14 junho 2010
XIII Encontra-A-Funda - uma cedilha na Pica
fui-me à Pica a Cucujães para um encontro de pica
com alguns filhos e mães que a saudade fornica
pelo caminho a cedilha que no bolso transportava
cravou-se-me na virilha - dali não sai nem por nada
há pois cedilhas danadas que num encontro de amigos
em se sentindo encostadas só olham p’ra seus umbigos
esta então - e por preceito - lança em redor atenção
a todo o umbigo de jeito - o que faz sem contenção
é pois cedilha das finas - veio à Pica por prazer
a fazer-se de menina que dá bola até sem querer
à cautela então te peço
amiga se me abraçares
mede o aperto que eu meço
não vá ela dar-se a ares
e em momento perverso
quando menos esperares
vai-se a cedilha à Taberna
bebe uns copos fica terna
e pede-te para a agarrares
que ela é cedilha com pica
indómita - garganeira
se lhe tocas ela estica
cola-se à Pica matreira
… e fica de outra maneira
quem na viu – quem na sentiu nessa nova condição
da cedilha garantiu ser ponto de exclamação!
- No rescaldo da XIII Encontra-A-Funda – 12 e 13 de Junho de 2010 - outro momento bem passado, na Taberna da Pica, algures entre Cucujães e a Oitava Avenida...
com alguns filhos e mães que a saudade fornica
pelo caminho a cedilha que no bolso transportava
cravou-se-me na virilha - dali não sai nem por nada
há pois cedilhas danadas que num encontro de amigos
em se sentindo encostadas só olham p’ra seus umbigos
esta então - e por preceito - lança em redor atenção
a todo o umbigo de jeito - o que faz sem contenção
é pois cedilha das finas - veio à Pica por prazer
a fazer-se de menina que dá bola até sem querer
à cautela então te peço
amiga se me abraçares
mede o aperto que eu meço
não vá ela dar-se a ares
e em momento perverso
quando menos esperares
vai-se a cedilha à Taberna
bebe uns copos fica terna
e pede-te para a agarrares
que ela é cedilha com pica
indómita - garganeira
se lhe tocas ela estica
cola-se à Pica matreira
… e fica de outra maneira
quem na viu – quem na sentiu nessa nova condição
da cedilha garantiu ser ponto de exclamação!
- No rescaldo da XIII Encontra-A-Funda – 12 e 13 de Junho de 2010 - outro momento bem passado, na Taberna da Pica, algures entre Cucujães e a Oitava Avenida...
13 junho 2010
O resto
Falo-te de algo que não sabes,
como uma borboleta que nasce
e tu não entendes o sentido
- falo-te na mesma -,
nessa tua exaustão alheada.
Não conheces por que não queres;
não te interessa (finges que lês);
não prestas a mínima atenção:
mas eu falo-te, mesmo assim.
Um dia regressas.
As palavras pouco podem
explicar,
nada significam.
Da partida nada resta.
O resto: nada representa.
Foto e poesia de Paula Raposo
12 junho 2010
Azul
Saltam à rua as personagens de um teatro de madeira. O palco empedrado chama-se passeio. E as pessoas seguem e têm uma melodia própria quando os seus sons se juntam, como se fossem andorinhas. Algumas já não seguem. Eu já vi morrer. Mas não faz mal, já não faz mal, já não dói muito, agora; agora já passou.
Andei mais... Fui jogando o jogo de contar as pedras do passeio e não pisar os riscos.
Ele estava lá e esperava-me. Acho que sempre esperou; parece-me que sim porque as estantes em volta estavam cheias, sentava-se no meio de tantas páginas enquanto escrevia, e as páginas esperam sempre por nós, esperam-nos a vida inteira durante uma vida inteira. Quem sou eu agora, escuta-me, saberás qual o livro meu? Sinto-me perder os dias que não fazem páginas; ao menos quando as letras avançam, mesmo sem dó nem piedade, nunca se perdem, só repousam num silêncio branco, bonito, tudo o que os dias foram.
Ofereces-me os teus braços. Tens pena, dizes tu, de ter os bolsos vazios e nada, assim, para oferecer. Não saberás tu que nada de verdadeiramente importante se pode guardar em bolsos? Sabes, eu tenho medo do que ainda aí vem e do que possa não vir. Por isso me ofereço aos teus dedos e ao teu peito, eles que me escrevam a história e me amparem nas linhas.
Andei mais... Fui jogando o jogo de contar as pedras do passeio e não pisar os riscos.
Ele estava lá e esperava-me. Acho que sempre esperou; parece-me que sim porque as estantes em volta estavam cheias, sentava-se no meio de tantas páginas enquanto escrevia, e as páginas esperam sempre por nós, esperam-nos a vida inteira durante uma vida inteira. Quem sou eu agora, escuta-me, saberás qual o livro meu? Sinto-me perder os dias que não fazem páginas; ao menos quando as letras avançam, mesmo sem dó nem piedade, nunca se perdem, só repousam num silêncio branco, bonito, tudo o que os dias foram.
Ofereces-me os teus braços. Tens pena, dizes tu, de ter os bolsos vazios e nada, assim, para oferecer. Não saberás tu que nada de verdadeiramente importante se pode guardar em bolsos? Sabes, eu tenho medo do que ainda aí vem e do que possa não vir. Por isso me ofereço aos teus dedos e ao teu peito, eles que me escrevam a história e me amparem nas linhas.
Osho e a palavra «foda»
Segundo Osho, depois de Friedrich Nietzsche ter declarado que «Deus está morto», a palavra «foda» tornou-se a mais importante da língua inglesa.
11 junho 2010
é que só andamos cá porque...
- destinado a ser dito no próximo Encontra A Funda, em Cucujães. O último verso de cada estrofe poderá ser entoado em coro, se a distinta audiência para aí estiver virada...
podes dizer-me o que quiseres
de mais - de menos
podes falar do coração
de amores pequenos
entre um ou dois ou três ou mil compères
ou até daqueles maiores
que fazem escola
podes dizer-me até ser a bitola
de que são feitas as cores
do universo
podes falar-me de flores
e até de um verso
mas por certo
por mais certo o que nós temos
é que só andamos cá porque fodemos
podes dizer-me o quanto queres
de romantismo
podes dizer-me de outros seres
de algum abismo
ou quereres até saber se eu não cismo
com o mundo de dolências do asceta
ou da pena perturbada do poeta
que suspira de amor em cada alento
podes gritar até «- ai que eu rebento!»
sem saber o que tens aí por dentro
mas no fundo é o quanto todos temos
pois que só andamos cá porque fodemos
será pouco
muito pouco – não importa
será pouco em vão de escada ou porta a porta
mas é tudo o que temos de mais certo
nesta vida p’ra que seja conseguida
mas por mais que o caminho seja aberto
e a passada seja coisa perseguida
há-de sempre vir de lá algum experto
que entrave e grave a fogo nesta vida
o pavor de haver sede no deserto
quando enfim o que de certo nós temos
é que só andamos cá porque fodemos
podes dizer-me então o que souberes
falar-me de um amor aluarado
de um abnegado amor
cozido pelas regras de mercado
de um amor maior
por outro lado
que sem olhar a homens ou mulheres
se descobre sem pudor e sem recato
em campestre vergel ou fero mato
ainda assim te direi por certo temos
só andarmos todos cá porque fodemos.
podes dizer-me o que quiseres
de mais - de menos
podes falar do coração
de amores pequenos
entre um ou dois ou três ou mil compères
ou até daqueles maiores
que fazem escola
podes dizer-me até ser a bitola
de que são feitas as cores
do universo
podes falar-me de flores
e até de um verso
mas por certo
por mais certo o que nós temos
é que só andamos cá porque fodemos
podes dizer-me o quanto queres
de romantismo
podes dizer-me de outros seres
de algum abismo
ou quereres até saber se eu não cismo
com o mundo de dolências do asceta
ou da pena perturbada do poeta
que suspira de amor em cada alento
podes gritar até «- ai que eu rebento!»
sem saber o que tens aí por dentro
mas no fundo é o quanto todos temos
pois que só andamos cá porque fodemos
será pouco
muito pouco – não importa
será pouco em vão de escada ou porta a porta
mas é tudo o que temos de mais certo
nesta vida p’ra que seja conseguida
mas por mais que o caminho seja aberto
e a passada seja coisa perseguida
há-de sempre vir de lá algum experto
que entrave e grave a fogo nesta vida
o pavor de haver sede no deserto
quando enfim o que de certo nós temos
é que só andamos cá porque fodemos
podes dizer-me então o que souberes
falar-me de um amor aluarado
de um abnegado amor
cozido pelas regras de mercado
de um amor maior
por outro lado
que sem olhar a homens ou mulheres
se descobre sem pudor e sem recato
em campestre vergel ou fero mato
ainda assim te direi por certo temos
só andarmos todos cá porque fodemos.
A posta no capítulo a seguir
O olhar que me ofereces, esse amar que fortaleces contra todas as expectativas, essa vontade de manter (cada vez mais) vivas as certezas de um futuro promissor no qual consideras essencial a minha presença efectiva, não como uma figura decorativa para exibir numa qualquer condição ou para preencher temporariamente uma omissão num domínio qualquer.
O sorriso de uma mulher, transparente, uma sensação melhor, tão diferente da que nos depara todos os dias em rostos hipócritas que nos tentam impingir emoções quando apenas pretendem manter ligações oportunistas na fachada de ilusões contrabandistas que despertam a chama em si.
Um sorriso acolhedor, uma sensação sempre melhor que abraça o olhar que pouso nos lábios que beijo a seguir.
O cheiro que me faz sempre lembrar o motivo que me leva a insistir nessa miragem, nessa hipótese num milhão de ao longo da viagem não precisar da memória para reviver dentro de mim uma história que ambos provamos não ter pressa de conhecer o seu fim.
O sorriso de uma mulher, transparente, uma sensação melhor, tão diferente da que nos depara todos os dias em rostos hipócritas que nos tentam impingir emoções quando apenas pretendem manter ligações oportunistas na fachada de ilusões contrabandistas que despertam a chama em si.
Um sorriso acolhedor, uma sensação sempre melhor que abraça o olhar que pouso nos lábios que beijo a seguir.
O cheiro que me faz sempre lembrar o motivo que me leva a insistir nessa miragem, nessa hipótese num milhão de ao longo da viagem não precisar da memória para reviver dentro de mim uma história que ambos provamos não ter pressa de conhecer o seu fim.
Guia de Prevenção de Suicídios
Às vezes, devemos deixar que a vontade do suicida ocorra normalmente.
Portanto, usem a tática com moderação, e somente se vocês tiverem certeza.
Capinaremos.com
10 junho 2010
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