Como tantas vezes sucedia, fomos uns quantos a um baile no Clube de Vendas do Ceira que os organizava com relativa frequência. Lembro-me do Munhoz e, salvo erro, do Eloi que comigo e outros ali se deslocaram palmilhando o alcatrão da Estrada da Beira desde o bairro até Ceira.
Os Ases do Ritmo abrilhantavam a festa e era ao som das suas músicas que os pares rodopiavam, que os corpos roçagavam, que as mentes sonhavam...
Ao ritmo do tango, música sensual por excelência, os sonhos aproximavam-se do auge, as pálpebras semicerravam-se, todos imaginando serem transportados para longínquas e idílicas paragens, onde os inconfessados desejos se consumassem.
Foi neste ambiente tépido e sonhador que caiu, como um balde de água fria, a voz tonitruante de um director do Clube que mandou interromper a música, proclamando em voz bem alta:
- Meus Senhores e minhas Senhoras! Foi incontrado na retrete das Damas um lenço vordado que entregarásse a quem lhe probar pertencer!
De imediato uma moçoila, do meio da sala, gritou:
- Deve ser o meu. Fui eu co perdi!
E o director do Clube:
- Diga lá como é que é o lenço.
E ela:
- O lenço é branco, tem um pesponto omarelado à bolta, e tamém tem um passarinho e as letras do meu nome bordadas.
Nova pergunta do director:
- Como é ca menina se chama? E que letras são essas?
A moça desfez todas as dúvidas:
- Chamo-me Orora Obuquerque. As letras bordadas no lenço são O.O.
- Confere! , rematou o director, entregando-lhe o lenço e fazendo sinal aos músicos para retomarem a sua actuação.
Rui Felício
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Encontro de Gerações