24 fevereiro 2009

carnaval 2009 - interior, profundo e de erotismo a martelo

Lucinda veio a terreiro
trouxe um corpete ligeiro - saia curta - perna ao léu
no treme-treme da dança
treme o seio - treme a esperança
treme quanto Deus lhe deu
e no mar de lantejoulas entrevê o seu Honório
exibindo as ceroulas do avô que já morreu
- que em acabando a folia hão-de tratar do casório
tal qual ele lhe prometeu –

e a turba já se atordoa c’o trio eléctrico à toa
num espavento de som
que vindo lá dos brasis espanta os nossos civis
que aquilo sim é que é bom

Lucinda agita este corso
seio à mostra mostra o dorso - dá à pernoca com alma
haja calma – haja calma
grita o agente aflito agarrando um expedito
que corria no asfalto p‘ra tomar Lucinda a salto
que pernoca assim mostrada perturba a rapaziada
no desvendar do mistério
deixem lá que é Carnaval ninguém leva nada a mal
nem nada é caso sério

Lucinda toda ela vibra mostrando bem de que fibra
é o corpetinho de lã
e no cume do collant onde a saia acaba a racha
por lá se perde e se acha a rendinha da cueca
que desponta em cada passo queimando qual alforreca
um olhar sem embaraço

pretinha assim rendilhada no contraforte da meia
meia-volta volta e meia deixa a malta entusiasmada
quais brasis nem qual Veneza
assim sim à portuguesa
uma coxa bem mostrada

e as plumas do pavão em frente ao seu coração
vibram mais porque afinal
em tempos de Carnaval no tempo amargo de crise
o que o corpete desvenda é dádiva – não está à venda
dá de si o que ela entenda
enche um olhar que precise.

OrCa



O Vintesete não pode ver um rabo de saia... sem saia:

"Bom compadre Orca
Que bem fala vossamecê
Dá-lhe em verso tamanha volta
Que daqui deste monte
com campo dum lado
e a Serra defronte,
já sinto essas pernocas
e ainda as mais belas mamocas
a subirem em acelerado
direitinho às minhas fontes

Ei um tal palavreado
Que um homem mesmo parado
A olhar para a lonjura
Vê a ideia numa troca
a voar do céu prá toca,
mesmo debaixo dessa pouca
que nã sendo quase roupa
faz o ninho à minha dura

E assim compadre, volto
pró mé Monte que é do Cardo
vestir o pêlo de fato e tudo
e na cidade disfarce de veludo
espremer-me todo num corpo farto
e sendo, na cama e nesse quarto
éu Rei Momo do Entrudo"

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