12 junho 2010

Azul

Saltam à rua as personagens de um teatro de madeira. O palco empedrado chama-se passeio. E as pessoas seguem e têm uma melodia própria quando os seus sons se juntam, como se fossem andorinhas. Algumas já não seguem. Eu já vi morrer. Mas não faz mal, já não faz mal, já não dói muito, agora; agora já passou.

Andei mais... Fui jogando o jogo de contar as pedras do passeio e não pisar os riscos.

Ele estava lá e esperava-me. Acho que sempre esperou; parece-me que sim porque as estantes em volta estavam cheias, sentava-se no meio de tantas páginas enquanto escrevia, e as páginas esperam sempre por nós, esperam-nos a vida inteira durante uma vida inteira. Quem sou eu agora, escuta-me, saberás qual o livro meu? Sinto-me perder os dias que não fazem páginas; ao menos quando as letras avançam, mesmo sem dó nem piedade, nunca se perdem, só repousam num silêncio branco, bonito, tudo o que os dias foram.

Ofereces-me os teus braços. Tens pena, dizes tu, de ter os bolsos vazios e nada, assim, para oferecer. Não saberás tu que nada de verdadeiramente importante se pode guardar em bolsos? Sabes, eu tenho medo do que ainda aí vem e do que possa não vir. Por isso me ofereço aos teus dedos e ao teu peito, eles que me escrevam a história e me amparem nas linhas.

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