homem ninguém liga puto se ele hoje andar com fulana e amanhã com sicrana? E, inclusivamente, fazem-se anúncios publicitários em que se vangloria que um homem esteja com duas mulheres na mesma cama... e tal é visto de forma divertida...
E eu ainda ia falar da hipocrisia do dia da mulher... mas já fica demais neste texto...
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