07 março 2010

E ao 5º dia o blog foi desbloqueado



Obrigada a todos os que sempre mantiveram a fé em Eros.

Shark - "Welcome back, sua proscrita!"
São Rosas - "Proscrituta"

(Pre) Sentidos

Ouço-te
nas cataratas de uma memória feita de areia
e na areia deitei o meu corpo
e a areia acariciava o meu peito
e a areia é tudo o que me rodeia

Vejo-te
nos caminhos que formam linhas nas margens
e nas margens imprimi as minhas asas
e as páginas escreveram-se nas minhas pernas
e as páginas são as minhas únicas imagens

Toco-te
na ebulição de recordar que derrama do leito
e no leito mergulhei as minhas ancas
e o leito inundou as minhas coxas
e o leito é tudo quando me deito

Provo-te
na saudade que tempera a água a perder a nascente
e na nascente lavei o ventre nu
e a nascente trespassou-me como tu
e a nascente era ontem e horizonte.

Sinto-te
nos braços que devolvem as ondas ao seu mar
e no mar lavei os cabelos para te ter
e o mar salgou-me o corpo para te receber
e o mar era todo o meu ar.

Brincadeiras eróticas da colecção do Kinsey Institute

Um dia destes faço um video idêntico com as brincadeiras da minha colecção. Como acontece com muitas outras colecções de arte erótica, aqui mostram algumas peças que eu gostava de ter... mas também tenho algumas que ali ficariam muito bem.

«Erotica Batalha - Cruzada»

"Tua latejante buceta palpitante
Meu amargo cacete perfilando
Ovos batem continência à beira do saco
Como um guerreiro de merda
o cu recua ante a dura ofensiva
Grandes e pequenos lábios
batem palmas e riem
Meu cacete é a bandeira nacional!
A guerra é santa e eu avanço!"


Vi aqui... e gostei

Presentes interesseiros


crica para visitares a página John & John de d!o

Assédio ao Óscar



HenriCartoon

06 março 2010

Animais

A tromba rude do elefante magoava o pescoço delicado da gazela. O feio elefante investia selvaticamente o pesado corpo no delicado corpo dela. A gazela, em dor, gemia. O elefante, em gozo, grunhia, gania. O elefante, bestial, copulava como um animal. São tão pouco humanos, os elefantes.

Azul: eu


Olho para o presente
(como se não fosse eu)
e vejo-o azul (tu sabes que sim),
vivo-o em todos os tons
em que o imagino.

Azul – disseste - falas sempre de azul.
Pois é.
Não sei por que o faço,
mas: faço-o.

Quantas coisas não sabemos
por que as fazemos: mas fazemos.

De azul vestida, semi despida,
digo eu,
regresso sempre de azul;
agora nua:
eu sou azul.

Foto e poesia de Paula Raposo

A arte do sexo


Alexandre Affonso - nadaver.com

Campanha contra a mutilação genital feminina

05 março 2010

A Decisão

Chegou a casa cansado. Abriu a porta e entrou. Largou a pasta cor de caramelo e tirou o casaco, que pendurou sem cuidado. Fechou a porta. Pensou em gritar um cumprimento, um aviso da sua chegada. Decidira que entraria em casa de uma outra maneira, com outra disposição, mas não conseguira escolher a forma de o fazer e fê-lo como sempre fazia: amargo e contrariado, ainda que, conscientemente, não o assumisse (e preferisse o cansaço).
Parou, estranhando o silêncio. A casa parecia vazia. Parou dois passos para além da porta da rua, um passo para além da pasta no chão e do casaco no cabide. Rodou e voltou-se para trás.
Constatou que o seu casaco estava sozinho e a pasta também.
– Ana! – chamou, virando apenas a cabeça para o interior. Deu um passo e aproximou-se da porta. – Ana! – tornou a gritar, enquanto a mão se colava ao casaco. Agarrou-o. Olhou a pasta mas decidiu não lhe mexer. Levantou os olhos e tirou o casaco do cabide. Ouviu o silêncio da casa e abriu a porta.
“Tenho de ir comprar tabaco” justificou.
Saiu e fechou a porta atrás de si, sorrindo, decidido a começar a fumar.

Nua

Tinhas as mãos aos meus pés; como espuma nos pés suaves de uma menina. As mãos aos pés da menina aos teus pés a descobrir um amante; subitamente de mulher a menina.... Tiravas devagarinho as minhas sandálias de mulher com os teus dedos límpidos, tão límpidos que podiam espelhar o rubor das minhas faces; os teus dedos tão firmes de calor, o calor dos teus dedos ensinava uma nova coerência às minhas mãos tão vagas; as minhas mãos tão cegas de ti caminhavam na ponta dos dedos, andavam tacteando a tua luz. Mil amantes que se esfumaram, nenhum tinha existência. E de novo o desejo tímido, faminto de querer saber-se; saber-me em ti, o meu corpo pequeno cheio do teu corpo grande...