25 fevereiro 2009

Falta de oposição


Ninguém duvidava que eles gostavam um do outro. Há anos a fio que viviam juntos e tanto familiares como amigos os reconheciam como casal uno e indivisível de modo que assim postos perante a inexistência de oposição alguma que lhes reforçasse a junção no combate a um perigo exterior decidiram casar-se escolhendo com cuidado uma data em que os sete meses de gravidez fossem impossíveis de disfarçar qualquer que fosse a roupa escolhida para a festa pública.

Receberam muitos parabéns duplos e candidaturas para apadrinhar o rebento sem uma palavra de crítica e antes ternurentos sorrisos que mais pareciam denunciar que lhes almejavam o lugar e foi por isso que logo aprazaram dedicarem-se ao swing passados os dias de pausa sanguinolenta pós-parto e a aleitação.

Começaram por conhecer o meio numa daquelas discotecas de luz ténue com bar e quartinhos e após várias trocas a quatro como manda o figurino destas lides, decidiram que cada um podia fazê-lo com quem e quando lhe apetecesse por ser essa a prova de resistência à sua união.

E desde aí, era frequente vê-los a encontrarem-se na chegada a casa de cada final de tarde, num sorridente beijo em que os braços enlaçavam os pescoços e os rabos frente ao café da rua findo o qual ela rolava a língua na boca a degustar e comentava hmmmm estiveste com ela esta tarde que a tua boca ainda sabe imenso a cona a que ele cumplicemente retorquia que toca a ambos já que ontem era indisfarçável o sabor de esperma na tua.

Anúncio subliminar da Playboy


Play, boy!

(with the lights)

"Papá! Papá!..."


Papa, c’est quoi un cunnilingus ?
by onsexprime

24 fevereiro 2009

em Braga...


o milagre da metamorfose... de onde e só podemos (todos) ter origem...
Raim's blog

da origem do mundo ao fim da macacada...

A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, 1866

Sinto-me, obviamente, compelido a publicar a imagem, por imperativos éticos e de cidadania.

Por Braga e - parece de propósito... - de Carnaval à ilharga, são apreendidos pela PSP, supõe-se que para averiguações ou (pior) por eventual atentado à moral pública, alguns exemplares de um livro de pintura, em feira de segundas-mãos, que ostentava na capa a imagem acima, da autoria de Gustave Courbet (1819-1877).

Título da obra: A Origem do Mundo. Óbvio, não é? Por mim, não conheço ninguém que não tenha ali colhido evocação da sua mãe... (já que no século XIX as provetas ainda não eram utilizadas na fecundação).

Nem me dou ao trabalho de procurar culpas nas fraquezas da PSP ou em atavismos retrógrados, mais ou menos de sacristia. Mas abismo-me (ainda, vejam lá!...) com o monumento à estupidez que tal acto consagra, em pleno ano da graça de 2009!

Na semana passada foi notícia o pai de 13 anos que, segundo parece, tem a paternidade contestada por diversos rivais; qualquer criancinha de meio-palmo acede aos sítios mais pirotécnicos da net, onde pairam miríades de passarinhas... e sem pêlo.

Será, afinal, apenas esse o problema, essa ostentação de pelagem púbica tão arredada da «pós-modernidade» em que (des)vivemos?

Será que alguma ASAE dos costumes considerou, porventura, que o excesso de pêlo púbico seria mau exemplo para o público, por eventuais, ainda que duvidosos e subjectivos preceitos de higiene?

Será que não se pode exterminá-los, a esses Cereberos de pacotilha, guardiães de algo que ninguém sabe definir muito bem o que é e apenas medra nas cabeças infectas dos recalcados?

Que dizer, então, da exposição peniana de Adão, na Capela Sistina? Pornografia? Por amor de Deus!...

carnaval 2009 - interior, profundo e de erotismo a martelo

Lucinda veio a terreiro
trouxe um corpete ligeiro - saia curta - perna ao léu
no treme-treme da dança
treme o seio - treme a esperança
treme quanto Deus lhe deu
e no mar de lantejoulas entrevê o seu Honório
exibindo as ceroulas do avô que já morreu
- que em acabando a folia hão-de tratar do casório
tal qual ele lhe prometeu –

e a turba já se atordoa c’o trio eléctrico à toa
num espavento de som
que vindo lá dos brasis espanta os nossos civis
que aquilo sim é que é bom

Lucinda agita este corso
seio à mostra mostra o dorso - dá à pernoca com alma
haja calma – haja calma
grita o agente aflito agarrando um expedito
que corria no asfalto p‘ra tomar Lucinda a salto
que pernoca assim mostrada perturba a rapaziada
no desvendar do mistério
deixem lá que é Carnaval ninguém leva nada a mal
nem nada é caso sério

Lucinda toda ela vibra mostrando bem de que fibra
é o corpetinho de lã
e no cume do collant onde a saia acaba a racha
por lá se perde e se acha a rendinha da cueca
que desponta em cada passo queimando qual alforreca
um olhar sem embaraço

pretinha assim rendilhada no contraforte da meia
meia-volta volta e meia deixa a malta entusiasmada
quais brasis nem qual Veneza
assim sim à portuguesa
uma coxa bem mostrada

e as plumas do pavão em frente ao seu coração
vibram mais porque afinal
em tempos de Carnaval no tempo amargo de crise
o que o corpete desvenda é dádiva – não está à venda
dá de si o que ela entenda
enche um olhar que precise.

OrCa



O Vintesete não pode ver um rabo de saia... sem saia:

"Bom compadre Orca
Que bem fala vossamecê
Dá-lhe em verso tamanha volta
Que daqui deste monte
com campo dum lado
e a Serra defronte,
já sinto essas pernocas
e ainda as mais belas mamocas
a subirem em acelerado
direitinho às minhas fontes

Ei um tal palavreado
Que um homem mesmo parado
A olhar para a lonjura
Vê a ideia numa troca
a voar do céu prá toca,
mesmo debaixo dessa pouca
que nã sendo quase roupa
faz o ninho à minha dura

E assim compadre, volto
pró mé Monte que é do Cardo
vestir o pêlo de fato e tudo
e na cidade disfarce de veludo
espremer-me todo num corpo farto
e sendo, na cama e nesse quarto
éu Rei Momo do Entrudo"

Por favor não telefonem à proprietária do telemóvel 917807652


É rata dos anúncios de convívio do «Diário de Coimbra»

Atrevimento, ousadia, arrojo




O atrevimento supõe uma resolução da vontade, acompanhada da confiança em nossas próprias forças, por conseguir um fim árduo. – A ousadia supõe o desprezo das dificuldades, ou riscos superiores às nossas forças, porém acompanhada de uma excessiva confiança na fortuna ou na casualidade. – O arrojo não supõe nenhum género de confiança, senão uma cegueira com que temerariamente nos expomos a um perigo, sem examinar a possibilidade nem a probabilidade de sair bem dele.

ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 90

Videoclip baseado na música dos U2 «Discothèque»



Um (excelente) trabalho do blog Garm's Kiss

Anúncios da Wonderbra para a linha de fatos de banho



23 fevereiro 2009

Come e Cala-te, Zeca...


"Um copinho, dois copinhos
três copinhos de aguardente
As moças cá da terra
Fazem sentir a gente quente"


"Um copinho, dois copinhos,
três copinhos de licor
Levas um murro nesses cornos
Passa-te já o calor"



(popular Alentejano)


...levi um sopapo nos cornos que até vi estrelas...

Eh cabranagem.
À certa que muita gente já conhece estas duas quadras; a primeira a jeitos de piropo de forasteiro e a sigunda o remoque azedo dum mano da terra que ouvindo a quadra e nã gostando da pinta do gajo de fora lhe responde com esse gosto que nã lhe tinha.
Bom mas isto é pra dizer que cá o VinteSete já tem passado por ocasiões dessas.
Como vossamecezes sabem, a minha vida é no campo com o gado, ando dum lado pró outro com as alimárias, vou às feiras e cá me governo. Há alturas em que um homem vai à cidade uma remessa de vezes e vai nã vai, lá vai uma atanchadela. Ele há agora uma bichas boas na rastomenga e na espremedela, que até os olhos e a unhas dos pés se reviram, porra dum cabrão que um homem parece que se desfaz em leite em cima delas!
Só que a porra éi que taméim há alturas em que um gajo, mó de andar muito ocupado, nã pode ir à cidade prá festa. Éu cá tenho uma fragonete pra levar o gado pró negoiço, mas nã a posso levar quando vou às máquinas de tirar leite, que isso mete sempre copos e asdespois é uma moenga mó da Guarda e o soprar do balão mais a porra...
De jeitos que costumo ir na minha motorizada até Castro Verde e depois apanho a camioneta da carreira, mas isso éi quando há vagar e há alturas em que nã há vagar.
E foi numa dessas alturas em nã havia vagar que vi aquela gaja ali parada na estrada quase junto ao tasco do Zé Manita, o filho dum cabrão, orelhas de podengo, a pedir boleia. Tinha estado a tosquiar umas ovelhas. Nã sei se vossamezeces já lhe viram as rachas, mas um homem depois de rapar uma dúzia delas e nã apanhando nada há uns dias, o melhor que faz é ir-se embora que fica com uma brotoeja na braguilha, pior que a sarna. E cá o Zeca nã quer passar pela parte desse pastor a quem perguntaram como se governava sem sexo, ali no descampado, dias e dias a fio. Ao que ele respondeu que muito bem; - pergunte a quem quiser menos ali àquela ovelha, a malhadinha, que ela é muito mentirosa...-
Ora tendo eu abalado com o azinho por entre as cuecas e vendo a febra ali de dedo esticado nã perdi tempo.
- Aghhhh...- disse eu cá pra mim:- Zeca... Zeca Tramelica. Nã te esqueças do que o té avô te ensinou: "na pastagem, ovelha que berra, é bocado que perde. Nã desperdices nunca uma aberta. Come o que puderes!" – De modos que avanci logo todo lampeiro direito a ela enquanto lhe mirava prás pernas e prás mamas. A magana era boa, jeitosa e ali mesmo à mão, e eu cheio de rebarba... Nã sei se tão a ver, né?
- Posso ajudá-la, menina? –
- Foi o carro,- respondeu apontando ali prós lados do tasco do orelhas, - agora estou a ver se apanhava uma boleia ali a Mértola para ir buscar um mecânico...-
- Nã se preocupe mó disso que eu vou já buscar a fragoneta e levo-a.-
E foi já a meio caminho que a seguir a um pouco de conversa onde ela me disse trabalhar num bar que eu parei ali num desvio debaixo dum chaparro e le preguntei se nã ia uma espetadela. Bom moços! Leví um sopapo nos cornos que até vi estrelas!
- Você deve ter levado muito estalo, seu descaradão, seu estúpido, seu atrevido! –
- ... Sim... tenho levado... Mas também já tenho chombado muito.- respondi-lhe baixinho e de mão na cara a desfazer o ardor.
E nã querem lá saber? Atão nã ei que acabi, - depois de levar aquele chapadão - na rastomenga, de vintesete na vinagreira, em cima da manta, espojados por trás do chaparro? Eh moços! Bela bicha e bela espremedela! Que ele há coisas muita boas e esta foi das melhores, que já nem sabia onde era eu, onde era ela e onde era o chaparro! Tamanha foi a rastomenga que era pernas, mamas e galhos, tudo misturado num enleio do mete e tira, que só de me assomar a lembradura me começa a bater o coração na braguilha!
Fui levá-la mas fiqui com ela a bater-me cá na caixa córnea e há dias volti a Mértola a ver se a via. E foi mesmo junto à rotunda cá em baixo que a vi passar.
Éu tava num Café a beber um branquinho e disse a um que era de lá e tava tameim a beber um copo à porta, como a magana era boa. Mas o bicho dum cabrão respondeu logo, em tom acabranado e azedo, para eu tar calado, que ela estava agora por conta dum que tinha sido cabo da Guarda prós lados de Santana ou da Vidigueira, ou coisa parecida, e que era mau como as cobras.
De jeitos que alembrei-me das quadras de cima e bebi mais um.
-Come e cala-te! – remati para dentro, levantando o copo enquanto fazia um brinde à memoira do mé Avô e que entre outras tameim me tinha ensinado esta....

José Carlos Trambolica
(Zeca Tramelica, o VinteSete)

Vão ao Estúdio Raposa

e deliciem-se ouvindo Luis Gaspar a apresentar-nos E. M. de de Melo e Castro e a ler-nos cinco poemas do livro «Sim... Sim!». Um deles é este:


"mais difícil é falo
que falá-lo
mais difícil é língua
do que lua
mais difícil é dado
do que dá-lo
mais difícil vestida
do que nua
mais fácil é o aço
do que achá-la
mais fácil é dizê-la
que contê-la
mais fácil é mordê-la
que comê-la
mais fácil é aberta
do que certa
nem difícil nem fácil
nem aço nem licor
nem dito nem contacto
nem memória de cor
só mordido só tido
só moldado só duro
só molhada de escuro
só louca de sentido
fácil de falá-lo
difícil de contê-lo
o melhor é calá-lo
o melhor é fodê-lo

E. M. de de Melo e Castro"

Revelações


Alexandre Affonso - nadaver.com