Primeiro, casei-me por amor com o objectivo da paixão e éramos quase gémeos siameses como a imagem de marca Mercedes-Benz, colados a qualquer hora nas escadas, na dispensa, nos sofás da sala e até na cama a grudar as peles em confusões de pernas e braços e línguas e genitais naquele anti-depressivo militante que acabava em suor e cigarrinho tal qual como com os amigos nas ruas, nos cinemas e nas noites de copos que até causava estranheza ao dono do restaurante habitual como ao fim de alguns anos ainda tínhamos tanto para falar à hora da refeição e ainda dávamos as mãos sobre a toalha tombando-lhe os talheres e guardanapos de quando em quando.
Está bom de ver que naquele clima de repetição contínua de amar o próximo como a nós mesmos não havia lugar à procriação que nem uma agulha cabia no cordão umbilical que nos conectava como o cabo da electricidade ao computador e funcionava como o mais perfeito anticoncepcional impedindo que nada mais se aconchegasse no meu útero.
Mas dei ouvidos às vozes atiladas de quem sabe os mecanismos sociais e dar corda do relógio biológico e divorciei-me. E num instantinho de acordo com a máxima tá feito, tá morto consegui procriar mais um ser que canta amanhãs e que todos afirmam ser a melhor coisa do mundo o que me permite hoje contrariar o ditado de casarás, amansarás para afirmar que da solidão nasce a procriação.