05 dezembro 2010

A posta morna e montes de dominical


Só por uma vez (e foi há tanto tempo que poderia começar esta posta com "era uma vez") caí na asneira de me apaixonar por uma daquelas moças que se declaram completamente desvinculadas da sua paixão anterior mas um gajo até consegue ler nas entrelinhas da insistente negação o despeito ou o desgosto por a dita relação não ter resultado.
Bom, se calhar até aconteceu por mais do que uma vez. Mas todos/as sabemos o quanto a maioria das pessoas sem pila são hábeis em fazer como as bisnagas vira-bicos (sim, também já há muito não existem nos carnavais adolescentes), apontando a boca para o lado do desprezo enquanto o olhar, virado para o lado oposto, se delicia com tudo o que podem absorver acerca dos alegados ex com enorme, porquanto bem disfarçada, sofreguidão.
Isto a propósito de hoje em dia eu me desviar mais depressa desse tipo de pessoa sem pila do que se pira da água fria um gato acabadinho de escaldar.
Nada de bom se pode encontrar no futuro de uma relação cujo presente (toma e embrulha) se constrói nesta óptica da picardia para (re)estimular o alvo que ainda não está assim tão passado e nos transforma por inerência numa espécie híbrida de prémio de consolação com genes de isco para possessivos e gananciosos.
Aprendi essa lição, e acho que até já falei nisso por estas bandas, quando me deixei embalar na canção da coitadinha que o meu ex até me batia e eu odeio-o e agora preciso imenso de colo e de amor para compensar e investi tempo e emoção à toa numa rapariga que acabaria, para meu espanto - era muito novinho na altura, por me trocar precisamente pelo tal bruto que a agredia e me deixou com um desgosto tão grande que levei algumas quarenta e oito horas a apaixonar-me outra vez.
Bom, não foram bem quarenta e oito horas porque logo nesse dia dramático uma amiga próxima foi generosa ao ponto de me acolher no seu regaço para evitar algum trauma que pudesse dar-me cabo do vigor, mas dá para perceberem que uma pessoa fica mesmo abalada com este tipo de experiência tão chocante quanto instrutiva acerca do modus operandi da maioria (enfatizo esta quantificação para não tomarem a coisa por uma generalização) das moças incapazes de deixarem cair o homem da sua vida enquanto não surge em cena o mais adequado para lhe tomar a posição.
Claro que a moral da história não implica que não tenha já incorrido na mesma asneira e não possa vir um dia a tropeçar de novo em cenário similar. Contudo, vestirei nesse caso a pele da vítima de um logro por parte de uma qualquer artista de variedades (por norma variam imenso também nos humores e nos namorados de substituição - uma espécie de assistência em viagem da paixão - que as rebocam emocionalmente até ao dia em que se sentem capazes de nadar de novo nas águas passadas onde supostamente quase estiveram para se afogar).
Nem todas as boas actrizes (e igualmente muita boas, às vezes) pisam um palco a sério e não faltam as que reservam esse talento para se travestirem em sessões privadas para o único imbecil disponível na platéia, sempre sob o olhar de esguelha do tal ex postiço que sempre arranja forma de espreitar a actuação às escondidas no camarote ou no ponto menos iluminado do balcão.
Sim, um gajo também acaba sempre por encontrar refúgio por entre os escombros de uma relação mal sucedida quando percebe que participou afinal de uma competição inquinada pela batota das negações por conveniência. Aliás, é essa a maior das portas pequenas por onde se sai de um filme assim.
Mas fiquem com a certeza de que nessas películas de segunda mais vale abandonar a sala antes mesmo de surgir na tela a palavra fim.

África e os seus segredos...

crica para visitares a página John & John de d!o

04 dezembro 2010

As batotas da Playboy


Está por estes dias a decorrer na Christie's o «The Year of the Rabbit», um leilão de objectos relacionados com a revista Playboy, que inclui algumas fotos originais dos posters centrais das playmates, anotadas com correcções a fazer com PhotoShop: mamilos mais destacados e erectos (em casos excepcionais tinham que ser "suavizados"), curvas das nádegas mais... curvas, nenhum pêlo, nenhuma veia visível, redução dos poros, emagrecimento geral... e por aí fora, sendo a palavra "kill" muito usada ("kill stretch lines" ou "kill veins", por exemplo).
Como referem na página jezebel.com, "a mensagem é clara: mesmo com uma genética abençoada, depois de cirurgias plásticas e dietas, iluminação adequada, um fotógrafo profissional e dúzias de fotografias, até uma mulher de fantasia não consegue ser suficientemente fantástica".
Um caminho manifestamente errado.

Como sou amiguinha, aqui têm três exemplos em tamanho grande para poderem apreciar... as anotações (basta cricar em cada uma das imagens):

Asas Negras

No passado já viste aquele lugar, por entre a porta de vidro vedada. Agora, na sala que se te colocou a envolver, portas de vidro existem onde vês apenas espelhos e relutas em chegar até ao que a transparência te mostra. As portas abrem. E só de olhos fechados. Tudo o que está à vista é menos relevante, menos profundo, pouco ou nada será útil para as criaturas que pairam.
Se agora, de asas negras alguém te muniu, repousa do que te subtrai o essencial e olha as almas que da Janela olham por ti numa invocação nocturna de tranquilidade eterna.

Ruindo

Rio serena
Um dia virás
Indo em mim.

Poesia de Paula Raposo

Há sempre malta a cuscar


Heterogéneo


1 página

oglaf.com

Os reis vão nus



HenriCartoon

03 dezembro 2010

Das tais coisas

Há coisas assim.
Que não avisam, antes de nos abalroarem.
Que nos agarram ao chão que teimámos em abandonar, aventureiros esporádicos.
Que nos fazem mudar de rumo e recusar explicações.
Que nos fazem crescer (nunca mais pára, isto do crescimento?) e andar em frente.
(Sem perder muito tempo, que o tempo é do mais precioso que temos.)

Há coisas assim.
Coisas várias, coisas muitas, que se atropelam, a ver qual delas faz mais mossa.
(Se nós deixássemos.)
Coisas das tais.
Que encafuo no tal canto da minha memória que guarda as coisas de que não me apetece lembrar.
Até ver.

Conto dos pequenos

Hoje não posso responder a ninguém. O homem no meio da sala fala demasiado alto e atordoa a multidão. Tantos eus aqui comigo, tantos. Esta é a imagem da minha confusão. A verdade encontra-me sempre incapaz de acreditar e, ao mesmo tempo, incapaz de me mover como uma céptica. Não me movo. O homem deita-me. Adormeço e acordo deitada, o homem em cima de mim tenta observar a multidão; de vez em quando, estica o braço e pega, meigo, tão meigo, num dos pequenos eus e vai pousá-lo, cuidadosamente, separado da multidão. Dá-lhe um pequeno beijo e pede-lhe que não volte a entrar, que não será bem vindo, que não cabe na perfeição, que está tudo muito melhor assim, que só mais um ou dois como ele e as grades poderão cerrar-se à minha volta e dar-lhe a maravilha da tranquilidade perante mim: não mais causarei dor! Os pequenos eus rodeiam-me, tristes, estáticos, confusos; abrem muito os olhos partidos, muito, muito, até ao tamanho deles, até ao tamanho do vazio aqui. São apenas pequenas crianças perdidas, nem a mãe os soube guardar. Olham o homem pequeno - agora tão pequeno, mais pequeno que eles - do tamanho da cobardia. Vou salvá-los a todos, alguns perdem pedaços, já se calou o homem, já nem vejo o homem, mas eles salvam-me a mim. Esperarei quem enfrente e aceite os meus eus, tal como eu, porque eles não se podem separar de mim sem que eu deixe de ser porque eu quero pouco, tão pouco, quem me queira por quem eu nem sequer sou. Hoje não posso responder a ninguém, estou a falar comigo, como sempre, em paz.

Cucu


Não! O gajo não está sorridente por "atacar" por trás a mulher nua,
Olhem bem para ela.

Monges de Cluny

Figura em barro pintado, de 1927, com 39 cm de altura.
Tem um furo em cima e um arame que deveria ser para servir de candeeiro.
A maltinha que veio ao Visita-a-Funda nos dias 21 e 27 de Novembro já viu esta peça na minha colecção.






02 dezembro 2010

Edito estrelas

Lá por os pelos se agruparem no púbis não podemos chamar-lhes um grupelho.
Da mesma forma, enfiar na boca um tubo de papel em branco não transforma esse papel numa brochura.


Há um mês: a mesma situação, dois tipos de jornalismo

Vejam este video. Isto ter-se-á passado no passado dia 2 de Novembro, terça-feira, na Rua de Santa Catarina, no Porto.
A seguir leiam a notícia no «Correio da Manhã».
Por fim leiam a notícia no «Jornal de Notícias».