27 abril 2007

Bom fim de semana



Foto: Maurizio Melozzi

Carta secreta de Soror Mariana ao cavaleiro de Chamilly - V



Escreveu Soror Mariana na sua cela:
Quão aflita estou, meu amado cavaleiro!
Noticias de vós não tenho, desde antes da Quaresma.
Dizei-me,
Que pensais? Que fazeis? Por onde andais?
Temo mil desgraças, calamidades, desventuras:
Que do cavalo tenhais caído,
Que estejais moribundo e ferido
Sozinho sofrendo torturas e horrores.
Ou então, que de mim vos tenhais esquecido,
E que de vós eu tenha perdido:
O bem-querer, a amizade e os favores.
Meu amado mandai-me novas! Porque de vós nada me dizeis?
Será que alguma dama, visita de vossa tia a Viscondessa,
Ao ver-vos na recepção, em que por minha causa, vossa espada ficou tesa,
Me roubou, meu cavaleiro, vosso querer, vosso coração?
Choro, meu amado, um amor que já não existe?...
Ou morrestes?
E viúva de vós fiquei, e sem saber de luto por vós já estou?
Dai-me noticias cavaleiro, eu vos imploro,
Meu coração por vós sangra e tanto dói que no convento
A Madre Superiora, de castigo e a pão e água já me pôs,
E minhas irmãs na fé, colocaram algodão nos ouvidos,
já não suportando de mim ouvir,
Tanto ai, tanto lamento...

Resposta do cavaleiro de Chamilly:

Perdoai-me, meu amor! Perdoai-me a falta de notícias.
Não vos quis meus males contar para não vos apoquentar,
E para que não sofresseis com meus males e minhas desditas.
Foi nos jardins de minha tia, a Viscondessa,
Quando envergonhado fugia da recepção
Tentando esconder o meu rubor e o meu tesão,
Que uma dama que, vos juro desconheço,
Me perseguiu, sem que de tal facto eu desse conta.
No meio do roseiral apanhando-me desprevenido,
Traiçoeiramente pelos braços me agarrou.
Por terra caí sem poder me defender,
De mim, a roupa, a pérfida arrancou
E desvairada só tentava meu sexo pegar
E violar-me!...
Violar-me meu amor,
Foi o que essa dama libertina intentou.
Quando ouvi gritos lancinantes e aflitos, julguei serem os meus,
Por outras mãos, que não as vossas, me estarem a tocar.
Mas era o esposo da dama que procurando-a, ali chegara,
E ao ver-me nu, deitado na terra naqueles preceitos,
A esposa quasi nua me cobrindo,
Julgou-me, a mim! A mim! O causador da situação.
De espada ao léu fugi do esposo furioso,
Que de espada na mão querendo vingança me perseguia,
Chamando-me devasso, verme infame, celerado imoral.
Eu imoral, Mariana...
Sobrevivi, minha amada, ao vil ataque do casal,
Mas meus males se mantêm e ainda me atormentam.
Do sexo, uns duzentos picos de rosas já tirei,
Deitado estou, meu amor, tentando tirar mais uns oitenta.

Foto: Rafal Bednarz

Encandescente
Blog Erotismo na Cidade
Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
Crica aqui para leres a carta IV e a III. Ou aqui para relembrares as cartas I e II, bem como a nossa ida memorável a Beja, ouvir a leitura da carta III da Soror Mariana, pela Gisela Cañamero, em frente à janela do convento.

Vem


BOGDAN SHEVCHENKO - fotógrafo de Kiev

Pullit - Camisas rápidas


Outras Coisas

26 abril 2007

sem pingo de poesia - por Fox Trotter

"Entra-me. Sem preâmbulos nem delongas. Agarra-me e puxa as minhas pernas para ti. Morde-me os pés, lambe-me os dedos. Isso, assim. Investe contra mim, com força, todo e lento. Vou ser tua só da cintura para baixo, não me olhes as mamas, nem vejas a fosforescência do meu sorriso. Observa os quadris que se agitam desconexos, como se dançassem um solo de violino em contraponto com a tua percursão repetitiva e cada vez mais rápida. Repara na púbis, vai-se levantando: estou quase a vir-me e colo-me ao teu corpo. Quero sentir todo o peso do embate desde o cimo do risco aberto de par em par até ao canto onde despontam as nádegas. Já te vieste? Foda-se, nem dei por nada. Estava concentrada em mim, sabes – quando me venho sou toda cona, a latejar. Não saias já, continua. Os meus espasmos ainda duram. Podes ir, não me toques; vou dormir."

Fox Trotter
blog Sociedade Anónima, que vos recomendo (e a Mad também)

CISTERNA da Gotinha


Comprei umas pantufas catitas. Roi-te de inveja, São Rosas!

O
Shaun S. tem uns olhos lindos. Mas não é só...

Reformado apanhado em maratona sexual: A descoberta foi feita recentemente, quando um sobrinho seu o identificou numa das filas de homens que esperavam para ter sexo com as mulheres que participavam na iniciativa e contou a história a toda a família. (sugestão do MN que não revela se também estava ou não presente na dita maratona sexual...)

Um médico que não é bem médico mas que diz preocupar-se com
os genitais dos outros.

Dicionário ilustrado C. Orno Manso




Apresto, preparativo, aparato, aparelho.

Quando se reúnem, dispõem e arranjam diversos materiais ou coisas para a execução de qualquer obra, dizemos que se fazem preparativos, assim como à reunião deles se lhes chama aprestos ou aparelhos. Diz-se pois os preparativos de uma função (…) aparatos, (…) a significação desta palavra se estende a tudo o que se executa com pompa e ostentação, e assim se chama aparatoso ao que tem muito aparato.
A significação das palavras aparelho, aparelhar, são muito mais extensas que as anteriores, pois não só as compreendem todas, mas abrangem os instrumentos, operação, materiais, disposições para todo o exercício, (…) Chamar-se-ão por tanto aparelhos aos arreios necessários para montar e carregar cavalgaduras, (…). Também é bastante extenso o sentido figurado desta voz, como quando dizemos: estou aparelhado para tudo, por disposto, prevenido.

ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 74

25 abril 2007

As minhas t-shirts estão todas molhadinhas... hmmm...

A malta fixe da FHM achou que as t-shirts da funda São (criações minhas e do mestre Raim) mereciam ser recomendadas. E até citaram a Maria S. ao definirem a funda São como espaço de "reinação e refustedo". Como esta palavra «refustedo» não vem no dicionário, o seu sentido fica à nossa imaginação... e isso é bom... hmmm...
Crica para veres a folha completa onde aparecem as t-shirts da funda São
As minhas t-shirts na FHM de Maio

Já sabes: para encomendares estas t-shirts basta cricares no link lá em cima, no cabeçalho (se não sabes o que quer dizer cabeçalho, o DiciOrdinário explica).

Gripe das emoções

(imagem daqui)

Não sei porque me acordaste, como se nem tivesses visto a Branca de Neve do João César Monteiro, arrogando o direito de me fazer encarar a luz do dia quando já sabias que muitos são aqueles em que me sinto esgotada, auto plagiando os meus gestos de fazer o mesmo filme de me sustentar de pé.

Essa tua caridade em que me emprestas o corpo para dissolvente das nódoas do quotidiano é um filme série-B, com as cenas eróticas coladas com cuspo às do resto da vida, tão fugazes e deprimentes como uma película de domingo à tarde na televisão. Apesar de cada dia vermos os telemóveis a crescerem e multiplicarem-se, sofremos desta gripe que entope a intensidade das emoções e até na cama só despimos água e sal em gotas de suor, contaminados pelos juízos securitários de vivermos amorfos e protegidos em redomas como os condomínios fechados. Estamos como os alcoólicos no passinho de uma foda de cada vez que o futuro como orgasmo já não é objectivo.

E só posso retribuir essa caridade optimizando a relação com outra virose da moda: agilizamos procedimentos e um de nós despede-se para se contratar substituto.


A Primavera a desabrochar

Daqui













Outras Coisas

crica para visitares a página John & John de d!o


TitComic.com

24 abril 2007

Há hamburgers deliciosos, não há?



Foto: Martin Kovalikd

Falta de liquidez


Começou por me falar em sistemas de contas prometendo-me, pensava eu, umas dignas férias numa ilha tropical.

De facto eram generosas as referências aos auxiliares financeiros e às coberturas cruzadas e todos os cálculos tocavam nos fundos como só uma coisa sólida consegue, quase como se quisesse dizer-me que o seu background não oferecia razão para déficits de qualquer espécie.

Não lhe conheci vícios consumistas a não ser as gravatas, coisa que me agradava bastante pois esse acessório masculino passou a ser essencial para mim no dia em que lhe descobri as inúmeras aplicações, todas elas de elevado grau de perversidade; todas boas, portanto. Mas propriamente cativar, só cativou quando me falou na elasticidade da oferta, apresentando-me fórmulas graciosas que desafiavam a minha imaginação com detalhes equacionados em deltas. Dizia ele que a oferta podia ser rígida, unitária ou elástica. Claro está que entendi esta elasticidade como qualquer coisa que permitia dimensões infinitesimais e já me ia crescendo água na boca com a representação gráfica do ponto de equilíbrio. Isto para não falar da oferta rígida, mas essa estava assegurada à partida.

Não é que eu rejeitasse a concorrência perfeita, que nestas coisas as concentrações monopolistas trazem lucro mas só enquanto duram; o facto é que preferia qualquer holding, a ter de ser, quer pelo volume conseguido com a fusão vertical, quer pelo controlo à vista.

Bem, todas as minhas expectativas se viram frustradas quando ele me enunciou os limites ao mecanismo de troca directa: é que a existência simultânea de duas pessoas, cada uma delas querendo adquirir o bem possuído pela outra, podia ter funcionado se nos mantivéssemos no domínio das metáforas, como é do meu gosto. Contudo, o indivíduo tinha um espírito muito numérico e falava de sociedades por acções de forma a vir a usufruir de benefícios fiscais.

E eu? Feita a análise de risco, que valor acrescentado me traria esta cena?

Meu amigo – disse eu – a tua curva de Lorenz é coisa que fica muito aquém do meu valor facial e, como sabes, há muito que o sistema fiduciário deu o que tinha a dar.

E foi assim, por falta de liquidez, que o homem da bolsa se converteu, ali mesmo, em activo incorpóreo.