06 outubro 2010

Parece que é de lei


Pois é, os funcionários públicos estão bem mais fodidos do que se julgava.
Só dão descanso ao cu durante 11 horas, no resto do tempo...
Ai Nelo Nelo, só descobri esta lei (pagª 26) quando congelaram as admissões na função pública.

Desencontro

Desejo meu que demoras a mostrar-te, que compreenderás a impaciência e observas as múltiplas formas de cortejar, não tenhas dúvidas na intenção, não questiones a própria dúvida e deixa-te atrair pelo simples prazer carnal.
Claro que não é amor ou paixão, mas amando a vida e apaixonando-me pelo teatro sexual das amizades construidas, resigno-me ao comercial e perdura a chama do prazer.
A vida vive-se com pena para quem não vive, mas com paixão para quem soube encontrar a própria vida. Está nas escolhas de cada um procurar, no instinto de conhecer e construir.


Falsos poemas

E se eu migrasse os meus sonhos,
laicos e sem asas, para outro olhar?
Criaturas aladas, encantadas por ti,
um ramo, senhor, uma sombra fresca,
em troca depositaram as asas aos teus pés.
Ainda de dedos fincados no ramo que já quebrou,
em pleno chão, insistem, estupefactos, tontos.
E se eu os migrasse, sobreviveriam?

O que a rolha disse ao saca-rolhas?


Até parece!

Capinaremos.com

05 outubro 2010

Saltos altos

É conhecida (pelo menos dos meus vizinhos de baixo) a minha perdição por sapatos (e botas e ténis e chinelos), sobretudo de salto alto.
Mas, depois de dois meses a pisar o mundo de havaianas e sandálias rasas, e após um período de transição para as sandálias altas (em que, ok, a planta do pé, macia de muita esfoliação no areal, se ressente, mas nada de insuportável, porque os dedos continuam ao léu), não foi muito inteligente da minha parte dar (literalmente) o (ou muitos) passo seguinte, para os sapatos fechados, de doze vertiginosos centímetros, num dia em que tinha nove horas de aulas. Menos perspicaz ainda foi calçar meias de vidro: o pezinho de Cinderela (a minha pedicura é que diz, não sou eu!) passou o dia a chinelar (experimentem chinelar nuns saltos de 12 cm de altura e meio de base) e os dedinhos anteriormente arejados são dez nódoas negras. Não estão negros mas sinto-os como se estivessem.
E nem me venham com a conversa do por-que-é-que-não-usas-sabrinas, que não colhe.
Colherá amanhã, mas por motivos de força maior.
Na quinta, volto ao metro e oitenta e qualquer coisa e não se fala mais nisso.
Ai.

Na cama. Na cama, já despidos. Na cama tento que o que restou para eu poder dar, seja o bastante. Devagar, que a carne ainda dói.
A sua insistência vai-me sufocando. Calma, digo, sossega, peço, deixa a cola secar para unir bem os pedaços que partiste. Mas insiste como se não me ouvisse.
Fecho os olhos com força, com aquela força que nos livros é descrita como "cerro os olhos", mas eu digo que fecho os olhos porque cerrar pressupõe uma firmeza que já não tenho. Fecho os olhos e faço por não ver mais do que os nossos corpos naquela cama.
Devagar, parece que consigo. Solto os meus lábios dos dele para lhe dizer a frase que me apetece. De repente não posso. De repente a frase que calei é a mesma frase que ele disse a quem não podia ter dito, quando não podia ter dito. De repente é Jasão, e não outro, quem, em cima de mim, fode com urgência. Com tanta urgência que não percebe que me escorrem lágrimas de ira, que não percebe que nos meus punhos cerrados não guardo um orgasmo à espera de vez, mas sim uma revolta capaz de o estrangular.
Todavia não o faço. Não estendo as mãos para lhe apertar o pescoço traidor e mentiroso. Aperto a cona, isso sim. Aperto-a em torno dele e na minha boca cresce a grossa e acre saliva da vingança, da vingança de o fazer pagar na mesma moeda, de lhe ser infiel com ele mesmo.


Medeia - blog [Infidelidades]

O que sou

Sou o que sou:
vagueio na luz intermitente
de uma descoberta.
Sou a voz emotiva
das palavras.
Letra a letra, já não sei
soletrar-te.
Um dia – agora – sei que
encontraremos a resposta.
As dúvidas dirão de nós
tudo aquilo que nos afastou.
Falaremos de amor
e de magia.

Poesia de Paula Raposo

Nada melhor para aliviar o stress

Comprinha para a minha colecção: uma boneca voodoo para ex-amantes.

Mesmo assim, prefiro os meus bonecos vudu-zalho e vudu-zona, que vão directos ao assunto (e estão à venda aqui, para quem esteja interessado):

04 outubro 2010

Antes de RAP, havia MEC

Ricardo Araújo Pereira (a.k.a. RAP) não é a primeira figura nacional a ser conhecida por meio de uma abreviatura. Há mais de vinte anos atrás, tínhamos Miguel Esteves Cardoso (a.k.a. MEC). Monárquico, feio, genial.
Comecei a ler-lhe as obras todas, acabadinha de chegar à Faculdade e nunca mais parei.
Não aprecio particularmente a figura e é intencionalmente que não o vejo na televisão, para não perder o escritor. Aquele que fala de coisas por que todos já passámos, de que todos já nos lembrámos mas que seríamos incapazes de descrever, de pensar como ele. O modo como brinca com, mais do que as palavras, as ideias, é uma delícia para qualquer um que gosta destas coisas da escrita. E que se delicia ao observar nos outros o que sabe que nunca será capaz de fazer, embora gostasse.
MEC nunca teve medo das palavras nem dos palavrões. E usa-os sem pudor nem a repugnância pseudo-burguesa. Por isso, pode usá-los. Porque sabe. Ora vejam-no, no dizer de outro Miguel, o Guilherme.

(E não, não vou admoestar para a necessidade de precaução, no caso de possuirem ouvidos mais sensíveis; pessoalmente, o que me choca não são as palavras, mas o modo como são ditas - e aqui são bem ditas. [Também] porque muito bem escritas.)

AnAndrade

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O OrCa propõe:

 A Santa Caralhada

"Não se importam que me junte à equipa, não? Obrigado.
O vernáculo, como panaceia, por exemplo, contra um aumento intempestivo e anacrónico de impostos, é libertador e tem a suprema função social de, por mera sublimação, nos impedir de chegar ao extremo de nos irmos a eles (aos ministros a que temos direito, entenda-se) e fodermo-los todos... nem que fosse apenas para gerar alguma equanimidade social.
Qualquer político de merda - daqueles em que temos sido pródigos - que atentasse bem nesta realidade e em quanto um bom palavrão os defende de males maiores já deveria ter erigido uma capelinha em cada lugarejo do país. Sugiro que a deidade a ser louvaminhada seja baptizada de Santa Caralhada. E havia de ter feiras e congressos e intelectuais e economistas e tudo..."

Carta ao Viajante (II)

...não me lembro de ter cobrado mais nada, tudo o mais, que me lembre, eu sempre dei. Mas isso não te posso dar ou ensinar, isso que pensas que é a arte do desprendimento, essa arte eu nem a sei. Conheço outra de que te falei, não era essa. Estava serena até quando perdi a serenidade. Sei, tudo é suposto ser desde que se seja, tudo acontece desde que se exista, tudo assim é, tudo pode ser. Podes contar-me mais segredos? Um dia perdemo-nos no vinho e encontramos a luz? Farei de ti literatura para que, agora que sabes, não te esqueças que já isso fizeram de ti. Tudo eu escreverei, nada contarei: a Rosa sempre na porta e a porta em mim, marcada nos meus braços. Já vi os teus dedos nos meus braços, vi-os com os olhos que vêem o que (ainda) não aconteceu. O medo? Eu tenho, tu sabes. Quando falámos, eu estava no cais e estava no medo porque estava a olhar para dentro, bem para dentro das pessoas que ali estavam, ao por-do-sol, ao cair da sombra da noite, ao levantar da cortina dos monstros e fantasmas desse palco do fundo delas; sentiste-o? Queres? Mas eu não te posso dar ou ensinar o que já tens. Escuta-o.