14 dezembro 2009


Teach Me...

...or I will teach you.

Superficial

Olá, meu guerreiro!
Eu sou a solidão
que tu não expulsaste
quando não me chamaste
no meio da multidão;
as entranhas te devoro
de dedos com teias de aranha
a dilatar na tua garganta.
Bebe bem o meu cheiro:
solidifica nos teus pulmões,
já que defines emoções
falsas que se extinguem
em descritivas coerências,
em sínteses do imensurável
estrondo das paixões,
nos relatos do inenarrável;
e assim, os vazios se distinguem
em palavras que só conseguem
apenas imitar bem.

Cartas com gravuras eróticas só visíveis contra uma luz forte

Há aquisições que faço que me deixam especialmente molhadinha. É o caso deste baralho de cartas, uma reprodução relativamente recente de um baralho de cartas originalmente produzido na Holanda no século XVIII. Sim, sim, conheço quem tenha baralhos originais, mas esses custam acima de 3 mil euros...
À primeira vista, são cartas normais. Mas colocando-as à frente de uma luz forte, aparecem gravuras eróticas, todas elas diferentes umas das outras. As cartas com figuras (damas, valetes e reis) são especialmente bem conseguidas. Curiosidade: no século XVIII as figuras ainda não tinham um eixo de simetria a meio, inventado posteriormente para que os adversários não soubessem quem tinha cartas dessas, quando as rodava.
Isto faz-me lembrar outras delícias da minha colecção: os litofânios eróticos de que vos falei e que vos mostrei aqui, em Março de 2007.
Apreciem... embora ao vivo seja uma experiência bem mais entesante (sim, sim, eu disse interessante):





O dois de copas


O seis de paus


O sete de copas


O nove de ouros


O ás de ouros


O ás de espadas


O valete de paus


O rei de ouros


O rei de copas


A dama de ouros


A dama de copas

Está quieto, macaquinho!



Visto em Strange Eros

13 dezembro 2009

Amor

Para quê deixar o tempo andar? Deixa que a razão o atropele e o transfigure na realidade, livre daquela deformação a que chamamos fé. Porque agora o nosso "daqui a vinte anos" é uma utopia. Porque, no "daqui a vinte anos", será uma utopia a paixão que sentimos agora. E eu não quero ver o dia em que não me abraças. E eu não quero ver o dia em que não passas a mão no meu cabelo. Deve ser apenas então que se trata o amor por tu. Quando é apenas o amor que sobra. E será o amor assim tão imenso e feliz quanto nos faz acreditar o delírio da emoção apaixonada? Que forma tomará, sem catalisador? Da serenidade azul ou do tédio sonolento? Anda! Deita-me ao chão agora, ocupa-me de uma só vez, enquanto sentes o corpo estremecer, expandir-se, contrair-se. Anda! Uma e outra vez, enquanto o utópico altar é real e carnal; mais tarde seremos profanos?


Perturbante



Deixas cair o copo,
entornando as últimas
gotas de vinho
que deixaste para trás…
marcas de uma boca sensual
que ficarão gravadas
até ao amanhã.
Essa boca
que procura qualquer
coisa para amar...
Na toalha de linho branco,
a cor púrpura e já amarga
desenha imagens
que podem ser de desejo…
mas que já não vês.
O teu corpo
está inebriado por
um desejo que te perfura
e que tão bem conheces…
Desejo que te faz desfalecer
conscientemente
no tapete da sala, deitares-te
e sentires por baixo da tua pele
o pêlo macio que te
lembra um corpo tantas
vezes amado…
e agora ausente.
Incontroladamente
controlados, os teus dedos
procuram a passagem para um
prazer que queres só para ti.
Os teus seios, acariciados pela
mão ávida de luxúria,
aumentam o gozo que te vem
das entranhas.
Contorces-te ao ritmo
das sombras que entretanto
tomaram conta do lugar.
Imaginas o teu corpo a dançar
no tecto dessa sala que
se transformou numa
gigantesca e desmesurada
cama de prazeres.
Estás sozinha, mas não estás,
imaginando os corpos
que por ti passam sucedendo-se
nas ondas de prazer que
te levam para lá da racionalidade.
E arranhas a seda suave das tuas
pernas à passagem das
tuas unhas eriçadas.
E tatuas na tua pele
os teus dentes brancos e perfeitos.
E rasgas a imaginação
com o prazer que não pára de crescer.
Sentes-te demente, ou nada
sentes de ti, porque tudo o
que sentes são os imaginados
corpos que te dão.
E não paras. Não paras de
te fazeres feliz na deambulação
das tuas mãos por um corpo
que tão bem conheces...o teu.
Arrancas de ti toda a solidão
agora transformada numa
orgia de corpos que por ti
vagueiam.
És actriz e espectadora
dessa peça encenada por ti.
E cai o pano sobre o teu corpo,
no preciso momento em que o
orgasmo te atinge e os aplausos
da plateia ecoam para lá
da irracionalidade.
Perturbante…

TC

«Oh, Edgar, viens faire le voyeur!» - filme erótico amador dos anos 30



Visto em Retro Sex Blog

... e não só!


crica para visitares a página John & John de d!o

12 dezembro 2009

Foder é coisa para fracos

No dia em que me surgiste pela frente com essas calças justas e me disseste, com sorriso malandro, que estavas pronta para tudo, era claro que na tua cabeça, como na minha, a ideia era apenas uma: foder. Não seria fazer amor, não seria nada procriativo, era foda. Da mais dura e da mais pura, quem sabe até daquele tipo mágico, foder e desaparecer. Com o Sol já muito oblíquo, os tons alaranjados banhavam-te o corpo e acentuavam as curvas contidas na roupa com uma espécie de halo, e eu, sentado cá fora na companhia da brisa do final da tarde, pensava em como seria interessante comer-te de cima abaixo, ou, como provavelmente corresponderia muito mais à verdade, permitir-me ser comido por ti, sem piedade.

Ilusões, tinha poucas. Se, porventura, daquele terraço para um canto escondido se fosse, o comido seria eu. Não só porque acredito que, a comer alguém, são as mulheres que comem – até porque a anatomia assim mo sugere -, mas também porque enquanto o meu entusiasmo era parte de um estado permanente, o teu era especialmente marcado por circunstâncias femininas que eu não dominava e que te deixavam particularmente desejosa dos prazeres que eu te poderia dar.

Avançaste por isso cheia de determinação. Um joelho ameaçador aterrou entre as minhas pernas, o que me fez encolher por escassos instantes, não fosses tu falhar a pontaria, e com ele apoiaste-te na cadeira para, inclinando-te sobre mim, trincares e lamberes a minha orelha enquanto com outra mão mexias no meu cabelo. Insinuaste depois os teus seios, expondo-os ao meu olhar, convidando-me a trincar os mamilos. Analisei a situação e decidi despachar com deferimento. Mordisquei. Depois fizeste as calças justas sair. Se tomo nota mental dessas calças, agora que penso nisso, julgo que era apenas por te fazerem um rabo muito perfeito, despertando em mim a vontade de te deitar no meu colo e dar umas palmadas valentes, como se fosses uma menina mal comportada. Na verdade, ali, eras uma menina mal comportada. Uma devassa. E nós sempre gostamos de dar umas palmadas valentes numas devassas.

Devassa, traquina, franzias levemente o sobrolho enquanto, nua e de braços cruzados sob as mamas, aguardavas na expectativa, como quem pergunta sem falar: Fodes-me?

Foder é coisa para fracos. Foder, perante um estímulo de tal modo intenso, é a solução mais simples. É o que qualquer um faz. Diz muito pouco de nós. Grande garanhão, macho-man, mas essencialmente fraco, porque atraído pelo magneto vulvar pouco faz senão ceder. Por isso levantei-me e, não obstante a teimosa erecção, disse-te que não. Apeteceu-me ser forte – nem que fosse apenas por uma vez – e deixar-te nua e a secar. Como estava já a arrefecer um pouco, baixei-me para te pegar na blusa e foi um erro crasso fazê-lo. Descontente com a rejeição não resististe a fazer-me conhecer de perto as tuas unhas dos pés, tão bem pintadas e tratadas. Não esperava tal coisa, mas só confirmei o que pensava, que foder naquelas circunstâncias era coisa de fracos. Porque forte forte, é resistir à tentação e ainda levar tareia por isso.

http://www.geografiadascurvas.net

Eu sei

Eu sei o que estás a fazer,
eu sei o que estás a fazer agora,
em cima de um corpo demasiado quente,
em cima de um corpo demasiado frio,
em cima de um corpo que o teu só consente,
no vazio de desejo que te demora o rio
que te trai esse tão viril erguer;
serei do teu corpo já tão senhora?
Eu sei bem o que estás a acontecer
num outro corpo onde a tua fome não mora,
moro na memória da tua pele que me sente
moro no teu peito que nunca me traiu
e que nem permite que outra carne te tente;
a minha alma ao ver-te nela sorriu
por se sentir dona do vazio que te faz ceder
por te ver flectir fora da nossa hora.

Lolita (1997) - os pés de Dominique Swain atiçam a cabeça de Jeremy Irons

11 dezembro 2009

De pernas para o ar


De repente foi como
se o mundo se tivesse virado
de pernas para o ar.

Meteras-te onde?
Porque não aparecias
À hora marcada?
Investigo.
Procuro-te.
Canso-me de não te encontrar…

Até que, num último rasgo
de uma brilhante ideia,
bato à porta daquela casa.

E tu apareces, nu,
quando eu oiço uma voz masculina
(que eu tão bem conhecia)
vinda do quarto
perguntar:

- Quem é, amor?

A vontade foi esganar-vos
a ambos
logo ali. Sem mais.

Fui embora.

Foto e poesia de Paula Raposo