03 outubro 2010

O super Tiririca e a incrível Mulher-Melão


O folclore eleitoral brasileiro, a política mais colorida do mundo, pode muito bem vir a tornar-se no padrão da democracia do futuro, construída sobre as ruínas da credibilidade da classe política dita séria.
Dá gosto perceber na motivação dos candidatos a deputado federal o apelo da sociedade civil para contrariar com um sorriso o desgosto que os governantes de (quase) todo o planeta constituem para as populações que os aturam ou os elegem mas que, acima de tudo, os sustentam.
Como o título desta posta indica, de todas candidatas e candidatos cujos spots de campanha pudemos apreciar nas televisões portugas os meus preferidos são a dupla Tiririca/Mulher Melão. E se no primeiro aprecio sobretudo a espontaneidade devastadora de uma palhaçada assumida por contraponto à mal disfarçada que nos toca, no segundo (na segunda) os argumentos estão à vista. Já que temos que levar com tempos de antena e cartazes de rua e toda a parafernália habitual nas andanças eleitorais a figura da minha fruta preferida (sim, adoro melão) é refrescante para a vista e da validade da ideologia estamos conversados quanto à prática dos que simulam terem uma para nos impingir.
E a mulher melão até tem duas...
Restam-me poucas (ou nenhumas) dúvidas de que se o Ricardo Araújo Pereira se candidatasse a qualquer cargo político neste país ganhava mesmo sem o apoio de algum partido político. E quem diz o RAP diz a Fátima Lopes (a da TVI, ex-SIC) ou qualquer das figuras públicas mais próximas do coração dos portugueses fartos de votarem com a cabeça para os resultados à vista.
O Tiririca vai ser eleito deputado, tudo indica. Da Mulher Melão, a outra croma digna de uma Marvel Comics (mas na versão Vilhena), já não existem tantas certezas porque fruta daquela abunda no país irmão e porque será certamente penalizada pelo eleitorado feminino que estas coisas da... política suscitam sempre muitas invejas.
Claro que é fácil para mim, ou para qualquer dos ilustres analistas da blogosfera, da tv ou da cassete pirata, fazer a apologia da seriedade, do sentido de Estado, da necessidade de elegermos figuras respeitáveis (nem que seja para depois as etiquetarmos de vigaristas, incapazes, gays ou qualquer outro dos mimos com que desde Sá Carneiro - o alegado caloteiro - se rotulam todos os figurões tão sérios que vão protagonizando os cartazes de rua nas campanhas eleitorais).
Contudo, na ressaca do anúncio de mais uma machadada valente no optimismo acerca da recuperação económica que já soa como o próximo título do Sporting (é sempre pró ano), esgota-se um bocado a pachorra para os gajos sérios com fato e gravata ou mesmo sem esta última que têm contribuído de forma directa ou por omissão para o estado a que as coisas chegaram em termos de despesa pública (a tacharia das instituições inúteis e afins, por exemplo).
Com as coisas neste ponto, tanto no resultado prático do exercício das funções políticas como na tal credibilidade e dignidade e mais não sei o quê que os líderes devem manter (em teoria), a ideia que refiro acima de propormos um homem simples, do povo, como o nosso ex-colega Gato Fedorento, para termos pelo menos direito a uma campanha eleitoral bem humorada não soa assim tão disparatada.
E no fundo é como diz o Tiririca: pior do que está não fica.

Empedrados

Os caminhos, eu vejo-os nos teus olhos,
nos teus olhos molhados são lagos
com pedras. Se te quebras
parto e rasgo por todos os lados como os folhos
das saias de tempos antigos.
Tinham pregas, ainda te lembras?
E das horas que nos passaram como galhos
arrancados que foram abrigos,
como vértebras, como pálpebras?
Os caminhos, eu vejo-os nos teus olhos,
nos teus olhos abandonados são vagos.

_______________________________
A Laura, como adora, ode:
"Nos teus olhos molhados
Os caminhos
são lagos!
Nos teus olhos abandonados
os caminhos
são vagos!
Mas no meu corpo cansado
tuas palavras são achas
atiradas sem piedade
à fogueira
onde arde esse tempo em que passas!"

«Inesperadamente» - por Rui Felício


Marília Noronha nessa noite quase não dormiu.
Tinha descoberto na pequena pasta do seu marido uma sensual “lingerie” vermelha acabada de comprar. Ainda pendia dela, até, a etiqueta da loja!
Era claro, para Marília, que essa seria a prenda que ele lhe iria oferecer no dia seguinte, data do seu 35º aniversário.
As coisas no casamento não andavam a correr muito bem, desde há muito. Por isso aquela prenda entusiasmou-a. Talvez fosse o sinal de que a relação entre ambos se viesse a normalizar.
De facto, o Felisberto Noronha, seu marido, era uma pessoa educada, meiga, nunca a tinha tratado mal.
Mas ela sentia que o amor já se tinha esvaído. Todos os pretextos eram bons para ele se desculpar e adiar para o dia seguinte, qualquer tentativa dela para fazerem amor.
Ela ainda gostava dele, apesar de tudo, mas achava que numa relação conjugal, ser boa pessoa, educado, meigo, carinhoso, não era tudo! Nem, porventura, seria o mais importante.
Entendia que a relação sexual era indispensável.
Mas apercebia-se que, em vez disso, o marido já quase não conseguia ocultar uma indisfarçada repugnância diante dos jogos de sedução e das carícias que ela lhe fazia, tentando os jogos preliminares e a consumação do acto de amor.
.........................
Porém, a descoberta daquela prenda escondida, que ele em segredo lhe tinha comprado deixou-a eufórica! A relação conjugal iria voltar a ser normal!
Manhã cedo, logo que ele foi para o trabalho, ela saiu de casa, foi ao cabeleireiro e esmerou-se em melhorar o seu visual. Cabelo, unhas, lábios, sobrancelhas, tudo foi retocado para o receber à noite o mais bonita possível.
Ao anoitecer, pôs a mesa, com duas velas acesas, uma garrafa de champanhe a gelar no “frappé”, o CD “My Way” de Frank Sinatra a girar baixinho, e a TV ligada, para ir olhando distraidamente as notícias enquanto esperava pelo marido.
Esperou e começou a enervar-se. O tempo passava e, como nos dias anteriores em que ele chegava a casa muito tarde, queixando-se de cansaço e de excesso de trabalho, o relógio corria e ele nunca mais aparecia para lhe dar os parabéns e oferecer-lhe a “lingerie” que ela bisbilhotara na sua pasta.
Subitamente a TV interrompeu a emissão para transmitir em directo um pavoroso incêndio que acabava de deflagrar na Fábrica Cosmos, Lda, a firma onde ele trabalhava...
Fixou os olhos, apurou os ouvidos, aumentou o som da televisão e reconheceu nas imagens o edifício fabril que ela tão bem conhecia.
Observava, aflita e tensa, a azáfama dos bombeiros empoleirados nas suas escadas “magirus” derramando jactos de água sobre as labaredas que iam consumindo a fábrica. Roía as unhas tão criteriosamente tratadas pela “manicure”, enquanto devorava as imagens terríficas do pequeno écran...
A repórter da TV de serviço no local informou que haviam sido localizadas duas pessoas com vida dentro do edifício, apanhadas desprevenidas pelo inesperado e repentino incêndio, que os bombeiros tentavam resgatar.
Minutos depois a locutora entrevistou o chefe dos bombeiros que sossegou os telespectadores, dizendo que as tais duas pessoas já estavam livres de perigo.
Certamente aterrorizadas pela morte iminente, aduziu o bombeiro, as vítimas foram encontradas fortemente abraçadas uma à outra.
Marília acalmou, quando o bombeiro as identificou. Uma delas era o seu marido e estava bem.
A câmara rodou e filmou as vítimas deitadas cada uma em sua maca para serem transportadas para o Hospital.
Uma das vítimas, vestia calções de cabedal com tachas prateadas e camisa de alças também em cabedal, donde pendiam grossas correntes metálicas. Um chicote negro ainda lhe pendia inerte da mão. Meio chamuscado...
O seu nome, Carlos da Silva.
A outra das duas vítimas, vestia uma delicada e sensual "lingerie" vermelha com folhos.
O seu nome, disse a repórter, era Felisberto Noronha...

Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»

Salvador Dalí - «Jaqueta afrodisíaca»

O Luís Pedro Nunes pergunta: "Porque ficámos banais?"

Fiambre fatiado

crica para visitares a página John & John de d!o

Amor e traição



HenriCartoon

02 outubro 2010

Fugas

A mulher entrou na pastelaria e sentou-se na primeira cadeira que viu vazia. Espantada, olhou mas não sorriu para o homem que levantou os olhos do jornal que lia quando a sentiu sentar-se.
– Desculpe – pediu a mulher, envergonhada. – Desculpe – repetiu, levantando-se e calando no último momento o verdadeiro “não o vi”.
O homem olhou-a mas esqueceu-se de sorrir ou de responder, enquanto tentava absorver e qualificar os atributos físicos da mulher e, ao mesmo tempo, procurava um objecto literário que correspondesse à senha combinada com a mulher que esperava.
A mulher afastou-se e, já noutra mesa, pediu um café e um copo de água, decidindo deixar o livro que servia de senha dentro da mala até confirmar a existência de um livro escondido debaixo do jornal que o homem lia.
O homem olhava-a de esguelha avaliando-a e tentando adivinhar se havia um livro escondido na mala pousada na cadeira ao lado da mulher.
Ela não o tornou a olhar mas confirmou a existência do livro-senha abafado debaixo do jornal.
No momento em que a mulher tirou a carteira da mala para pagar o café, ele ficou com a certeza que havia um livro. O livro.
O homem fechou o jornal, dobrando-o com cuidado para envolver o livro sem o dar a ver.
A mulher arrumou a carteira e fechou a mala.

«A sexualidade dos adolescentes contada por eles próprios» de Didier Dumas

No final de Agosto a Gotinha teve esta «aventura» familiar à hora do lanche:

Está a começar... "No domingo à tarde, a família reunida à volta do lanche enquanto se via um filme cómico da SIC (escapa-me o título mas era sobre um homem de quase 40 anos que era virgem, trabalhava num armazém e que tinha 3 amigos tresloucados que lhe davam os piores conselhos de sempre sobre as mulheres...) e a certa altura um dos personagens diz:
- Já me masturbei 3 vezes desde que aqui cheguei.
Pergunta de rajada o rapagão cá de casa (com 7 anos):
- O que é masturbei?
Eu ri-me. O pai corou e calou. Lá tive que atalhar depois de muita insistência:
- Ainda não tens idade para saber algumas coisas.
- Mas porquê? É uma coisa com acção e violência?...
- Hummm... é, é!"


Achei engraçado e comentei: "E depois admiram-se que os filhos batam... e que fiquem com o pirilau em carne viva."
A Gotinha desafiou: "Num gozes, pá! O que dizias tu a uma criança de 7 anos??! Vá, vá, chega-te à frente!" e eu «cheguei-lhe»... com este livro, que foi uma das minhas «leituras de praia».
Aqui ficam excertos desse livro:
“Estamos a viver uma evolução de costumes sem precedentes em que a vida se acelera. Neste momento, tudo o que antes se escondia vê-se na televisão. As crianças precisam de falar do que vêem com os pais (...) Os filhos não conseguem compreender a ausência de educação que afectou os pais se estes não falarem no assunto. É por isso que devemos falar-lhes de nós. Em relação ao resto, eles ajudam-nos. Se os deixarmos fazer perguntas, eles fazem-nas se precisarem. Basta que os pais lhes digam que estão ali para lhes responder.
Queiramos ou não, a sexualidade transmite-se de geração em geração. A única coisa que permite uma transmissão saudável é a maneira como falamos dela. Se não dizemos nada, a criança constrói-se copiando a estrutura sexual dos pais, ou seja, deixando o inconsciente encarregar-se do trabalho. Nesse sentido, ser pai é explicar como se geriu esses dois aspectos fundamentais da vida de qualquer ser humano, que são a sexualidade e a morte. Enquanto não o fizerem, os pais continuarão a encher os bolsos aos psicanalistas e às sex-shops.”
Eu não diria melhor (só acho que não são precisos psicanalistas para nada).
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O Bartolomeu é mais p'rá frentex:
"Em matéria de educação, acho-me um pouco mais radical.
São também, em minha opinião, os pais aqueles que primeiro se devem preocupar em esclarecer os filhos, sejam eles miúdos ou miúdas, de todas as dúvidas, ou curiosidades que ao sexo digam respeito.
Pessoalmente, nunca me demiti dessa responsabilidade, que sempre encarei com especial agrado.
Aos meus filhos ensinei desde muito tenra idade a respeitar as pessoas, fossem ou não do mesmo sexo e também que o sexo dá origem à vida e que como tal, deve também ser respeitado.
As técnicas (algumas) sexuais, foi coisa que não careceu de grande explicação.
Cada termo sexual ou relacionado com sexo, que eles me pediram que os esclarecesse, foi-lhes sempre explicado sem tabus. Sempre lhes expliquei que masturbação também pode ser uma punheta, ou uma sarapitola, ou um esgalha-pessegueiro, etc. e que uma penetração pode ser também uma foda, uma encavadela... que um broche é uma prática sexual em que uma das pessoas chupa o pénis, ou caralho, ou pixota da outra e que um minete é quando uma pessoa chupa o clitóris e lambe a vagina da outra, mas que se lamber a cona, ou a greta, continua a ser um minete.
Recordo-me que, quando falei de minetes aos meus filhos, eles lançaram um olhar de esguelha à mãe e esboçaram uma careta. Neste momento não entrei em pormenores. Não quis saber se aquele esgar de nojo se devia a uma experiência... menos conseguida. Hoje, não tenho dúvidas que serão tão bons mineteiros como o pai, ou até melhores, sem nunca terem comprado uma snaita numa sex-shop... só para treinar..."

Madrugada

Daqui me vou.
Interrogo-me: daqui é o quê?
Que o sol trouxe a tua voz?
Qual o espanto da rota inesperada?
Que me dizes, que eu desconheça?
Por que hesitas – os passos –
na areia molhada?
São beijos de vida ou da vida te
penitencias?
Serenamente numa madrugada
por ousar:
Eu não hesito.

Poesia de Paula Raposo

01 outubro 2010

Técnicas de sedução

Volta e meia enfio a mão no bolso, e vou por aí dar uma voltinha virtual, assim como quem vai até ao Bairro Alto ver o “ambiente”, com a diferença de que o corpo fica em casa, e de que por ali não se bebem copos... E, então, por vezes, sou surpreendida por estes fenómenos:

Libélula:: Olá
X:: ola linda como te chamas
Libélula:: Libélula
Libélula:: que rapidez!
X:: es de ke zona de lisboa
Libélula:: acabo de criar o perfil
Libélula:: centro
Libélula:: e tu onde moras?
X:: oeiras, estas disponivel para 1 cafe
Libélula:: não
X:: Desligou
Libélula:: estou só a dar uma volta...

Observe-se com atenção esta técnica: 1… 2… convite para café à terceira linha; porta na cara à quarta! É muito charme!

PERFIL DE PREDADOR
ORIENTAÇÃO SEXUAL: definitivamente não gosta de mulheres.
COMPETÊNCIAS: tem jeito para a estenografia.
QUALIDADES: não é esquisito com a comida.
DEFEITOS: muito ruidoso (tem o mau hábito de bater as portas com força).
DISPONIBILIDADE: sempre a postos e pronto a saltar ao caminho, porque não há maneira de lhe cair alguma no prato.
CASAMENTO: só com “virgens” (conforme conceito apresentado no post “Putas para todos os gostos”).
MÉTODO DE CAÇA: a debilidade causada pela fome impedem-no de tentar atacar animais de grande porte, pelo que se conforma em esperar pacientemente que lhe apareça a jeito alguma gazelinha jovem, coxa, e muito distraída.
SEXUALMENTE: parece-se com uma porta: se se tem o azar de ir de encontro a ela, fica-se sempre com dor de cabeça.

NAS VEIAS DA GARGANTA

Entrou-me o teu livro a dentro. É fácil, imaginar a precipitação com que sobre ele eu toda me inclinei. Abri-o. Devorei-o!

Acendi-me num céu, apaguei nele o meu olhar, sentada, nua, nu incêndio, nas regiões ofuscantes. Maduras. Ferozes...

E de um único hausto, o bebi todo, num travo, que o teu talento é poeta, malicioso, de ideais perversos, em mim totalmente, no agora, submersos...

A nossa carne, única. Vibra, o tesão de baixo para cima. Nas embocaduras. Furiosas. Que crepitam.

És clarão, nas minhas pupilas, deslumbradas, no abrasar liríco dum pénis, no agora imensamente soldado à vagina histérica, em delírios de fêmea.

O esperma libertado [o teu que transborda no meu] evolou-se para as regiões em torno da pancada. Como um animal por mim escorre, passa, e por fim morre. E eu, durmo, com ele luzindo no cântaro da minha profunda boca...