O meu poema não é meu,
foi uma musa quem lhe deu
parte musa, parte olhos, parte eu,
para ele poder ser fora de mim
coisas que pensam e nem sou.
O meu poema nem tem fim,
em cada peito que lhe tocou
o poema foi outro, renasceu;
o meu poema não é meu,
é pó de mim, areia de quem leu,
na musa aninham-se e eu assim
já nem sei de que forma estou.
O meu poema não é meu
viaja por tantas mãos que, enfim,
eu já nem sei onde é que vou.
O meu poema não é meu,
é vosso e da musa que mo devolveu
bem mais que eu, bem mais que o meu.
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