Sim, amor. Eu entendo tudo, amor. Claro que entendo. O que eu não entendo, meu amor, é porque há sempre tanto para entender. As palavras a vaguear? Porque são vagas, essas tuas vagabundas que moram nas ruas de mulher em mulher. E tu moras nelas, nas tuas palavras. E as tuas palavras moram aqui. A pele de aluno só cresce quando reconhece o tecido secreto da palavra de um Mestre. A minha pele é um vestido tecido de tudo o que dizes. O vestido que teces em ruas de perder o tempo. Sim, amor. Eu entendo tudo, amor. Claro que entendo. O que eu não entendo, meu amor, é como é que julgas ter a armadura do tempo a prender-te as mãos e a soltar-te o corpo. Era uma pergunta? Era? Sim, amor.
24 abril 2010
23 abril 2010
no dia mundial do livro...
de autor desconhecido, mas muito a propósito:
Tudo depende da posição...
Fazê-lo parado fortalece a coluna,
de barriga para baixo estimula a circulação do sangue,
de barriga para cima é mais agradável,
fazê-lo sozinho é enriquecedor, mas egoísta,
em grupo pode ser divertido,
no w.c. é muito digestivo,
no automóvel pode ser perigoso…
Fazê-lo com frequência desenvolve a imaginação,
a dois, enriquece o conhecimento,
de joelhos, torna-se doloroso…
Enfim, sobre a mesa ou sobre a secretária,
antes de comer ou à sobremesa,
sobre a cama ou numa rede,
despidos ou vestidos,
na relva ou sobre o tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no roupeiro:
Fazê-lo é sempre um acto de amor e de enriquecimento.
Não importa a idade, nem a raça, nem o credo, nem o sexo, nem a
posição económica... o que importa é que...
.
.
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.
Ler é um prazer!
Tudo depende da posição...
Fazê-lo parado fortalece a coluna,
de barriga para baixo estimula a circulação do sangue,
de barriga para cima é mais agradável,
fazê-lo sozinho é enriquecedor, mas egoísta,
em grupo pode ser divertido,
no w.c. é muito digestivo,
no automóvel pode ser perigoso…
Fazê-lo com frequência desenvolve a imaginação,
a dois, enriquece o conhecimento,
de joelhos, torna-se doloroso…
Enfim, sobre a mesa ou sobre a secretária,
antes de comer ou à sobremesa,
sobre a cama ou numa rede,
despidos ou vestidos,
na relva ou sobre o tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no roupeiro:
Fazê-lo é sempre um acto de amor e de enriquecimento.
Não importa a idade, nem a raça, nem o credo, nem o sexo, nem a
posição económica... o que importa é que...
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Ler é um prazer!
Sex Crime (1984)
O rapaz atirou-se para o chão logo da primeira vez que os nós de uns dedos se encontraram com a madeira da porta do quarto.
– Sim? – conseguiu a rapariga dizer, concentrando-se para que o som saísse.
O pai abriu a porta, viu a cama desmanchada como num cenário de filme e a filha pudicamente tapada com o lençol quase até ao pescoço, olhando-o desorbitada e afogueada mas com um livro na única mão visível.
– Ah… – O pai sonorizou assim a sua surpresa e embaraço e, sem largar a porta, nem entrar no quarto, comunicou em tom pastoso mas sem baixar as sobrancelhas que se colaram à franja: – É só para avisar que eu e a mãe vamos sair agora. Se precisares de alguma coisa, liga-nos, a mãe deixou o número ao pé do telefone.
– Está bem – respondeu a filha, tentando que se definisse um sorriso normal no seu rosto. – Se for preciso eu ligo – confirmou, no meio de esgares e caretas indefinidas.
– Não vais sair? – perguntou o pai, começando a fechar a porta do quarto.
– Não, hoje não – disse prontamente a filha, com ar angelical.
– Até amanhã, então – despediu-se o pai e fechou a porta.
O namorado ergueu a cabeça com lenta cautela e ela sorriu-lhe luminosamente:
– Eu bem te disse que devíamos ter esperado que eles saíssem.
– Achas que ele desconfiou? – perguntou o rapaz, num sussurro, ainda deitado ao lado da cama.
– Achas?! – respondeu ela, já segura de si e troçando do ar apavorado dele. – Achas que eles se iam assim embora se desconfiassem que estavas aqui?
Ele concordou com a cabeça mas não se mexeu. Viu-lhe o livro na mão e olhou para a porta fechada.
– Só saio daqui quando ouvir a porta e o portão da rua – declarou e, voltando a fixar o livro, perguntou: – Que livro é esse que estás a fingir que lês?
– 1984 de George Orwell – disse a rapariga, levantando o livro. – E não estou a fingir, estou mesmo a ler!
O rapaz abriu um sorriso em resposta ao tom sério e quase sentido da última frase e gracejou:
– Mas hoje não... – O rapaz calou-se ao ouvir a porta da rua bater.
Olharam-se e, entre sorrisos silenciosos, esperaram e ouviram o portão e o automóvel a arrancar.
– Não, esta noite não – concluiu ela, largando o livro. – Esta noite não é noite de leituras!
– Sim? – conseguiu a rapariga dizer, concentrando-se para que o som saísse.
O pai abriu a porta, viu a cama desmanchada como num cenário de filme e a filha pudicamente tapada com o lençol quase até ao pescoço, olhando-o desorbitada e afogueada mas com um livro na única mão visível.
– Ah… – O pai sonorizou assim a sua surpresa e embaraço e, sem largar a porta, nem entrar no quarto, comunicou em tom pastoso mas sem baixar as sobrancelhas que se colaram à franja: – É só para avisar que eu e a mãe vamos sair agora. Se precisares de alguma coisa, liga-nos, a mãe deixou o número ao pé do telefone.
– Está bem – respondeu a filha, tentando que se definisse um sorriso normal no seu rosto. – Se for preciso eu ligo – confirmou, no meio de esgares e caretas indefinidas.
– Não vais sair? – perguntou o pai, começando a fechar a porta do quarto.
– Não, hoje não – disse prontamente a filha, com ar angelical.
– Até amanhã, então – despediu-se o pai e fechou a porta.
O namorado ergueu a cabeça com lenta cautela e ela sorriu-lhe luminosamente:
– Eu bem te disse que devíamos ter esperado que eles saíssem.
– Achas que ele desconfiou? – perguntou o rapaz, num sussurro, ainda deitado ao lado da cama.
– Achas?! – respondeu ela, já segura de si e troçando do ar apavorado dele. – Achas que eles se iam assim embora se desconfiassem que estavas aqui?
Ele concordou com a cabeça mas não se mexeu. Viu-lhe o livro na mão e olhou para a porta fechada.
– Só saio daqui quando ouvir a porta e o portão da rua – declarou e, voltando a fixar o livro, perguntou: – Que livro é esse que estás a fingir que lês?
– 1984 de George Orwell – disse a rapariga, levantando o livro. – E não estou a fingir, estou mesmo a ler!
O rapaz abriu um sorriso em resposta ao tom sério e quase sentido da última frase e gracejou:
– Mas hoje não... – O rapaz calou-se ao ouvir a porta da rua bater.
Olharam-se e, entre sorrisos silenciosos, esperaram e ouviram o portão e o automóvel a arrancar.
– Não, esta noite não – concluiu ela, largando o livro. – Esta noite não é noite de leituras!
E este ditirambo?!
É grosso, longo e furado,
Pinga mas não se derrete,
Enxuto e duro se mette,
Tira-se molle e molhado;
É à cobra assimilhado,
Mas tem seu que com a espiga;
Penetra até à barriga,
Sacia a vontade à gente;
Porém, ser cousa indecente.
Não se creia nem se diga.
Pinga mas não se derrete,
Enxuto e duro se mette,
Tira-se molle e molhado;
É à cobra assimilhado,
Mas tem seu que com a espiga;
Penetra até à barriga,
Sacia a vontade à gente;
Porém, ser cousa indecente.
Não se creia nem se diga.
E não se creia, não, senhores.
Tudo isto quer dizer mui simplesmente ??????
Tudo isto quer dizer mui simplesmente ??????
Publicado originalmente por Belchior Manuel Curvo de Semedo em Composições Poéticas e citado por BARATA, António Francisco (1894) Viagem na minha livraria - Barcelos: Typ. Aurora do Cavado, pág. 40.
_______________________________
O Mano 69, depois de todos vermos só caralhos nisto, dizia "frio, frio....". Quando perguntei se era um caralho frio, esclareceu do que se trata:
"E não se creia, não, senhores.
Tudo isto quer dizer mui simplesmente macarrão!"
Banal
Banais silêncios
(se os silêncios são banais)
do outro lado do mar
trazidos pelas vagas
da tempestade
enquanto os meus braços
te envolvem
de ternura azul
(se a ternura é azul)
no cinzento mesclado
dos beijos
que não damos
(se cinzentos são os beijos não dados)
do outro lado do mar
as palavras banais
(se as palavras são banais)
agora é o tempo inacabado
do nosso amor
(se o amor acaba em tempo).
Foto e poesia de Paula Raposo
Cancela
A moldura da nossa janela
aperta os rins da noite;
de lençol vestiu-se uma estrela,
a estrela chamada Cadente.
Na dobra azul da saia dela
guarda gotas de um velho poente
espera-o, mais ninguém consente;
a dobra agora chama-se Cancela.
Na moldura da nossa janela
a chuva passa entre os teus espaços;
de gotas vestiu-se uma estrela
o seu nome reflecte os teus traços.
Nos botões azuis da blusa dela
guarda casas dos teus olhos,
na porta espera os teus passos;
ao azul, chamou Cancela.
aperta os rins da noite;
de lençol vestiu-se uma estrela,
a estrela chamada Cadente.
Na dobra azul da saia dela
guarda gotas de um velho poente
espera-o, mais ninguém consente;
a dobra agora chama-se Cancela.
Na moldura da nossa janela
a chuva passa entre os teus espaços;
de gotas vestiu-se uma estrela
o seu nome reflecte os teus traços.
Nos botões azuis da blusa dela
guarda casas dos teus olhos,
na porta espera os teus passos;
ao azul, chamou Cancela.
22 abril 2010
beijo
vês?
chegámos de novo a Abril
e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas
os teus seios de oferendas
mil ensejos
mil moradas
o teu ventre abre-se em flor
e o tempo cruzas
na promessa de um prazer que é quase dor
ou quase sede
de que abusas
e a tua pele quando me acolhe
de veludo a maciez
mas quase ardência
nessa urgência em que eu pare e p’ra ti olhe
e ao de leve pressentir
numa premência
de ti um fremir quase ventura
que estremece
porque tanto
tanto me apetece
dos teus lábios a suave comissura
a minha língua toca-a
e os teus lábios recebem-me
e desenham-se em sorriso
e afogam-me
e bebem-me
sem aviso
chegámos de novo a Abril
e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas
os teus seios de oferendas
mil ensejos
mil moradas
o teu ventre abre-se em flor
e o tempo cruzas
na promessa de um prazer que é quase dor
ou quase sede
de que abusas
e a tua pele quando me acolhe
de veludo a maciez
mas quase ardência
nessa urgência em que eu pare e p’ra ti olhe
e ao de leve pressentir
numa premência
de ti um fremir quase ventura
que estremece
porque tanto
tanto me apetece
dos teus lábios a suave comissura
a minha língua toca-a
e os teus lábios recebem-me
e desenham-se em sorriso
e afogam-me
e bebem-me
sem aviso
«Excesso de Intimidade» - Crónica da semana na Sábado
Sempre me preocupou o excesso de intimidade entre os casais...
Bem sei o quanto a intimidade é importante, pois sim, mas tudo o que é demais, é demasiado.
Acho que falta, a muitas pessoas, preservar determinadas coisas que só interessam a si.
Quando estamos no início dos relacionamentos existem coisas que não questionamos, porque estamos apaixonados e aquela pessoa parece sempre perfeita, sempre tão atraente e desejável.
Mas quando passamos a partilhar o mesmo espaço, a descobrir determinadas coisas, pode ser assustador e existem mesmo situações em que o excesso de intimidade pode ser um veneno para a nossa química relacional. Vejamos por exemplo, o uso e partilha da casa de banho: muitos casais, adoptam um à-vontade tal, que parece que voltámos àquele tempo em que, em crianças, tínhamos os nossos pais como espectadores das nossas poses no bacio.
Alguém me explica o sentido de estar sentado na retrete de revista na mão enquanto o(a) companheiro(a) faz a barba, ou toma duche?
Alguém pode achar atractivo que o(a) parceiro(a) saque à sua frente daqueles aparelhos que tiram os pêlos de todos os orifícios do corpo, pêlos que nós quase nem imaginávamos que existissem? Alguém poderá achar interessante ver a companheira com as pernas cheias de creme depilatório e rolos na cabeça?
Existem coisas que são do nosso espaço e que são nossas, que apenas deviam existir por detrás de uma porta fechada para não corrermos o risco da química se perder.
Claro que todos sabemos que existem pêlos em determinados sítios e que são retirados para não serem encontrados; todos sabemos que existem tampões, pensos higiénicos e necessidades fisiológicas... mas daí a vê-los, ouvi-los e cheirá-los vai uma grande distância...
Importam-se de oferecer as vossos amigos que vão viver juntos pela primeira vez, aquela coisa fantástica que se coloca na porta e avisa: «Não incomodar, se faz favor»? Garantidamente não imaginam o bem que lhes fará, porque eles até podiam viver sem ela, mas não era a mesma coisa....
______________________
Nota da ediSão - recomendo a visita semanal às crónicas «Sexo Tabu» da Vânia Beliz na revista Sábado, às terças-feiras. Estão aqui.
Bem sei o quanto a intimidade é importante, pois sim, mas tudo o que é demais, é demasiado.
Acho que falta, a muitas pessoas, preservar determinadas coisas que só interessam a si.
Quando estamos no início dos relacionamentos existem coisas que não questionamos, porque estamos apaixonados e aquela pessoa parece sempre perfeita, sempre tão atraente e desejável.
Mas quando passamos a partilhar o mesmo espaço, a descobrir determinadas coisas, pode ser assustador e existem mesmo situações em que o excesso de intimidade pode ser um veneno para a nossa química relacional. Vejamos por exemplo, o uso e partilha da casa de banho: muitos casais, adoptam um à-vontade tal, que parece que voltámos àquele tempo em que, em crianças, tínhamos os nossos pais como espectadores das nossas poses no bacio.
Alguém me explica o sentido de estar sentado na retrete de revista na mão enquanto o(a) companheiro(a) faz a barba, ou toma duche?
Alguém pode achar atractivo que o(a) parceiro(a) saque à sua frente daqueles aparelhos que tiram os pêlos de todos os orifícios do corpo, pêlos que nós quase nem imaginávamos que existissem? Alguém poderá achar interessante ver a companheira com as pernas cheias de creme depilatório e rolos na cabeça?
Existem coisas que são do nosso espaço e que são nossas, que apenas deviam existir por detrás de uma porta fechada para não corrermos o risco da química se perder.
Claro que todos sabemos que existem pêlos em determinados sítios e que são retirados para não serem encontrados; todos sabemos que existem tampões, pensos higiénicos e necessidades fisiológicas... mas daí a vê-los, ouvi-los e cheirá-los vai uma grande distância...
Importam-se de oferecer as vossos amigos que vão viver juntos pela primeira vez, aquela coisa fantástica que se coloca na porta e avisa: «Não incomodar, se faz favor»? Garantidamente não imaginam o bem que lhes fará, porque eles até podiam viver sem ela, mas não era a mesma coisa....
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Nota da ediSão - recomendo a visita semanal às crónicas «Sexo Tabu» da Vânia Beliz na revista Sábado, às terças-feiras. Estão aqui.
Cândida: conto de papel
A casa no folheto, amor. Só olho. Só olho. Só olho. Mas faço os caminhos à volta em palavras soltas; peças do dominó que tirei do armário. A casa no folheto dói, amor, quando o amor não tem casa. Não espalhes o meu dominó. Não tropeces com tanta força nas minhas palavras. Eu assusto-me; vejo os meus caminhos lançados aos tropeções pelo ar e assusto-me. Não, as portas ainda não me endureceram. Sim, deviam ter endurecido. Sim, assusto-me. Não, amor, mais não. Até a casa do folheto me assusta. Porque tudo pode passar e a casa nunca sair do folheto. E se a casa existe - eu sei que existe - se calhar é a minha vida que é feita de papel. Papel humedecido em sonhos de dominó não endurece; palavras rasgadas aos tropeções.
O mistério do discóbolo sem disco
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