A mulher entrou na pastelaria e sentou-se na primeira cadeira que viu vazia. Espantada, olhou mas não sorriu para o homem que levantou os olhos do jornal que lia quando a sentiu sentar-se.
– Desculpe – pediu a mulher, envergonhada. – Desculpe – repetiu, levantando-se e calando no último momento o verdadeiro “não o vi”.
O homem olhou-a mas esqueceu-se de sorrir ou de responder, enquanto tentava absorver e qualificar os atributos físicos da mulher e, ao mesmo tempo, procurava um objecto literário que correspondesse à senha combinada com a mulher que esperava.
A mulher afastou-se e, já noutra mesa, pediu um café e um copo de água, decidindo deixar o livro que servia de senha dentro da mala até confirmar a existência de um livro escondido debaixo do jornal que o homem lia.
O homem olhava-a de esguelha avaliando-a e tentando adivinhar se havia um livro escondido na mala pousada na cadeira ao lado da mulher.
Ela não o tornou a olhar mas confirmou a existência do livro-senha abafado debaixo do jornal.
No momento em que a mulher tirou a carteira da mala para pagar o café, ele ficou com a certeza que havia um livro. O livro.
O homem fechou o jornal, dobrando-o com cuidado para envolver o livro sem o dar a ver.
A mulher arrumou a carteira e fechou a mala.
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