Existem as emoções e as palavras que são delas. Eu sei que amor é amor e a palavra amor é a palavra amor. Eu sei que as emoções podem existir mesmo que não sejam ditas. Sei que existem assim mesmo, na mudez total. Existem mas eu posso sempre tentar amarrá-las; tentar que se mantenham numa existência entre cordas, imóveis e silenciosas num qualquer canto confortável. Por isso é que não digo a palavra. Porque é mais fácil acreditar que posso amarrar a emoção se amarrar a palavra que é dela. Absurdo? Sim, porém enquanto nisto eu conseguir acreditar - há tantas coisas em que acreditamos apenas porque mantêm o mundo arrumado - tentarei amarrar palavras; acreditarei que posso ser cega como os mudos. Tens que entender; eu tenho estas amarras porque tu tens outras amarras e então nós já não temos nós nos laços. Mas, assim, ainda temos nós. Permite-me um placebo, este.
05 julho 2010
04 julho 2010
As palavras
Um dia existiram palavras.
As palavras ficaram guardadas
-até um outro dia-
e encheram-se de bafio.
São bafientas as palavras
que se guardaram
(porquê?);
porque sim.
As palavras não se devem guardar:
existem para serem ditas
(escritas);
para se machucarem, amarem,
destruírem e se reconstruírem.
As palavras vivem
na vida de nós.
Poesia de Paula Raposo
As palavras ficaram guardadas
-até um outro dia-
e encheram-se de bafio.
São bafientas as palavras
que se guardaram
(porquê?);
porque sim.
As palavras não se devem guardar:
existem para serem ditas
(escritas);
para se machucarem, amarem,
destruírem e se reconstruírem.
As palavras vivem
na vida de nós.
Poesia de Paula Raposo
03 julho 2010
Capacidade de observação é isto
No 13º Encontra-a-Funda, quando visitámos o Museu da Chapelaria em S. João da Madeira, toda a gente viu esta máquina e ouviu atentamente a explicação do nosso guia. Mas a Salomé observou a máquina de um ângulo específico e ofereceu-me a fodografia, que baptizou de...
«Máquina Multifuncional»
Obrigada, Salomé. A ti, ofereço-te esta fodografia da colecção do Museu, em que me limitei a destacar...
O ataque dos conos encavalitados
«Máquina Multifuncional»
Obrigada, Salomé. A ti, ofereço-te esta fodografia da colecção do Museu, em que me limitei a destacar...
O ataque dos conos encavalitados
A prostituta azul (VII)
A dor que não dói na ferida é dor que dói na dor. Quando nem ferida existe é - por vezes - a dor dos que gozam a vida que sentem, porque algo sentem, nem que dor seja. Assim, poderá a dor dar um gozo obsceno, quase violento aos que a sentem, se antes incapazes de algo sentir ou incapazes de outra coisa sentir. Só quem morre não sente; eu vi a dor ressuscitar de prazer quem se julgava condenado a uma morte colada ao nome. O toque cruel, vestido de violência fria, estalava na pele submissa, nua; despertava do sono as gargalhadas de pasmo inundadas, roucas de um desprezo recém-adquirido pelo entorpecimento. Tudo estava duro, nítido; a realidade fervia uma ejaculação precoce que agora poderia escorrer numa doçura de contrastes vivos, tão vivos, apiedados. E ela? Ela bateu-lhe mais, por dó, por pena, por delicadeza, por compaixão; bateu-lhe mais, bateu-lhe até ao princípio. O homem deixou a morte, deixou os papelinhos coloridos de feio e foi-se embora. Ela morreu um pouco que nunca mais reanimou e nunca mais o reanimou.
Três reproduções dos anos 60 de desenhos eróticos
Nem sempre as compras pela internet dão certo. Neste caso, estes três desenhos estavam descritos como originais. Quando os recebi, vi claramente que são reproduções. Não deixam de ser interessantes... e a vendedora aceitou reembolsar-me a diferença para um valor justo.
«Peregrinação» (11 x 40 cm):
«Peregrinação» (11 x 40 cm):
02 julho 2010
Para Ti da Minha Boca
Escrevo-te eu toda, no desejo que me envolve as ancas, como num beijo teu...
A boca é uma atmosfera onde se abre o teu clima.
Toda ela fervilha, redonda, ao cimo, no caroço.
A nua polpa asfixia a garganta.
É o nervo que te entrelaça na minha carne.
Boca viagem, que te absorve, gesticula, acaricia, aspira as tramas do sangue. Respira-te.
Dói. Em volta. No gole. Queima-te as asas na labareda, na potência da minha garra. Pulsante. Inteira.
Na boca, só o teu silêncio se gasta nas tentativas de saber até onde o aonde vai...
A boca é uma atmosfera onde se abre o teu clima.
Toda ela fervilha, redonda, ao cimo, no caroço.
A nua polpa asfixia a garganta.
É o nervo que te entrelaça na minha carne.
Boca viagem, que te absorve, gesticula, acaricia, aspira as tramas do sangue. Respira-te.
Dói. Em volta. No gole. Queima-te as asas na labareda, na potência da minha garra. Pulsante. Inteira.
Na boca, só o teu silêncio se gasta nas tentativas de saber até onde o aonde vai...
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