04 agosto 2010

À beira da estrada a preço de rua

Prostituta de sapatos amarelos e fita vermelha nos cabelos a perder passos à beira da estrada espera a madrugada parida da lua. "Sossega ventania, eu tenho medo de ti; quem é aquele que já me trazes ali?" Prostituta de estrada a preço de rua, termina-lhe o abismo o parto da lua. E eu aqui ao lado a olhar fascinada; também eu sou a prostituta à beira da estrada. E tu aí, atrás desta palavra, também tu és ela, também ela é tua e termina-nos o abismo o parto da lua.

Santa Motivação!


Há sempre um que é mais passivo!

Capinaremos.com

O Festival Erótico Medieval...

... no «5 Para a Meia Noite»:



03 agosto 2010

Qual a Melhor Legenda?



strzelec01
E a frase vencedora é....

Palavras que nunca te hei-de dizer


As palavras que nunca te hei-de dizer, de todos os momentos que nunca tivemos, nesta lembrança que persiste, corre todas as cidades que nos separam e as rotinas que não tivemos.
Em silêncio profundo sufocam-me na distância desmedida que tivemos entre nós. Então faço esta carta, libertando-me desta aflição, escorraçando de mim tudo o que não te hei-de dizer. Hoje volto a escrever-te mesmo sabendo que nunca irás ler estas palavras.
Nunca te disse tanta coisa, que fica difícil saber por onde começar. O meu “amo-te, preciso de ti” foram tantas vezes pronunciados que caíram na banalidade afundados no abismo que existiu entre nós. O teu “amo-te” vinha sempre acompanhado pela tua ausência. Mas eu quis acreditar, eu acreditei em ti de todas as vezes que soubeste tocar a minha alma.
De todas as vezes que não me quiseste ao teu lado, eu chorei, mas perdoei-te. Em todas as vezes que me magoaste, eu sofri e chorei, mas perdoei-te. Em todas as horas longas de solidão, afastada de ti, eu chorei de amor e de saudade, mas aceitei-te e perdoei-te. Em todos os sonhos inventados em palavras que dissemos e não realizamos, pela distância, eu enchi-me de dor e calei em mim tantas palavras, simplesmente porque te perdoei e acreditei em ti.
Mas as cidades que nos separam, criaram uma profundeza tão grande que as palavras, já gastas, não querem dizer nada. Dentro de ti já não há nada que me peça água e o passado torna-se inútil como um trapo. As palavras tornam-se ineficazes de tão usadas que estão. Eu calo-me e choro. Porque te amava com todas as minhas forças, e sem ti o meu amor não se acalmava.
Nunca irei dizer que te odeio, direi antes que lamento não ter tido coragem antes, para me perdoar a mim mesma no meio de tanta dor e tanta ausência.
São tantas, mas tantas as palavras que nunca te disse… porque o meu mais profundo sentimento também não soubeste escutar.
Amei-te e amo-te. Mas hoje, já dorida com tanta dor e distância atiro estas palavras ao papel e peço ao vento que as leve para longe de mim.
Eu fui a sombra de um amor inventado por ti, mas perdoei-te e sobrevivi... porque as palavras atiro-as para longe, mas o amor fica em mim...
E tu aí também ficas sem mim.

Maria Escritos
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http://escritosepoesia.blogspot.com

Insistir

Insistimos.
Tanto que insistimos
que o fim já deixou
de ter princípio.

Já não partimos daqui:
o mundo é diferente.
Não podemos insistir no vazio.

Só quando o vazio partir
talvez possamos insistir
numa hipótese remota:
acaso, sabes o que é?

Poesia de Paula Raposo

«Album A - a Sierra Domino publication»

Um catálogo (?!) norte-americano de 1976 de fotografias e slides de homens de raça negra.
Agora faz também parte da minha colecção.


01 agosto 2010

Armadilhas

Quero falar contigo. Senta-te aqui. Sim, nessa cadeira de papel. Vou dobrar-vos na hora; embrulhados no tempo dos elefantes hão-de sobreviver-me, até eu já me sobrevivi um destes dias. Acredita, eu não quero ver morrer; preparo-te esta armadilha, soltar-te-ei depois de me ir. Cala-te, cala-te, não me digas isso, não te mintas mais. Calei-me, desculpa, estava a arrumar os meus bolsos, julguei que lá tinha palavras mas não as encontrei. Não, espera, eu tinha, sei que tinha; devo-as ter perdido. O que sabes tu das palavras que se perdem? Sabes, sabes, eu sei que sabes; quem como tu fecha os olhos é porque vê sempre muito mais, mais do que todos, mais do que olhos podem ver sem desaguar na alma; és um caçador de palavras e depois o seu domador. Anda, ajuda-me, espreita aqui nos meus bolsos; isso, sim, debruça-te, debruça-te mais um pouco...

(A mulher entrou no bar. Dali saiu sete mil vezes num número de noites inconfessável por ser muito menor. Despiu sete mil estranhos. Traiu sete mil vezes sem nunca trair. Nunca se despiu ou sequer teve vontade; sentia o que levava nos bolsos.)

Como perder uma rapariga em 64 passos fáceis