18 junho 2010

Paula Raposo em fotos e ao telefone no programa «Você na TV» da TVI





A(s)sexuallidade

Flores... Mas eu gosto de cactos. Os cactos são bonitos, maravilhosos. Se gostares de cactos ou se não gostares de cactos, podes dizer-me porque é que ninguém gosta de cactos? (Alguém é pessoa).

A posta que sei mesmo

Eu sei o que é o amor.
Ou melhor, acredito nesse pressuposto com a mesma intensidade que outras pessoas dedicam à Fé.

Claro que não nasci ensinado e os pais nunca têm muito tempo ou jeito para nos explicar esse mistério da vida, pelo que lá fui percorrendo os caminhos ou os calvários que fazem parte do doloroso processo de aprendizagem que envolve tanta ruptura e subsequente desilusão.
É que os outros, no meu caso concreto as outras, também não nascem ensinados e nos primeiros tempos da paixão pode aplicar-se a velha máxima de que quando a pessoa não sabe dançar até parece que a pista está torta.
Esta fase, que julgamos sempre ultrapassada no final da tempestuosa adolescência, pode ser a responsável por tudo o que sabemos (ou não) acerca do amor. Mas também pode não fazer a mínima diferença.
E depois andamos, adultos, de volta das cábulas para não metermos o pé na argola outra vez.
Mas nem é o caso, o meu.
Eu sei o que é o amor.
Sei como o sinto, sei como o anseio, sei como o abraço como a única coisa digna de ser vivida ao longo do tempo que o acaso me oferecer.
Até acredito que sei como é isso do amor nos outros (nas outras, que eu sou muito cioso das minhas preferências), que o identifico no carinho de um gesto ou na luminosidade de um olhar.
São manias, bem sei, mas os outros acreditam no Divino e eu não me ralo nada com isso.
O amor não é visível, por ser um conceito abstracto, senão nas suas manifestações.
O que se faz e o que se deixa por fazer. O que se diz e o que se faz. O que se revela de empenho, de vontade, de necessidade, de resistência.
É esse o amor que se vê, que eu vejo com a clareza bastante para me arvorar da autoridade de dizer que sei o que é.
E depois há o amor que se faz na cama que não nos deixa mentir. O amor acaba por se exprimir no meio da voracidade carnal, é transparente, enquanto o sexo é amante mas acelera o coração por mera fadiga e a emoção é muito mais de arritmias.
E ainda há o amor incondicional, não é utopia, aquele que fala sempre mais alto do que os obstáculos e os sentimentos mesquinhos que lhe surjam pela frente, que o atrapalham, e nunca mente na hora de se provar genuíno, sem condições.
A sua sinceridade espontânea, coitado, até é o que o deixa, muitas vezes, em maus lençóis.

Labirintos

São labirintos e labirintos,
linhas paralelas,
perpendiculares,
intersecções;
partidas e regressos.

São labirintos inesgotáveis
de partidas ansiadas
( regressos imaginados)
e o caminho faz-se
na volta reclamada
de um desejo incumprido.

Nunca gostei de labirintos.

Poesia de Paula Raposo

Olho por olho...



Ulrique, o Justo


1 página

oglaf.com

17 junho 2010

40

Abres os olhos. Fechas e abres os olhos novamente. Outra vez. Estás confuso. Julgavas que estavas a sonhar. Vês tudo baço e dói-te a cabeça. Estás sentado à beira da cama. Olhas em redor com uma crescente sensação de asfixia. Sentes a falta de ar e o quarto parece ganhar vida. As paredes movem-se. Esbracejas. Bates com as palmas das mãos no colchão. As paredes, ora imóveis ora ondulantes, mudam de cor. Há uma de que gostas particularmente, tentas retê-la como se isso fosse importante mas não consegues. Irritas-te. Esqueces a cor. Esqueces as paredes. Estás assustado. Queres perceber se estás a fazer alguma coisa mal no acto de respirar pois não está a resultar. Não tens oxigénio nos pulmões. Lembra-te… Lembra-te… Ergues os braços. Ao longe, no que te parece muito ao longe, vês os teus pés nus a contorcerem-se sem tocarem o chão, não os sentes. Não és assim tão alto. Não percebes porque estão tão longe. Obrigas-te a pousa-los. Não sentes o frio do chão na planta dos pés. Não gostas. Inspiras. Tornas a inspirar. Os braços erguidos não resultam. O estares a inspirar repetida e profundamente também não. Não há ar. Não há paredes. Não há cores. Lembra-te. Foca-te. Esquece-te que não tens ar. Pensa noutra coisa qualquer. Não gostas de imperial com groselha mas, também, já ninguém bebe. Não resulta. Não achas que tenhas inspirado apesar de não estares a pensar nisso. Muda de estratégia: lembra-te. Lembra-te como respirar. Inspirar. Sentes-te desfalecer. Inclinas-te para trás ao sentir que te vais estatelar para a frente. Decides que vais deixar o álcool e as substâncias ilícitas. Hesitas. Recuas na tua decisão. Respirar é bom mas… e o resto? Impões uma condição: deixas o álcool e as substâncias ilícitas se te safares. Melhor, se te safares desta e enquanto te lembrares. Lembra-te! Não tens qualquer sentido de profundidade. As paredes vão-te comprimir até seres sumo. O tecto desce para te esmagar, no fim, ficarás uma panqueca seca. O tecto ainda não te tocou mas já te sentes a encolher. E o ar? Baixas os olhos. Vês os teus pés moverem-se aleatoriamente. Deixas cair os braços que tinhas esquecido erguidos. Pousas as mãos no colchão. Plástico. Olhas em volta. Plástico. Látex. Este quarto não é teu. Esta cama não é tua. Estás nu. Não tens roupa nem ar. As cores já não fazem sentido. Os sons diluem-se num burburinho incompreensível. Os gestos salpicam-se de actos falhados, de erros grosseiros. Sufocas. Vais desistir. Deixas de pensar. De ser. Vês o teu braço esquerdo erguer-se lentamente, em câmara lenta. Fechas o punho. Ar. Inspiras. Inspiras. Tosses. As paredes voltam ao lugar. O tecto sobe. Os pés sentem o chão frio. Tens de sair da cama. Levantas-te. Dás um passo e viras-te. Espantado, vês a cama e uma mulher. Incrédulo, recuas um passo, sobre a cama uma mulher num coleante fato negro de látex. Tem uma máscara que só te deixa ver os olhos. Brilhantes. Sorridentes. Satisfeitos. Segura na mão um plástico translúcido. O objecto da tua asfixia. Película aderente. Decides acrescentar as mulheres que usam película aderente com fins recreativos no que te está interdito. Inspiras. Sorris aliviado mas não mostras o sorriso: podes voltar a beber e a consumir substâncias ilícitas, o problema não estava aí: são as mulheres que usam película aderente fora da cozinha é que vais ter de evitar. Não percebes. Não percebes nada. “E como é que vou saber?” perguntas-te, baralhado.
– O quê? – pergunta-te a mulher.
– O quê, o quê? – repetes espantado, certo de não teres verbalizado a dúvida.
– O que é que não sabes como vais saber? – elucida-te ela, certeira, acabando definitivamente com a tua certeza de só teres pensado como é que irias reconhecer as mulheres que usam película aderente fora da cozinha.
Emites um som, um silvo agudo, enquanto bates no peito, como se isso te ajudasse a respirar, a inspirar. Pensas na resposta que podes dar mas ela antecipa-se e passa à frente voltando atrás:
– E então? – ouves perguntar. É uma voz interessada, preocupada, quer genuinamente saber. – Gostaste?
– Ah… – balbucias para não repetires o silvo agudo enquanto repões o oxigénio nos pulmões e tentas saber quem és e o que fazes ali. Ouves e observas com atenção mas não reconheces a voz, nem os olhos.
– Tínhamos combinado a mão direita – ouves a voz feminina dizer-te em tom meramente informativo – mas pareceu-me que era tempo a mais…
Estás parado a olhar para a cama, para ela na cama, para a cama no quarto, para ti ao lado da cama. Estás em pé. Vês que estás em pé e só consegues pensar na cama. As pernas fraquejam e obrigam-te a pensar na cama. Dás um passo e aproximas-te da cama. Devias sentar-te. Deitar-te. Na cama. Os olhos dela brilham mais. A custo, com sacrifício, manténs-te em pé junto à cama, como se isso fosse fundamental, essencial, vital. Custa-te. Não te deves sentar. Não deves regressar à cama, parece-te. Reparas no decote. No deslumbrante conteúdo do decote. Convences-te que Deus existe e tem bom gosto. Passas a mão pela boca para confirmar que não te estás a babar. Podias estar. Pões em causa a tua última decisão, provavelmente deves, tens!, de voltar à cama e nem todas as mulheres que manuseiam película aderente com destreza e para fins meramente recreativos merecem ser ostracizadas. Condescendes sem tirar os olhos do decote: deve ter havido um mal-entendido e ela merece uma segunda oportunidade.
– E, ainda por cima, não resultou – ouves a voz feminina concluir com um acentuado tom de desprezo e decepção, interrompendo-te na análise das tuas resoluções.
“O que é que não resultou?” pensas, tentando que os teus olhos se descolem da linha irresistível que se forma entre as mamas da mulher. “Eu ainda estar vivo?”
Cama. Fraquejas. Olhas para a cama. As pernas pesam-te. Olhas só para a cama. Suspiras profundamente. Dás um passo. Cansas-te. Estás em pé junto à cama. Não aguentas e encostas os joelhos à cama. Cama. Bem te podias sentar. Aproximar-te…
– É pena – ouves, ao mesmo tempo que sentes uma mão envolta em látex acariciar-te os testículos, puxar-te o pénis para baixo, levantá-lo. – Não sei o que te faça – diz a máscara com um risinho breve.
Estás dormente. Mais dormente. As pálpebras pesam e a visão turva-se. Passas a mão pela cara, para garantir que não estás novamente envolto em película aderente. Os joelhos fincam-se na parte lateral do colchão.
Ela dá-te palmadas nos testículos, enquanto te levanta o pénis. A mão enluvada agarra-o, aperta-o, sacode-o e bate-lhe. Nada.
– Não sei que raio de merda é esta – constata ela, friamente.
– Estou cansado – justificas num sussurro envergonhado.
Ela dá uma gargalhada forte, tonitruante, que te parece mal, muito mal.
– Não estou a falar nisso – diz ela, sem parar de rir.
Engoles em seco.
– Então?
Com a mão esquerda, ela encosta-te o pénis flácido ao corpo e, agarrando-os por baixo, exibe-te os testículos.
– Estou a falar disto – anuncia, trocista. – Do expurgo pintelhal.
– Do quê?
– Da depilação dos tomates! – Ela dá uma gargalhada, que interrompe: – Há alguém a mandar que se depilem?
– Não gostas?
– Parecem uns rapazitos – deprecia-te ela, examinando-te sem cuidado. – Pelo menos tu só rapaste os colhões… Menos mal!
Não respondes. Ainda não te lembras como vieste ali parar.
– E agora? – pergunta-te a mulher.
– Agora?
– Sim – responde ela com uma careta que não vês mas sentes no tom de voz e nas mãos que te largam. – E agora como é que vamos fazer?
– Fazer?
– Sim, e agora como é que me vais comer outra vez?
Olhas para baixo mas não para os pés – os pés não interessam nada: estão lá e sentem o chão, pronto. Ah! Tens de cortar as unhas, reparas.
– Não consigo… – lamentas lentamente em resposta.
– E com outra pessoa?! – replica ela, com estranha simpatia.
– Com outra pessoa?
– Disseste o “não consigo” tão devagar que parecia que tinha virgula – explica e imita com voz arrastada: – Não, consigo não.
– Eu não disse o segundo não.
– Parecia que ias dizer.
Ela leva as mãos à nuca e abre um pouco o fecho éclair que fecha a máscara atrás. Olhas ansioso com a possibilidade de a veres, de a reconheceres.
Ela pára e depois de te olhar atentamente pergunta mostrando os dentes num sorriso simpático:
– Tu não te lembras de nada, pois não?
Coças a cabeça com o indicador direito e acenas que não.
Ela ri sem troçar.
– Estás bem disposto? – pergunta.
– Estou – dizes depois de confirmares e te espantares por estares. – Mas não me lembro mesmo de nada – confessas. – O que é que aconteceu? Quem é a senhora?
– Uh… – arrepia-se a mulher. – Senhora?!... Depois de tudo o que passámos e fizemos juntos agora tratas-me por senhora?
– Eu não sei o que passámos, nem o que fizemos. – Sentes mais força nas pernas e desencostas os joelhos da cama. – Só me lembro de si a tentar matar-me por asfixia, mais nada.
– E de fazeres quarenta anos ontem?
– Ah… Vagamente… – reconheces.
– E do jantar? E da continuação do jantar? – Ela vai perguntando e tu vais acenando em jeito de pouco, lembraste pouco. – E a seguir? E a prenda?… E da minha prenda? – Ela senta-se com os pés fora da cama. – Nada?
– Pouco.
Ela levanta-se. Tu segue-la só com o olhar. Sentas-te na cama vazia. A mulher é linda. Grande e linda. Comprida e perfeitamente torneada. Tem uma cicatriz por trás do joelho direito. Vira-se para ti. Segura uma câmara de vídeo. Sentes que o ar se esvai novamente e que não o consegues repor. A câmara suga o oxigénio que te é necessário. Voltas a ver cores. Não. Vês apenas vários tons de cinzento. A mulher sorri-te.
– Ainda bem que filmámos tudo – diz. O plural enche-te os pulmões. – A noite dos teus 40 anos!
A mulher aproxima-se, sorridente. Retira uma pequena cassete da máquina. Estende-a na tua direcção. Beija-te na face.
– Parabéns – diz-te enquanto te beija. – Gostei muito… – diz-te quando te dá a cassete. Sorri. – E vais ver que tu também gostaste.

Lançamento do Livro "AFRODITE" - Convite


A Editora Lugar da Palavra e a Autora convidam V. Ex.ª e família a estar presente no lançamento do livro AFRODITE, de Paula Moreira (Maria Escritos) a realizar no dia 3 de Julho pelas 21,30h na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim (Rua Padre Afonso Soares).
Apresentação do livro e da Autora por Elvira Almeida e Augusto Canetas.
Esta obra que tem o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, tem agendado ainda um pré-lançamento a realizar no dia 27/06 no Clube Literário do Porto.

Paula Moreira (Maria Escritos) é natural do Porto, mas adoptou a Póvoa de Varzim para sua residência. A sua escrita surge como complemento às artes decorativas, actividades que mantém como hobbie.

"Afrodite", é uma obra de poesia de carácter erótico, totalmente dedicada ao Amor, pelo Amor de Amar.
Para além dos trabalhos da autora, este livro de 64 páginas contém fotos de Nuno de Sousa (Fotógrafo) e Aurélio Mesquita (Argo).

"Deliciosamente ligada à Mitologia Grega através da heroína AFRODITE, Deusa Grega da Beleza e do Amor e cuja origem é contada na Introdução deste Volume, cada poesia, cada letra escrita, vai ligando, num elo indissociável, os vários factos mitológicos que levam ao Amor/Paixão, ao Amor Sexual.
Este Livro de Paula Moreira, vai contribuir para que seja dado mais um passo importante no sentido de, mais do que difundir o Amor, reinventar o AMOR!"

Elvira Almeida

«Durex Baby» - como convencer os homens a usarem preservativo

Durex Baby from Peter Ammentorp Lund on Vimeo.

Pequeno depoimento de duas bolas

No último encontro d'a Fundasão recebi duas bolas cor de rosa presas por um cordelinho.
Fiquei a saber que servem para exercitar os músculos vaginais.
Foi com grato prazer que concluí (depois da experiência) que os meus músculos estão em plena forma.
Pelo que me apercebi, as bolas não caíram e até foram subindo...
Felizmente que existe o cordelinho para puxar.
A Vânia Beliz também me explicou que não convém usar durante muito tempo porque podemos ficar inflamadas e isso não é bom.

Obrigada, São, por seres sempre tão atenciosa com as tuas amigas: mais um presentinho para a minha colecção!

16 junho 2010

Pequena Carta do Homem à Mulher

No teu olhar o canto ardido das palavras, essa força sensual onde se vertem numa fremente desarrumação, o verbo sibilante, paixão.
Esses olhos que me olham em pólvora de tão perto que eu ardo nessa massa imensa de poemas.
Alvura perdida onde por vezes morro de silêncio na quebrada dos quatros elementos desse teu olhar ardente.
Uma fantasia nunca esquece o orgão doce de cabelo quente, que nos enlaça nos quadris negros e molhados. A loucura tem mel, o teu, algures quieto á espera duma largura afogada. É inocente a teia sensível da desordem com que tu me tocas, no escuro , por esse canal vivo de coroa em labaredas...
O meu pénis abraça-te no poema que aqui para ti soletro. Tu sempre incendeias a carne suada que se desfaz na semente grave. O corpo é um forno de sexo, o teu, ânus uma queimada onde se morre na ardência vertical, demoníaca .
Meu sonho mulher, é morrer entre o côncavo lume implacável arfando no remoinho cego, baixo e violento.

[Blog Vermelho Canalha]

Rabiscos

Caso venhas, não me digas...

Perguntarei ao tempo que nada me dirá.

Que o tempo sabe que prefiro sentir-te chegar.
Caso chegues, não me digas...

Em todas as vezes, prefiro sentir-te chegar.

Porque assim saberei se ainda és tu quando chegas.

Caso não venhas nunca mais, não me digas...

Perguntarei à saudade que nada me dirá.
Que a saudade sabe que prefiro não saber.

Porque assim saberei que já não sou eu nunca mais
no dia em que já não existir saudade a quem perguntar por ti.

Agora que já te disse, já sabes.
Agora que já sabes já podes tudo o que não digas.
Eu já posso escutar os mudos traços que não digas
às gavetas do meu corpo emprestados.
Gavetas destas nunca estão cheias, estão abertas e antes

espalham-se pelas casas intermináveis, de cheiros intermináveis.

Caso me toques, não me digas.
Perguntarei ao peito que nada me dirá

que o peito sabe que prefiro sentir-te tocar
cara a cara, olharei o meu corpo
se estiver nu, eu despi.
Caso me olhes, não me digas.
Olhar-te-ei sem nada perguntar.