06 maio 2011

Pulsação (II)

As mãos dançam na gaveta já aberta e a gaveta é a dos sonhos e a gaveta é o teu peito, o teu peito nu, vestido de nu, e tu agora estás aqui. E agora eu sonho e agora eu acordo e tu és um homem e depois um menino e depois um passarinho, abro-te um olhar, tu abres as mãos, mostras as penas, o bico esticado para os beijos pequeninos, são migalhas de fatias, do miolo de ternura, eu acordo e tu agora estás aqui. Ainda é de madrugada, o Amor diz que não dorme, que não consegue dormir, que os adormecidos nunca conseguiram amar, que só consegue sonhar e sonhar e sonhar mais, encosta-se um bocadinho na nossa cama, chora, está feliz, os sonhos inundam-nos e levam tudo, tudo, já não temos lençóis, vem cá, tapo-te com luar, tu agora estás aqui. A Lua está em quarto, outra fatia, eu dou-te tudo, e roda e roda e roda, pendurada pelo fio e eu rodo nela, rodo sobre ti, afinal eu sou o fio e o eixo de rotação e rodo e rodo e abro os braços e posso abrir os olhos, só o Mundo tem vertigens, eu já não, tu agora estás aqui. E os pés estão pesados e doem e ainda me falta o i do doem e tu percebes que me falta tanto o i e sais a procurá-lo e voltas e contas-me que as estrelas guardam os meus is porque as estrelas não têm lábios e, assim, cada estrela nos sorri. E voltas e contas-me e os dedos bonitos, tão bonitos, descalçam-me todas as noites, é um ritual, oxigénio inventado por ti, respiro e tu aqueces os meus pés, ainda pequenos, sempre pequenos, todas as noites, tu agora estás aqui. Agradeço-te ao Amor e aos sonhos e às estrelas e à Lua e ao Deus e já nem sei a quem mais agradecer, tu agora estás aqui.

Grandes males...

Crica para veres toda a história
A Bela vai ser Adormecida


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05 maio 2011

Ser Poetisa


(...) O fogo é um elemento incontrolável. A loucura é a minha cura. Habito entre estas duas tensões, fusas nas muitas noites impressas na tinta das minhas palavras.

Ser poetisa é vestir as rodas excitadas do fogo. Comer poesia numa precipitação em brasa, no poder firme, silencioso. Absorvente. Assoberbado. No ar erupt...ivo das imagens lívidas por mim recriadas. É ferver num vulcão dos mil sentidos, consumida pelos órgãos e uma esfera que pensa mais alto. Numa abertura interior. É possuir a fonte oculta. Desconhecida, onde tudo se ousa e o sangue se move frenético. Onde o ardor é batido nas veias inacabadas que rompem portas. É morosa, a minha loucura. Obsessiva e incrustada. Sem direcção ou posição.
Na extenuante alucinação, os sentidos em germinação. Glória num ardor exemplar, elementar. Redentor. Alucinado. Onde poema se vem nas minhas formas, adentro e, se transforma, estilhaça-me num pulsar, aberto, onde ele bate, bate, bate e me rasga universalmente, numa mão imortal que arde. Desce. Arde. Dói. Arde. Num grito. Arde na fala imensa, na mulher que grita em mim, na matéria violenta que arde, incriada no meu inconstante ventre escarlate, onde as chamas movem as palavras delicadas. Quentes. À tona do poema. À tona do brotar que o lê. À tona do olhar que o abraça. À tona de mim, Poetisa que o desata de um jorro leito rosa, num maná secreto e eterno que entontece as nuas distâncias.

Mulheres de sonho


Honey Pie from California is a place. on Vimeo.


Não sei se já aqui foi colocado. Se foi não liguem.

Cultivemo-nos!

O Car(v)alho mandou-nos este postalinho da sua visita ao Museu do Convento de Stª Clara, em Coimbra.





Trata-se de um excerto do «Auto dos Físicos», que Gil Vicente escreveu em 1524. O Car(v)alho destaca (e muito bem) estes dois versos:


"(...) Mijaste' no urinol
Que' vos faça boa prol?"

04 maio 2011

No teu olhar o futuro não sorri


Concentra esse olhar assustado naquele sonho em voo planado que deixaste fugir algures num tempo em que não agarravas a vida que querias porque achavas que não podias, proibida por ti a passagem, cruzar a linha numa curta viagem para outro lado que sabes hoje seria o teu.
Sabes que deves parar esse constante deambular da atenção pelas miragens que ofereces ao coração como placebos, essas paragens ao longo de um caminho que percorres sem saberes onde te levará mas igualmente sem duvidares que em cada cama que desfizeres sem acarinhares a emoção deitarás contigo a solidão, a tempestade depois da bonança aparente que te ilude mais uns passos na sensação fugaz dos abraços que não voltas a repetir porque tendes sempre a fugir, algures num momento em que largas a vida que querias porque achas que devias ser outra coisa qualquer e no fundo nem sabes hoje como deveria ser.
Sabes apenas que querias melhor e não tiveste.
E eu sei que quando o amor te procurou não o quiseste.

A prostituta azul (IX) - Sílvia

Sempre procurei os deformados, os feios, os pequenos e gordos e envelhecidos e desinteressantes. Procurei os que poderiam causar ódio ou repulsa ou medo ou piedade ou... Fui capaz de lhes dedicar a ternura maravilhada de quem encontra uma gota de água belíssima no meio de uma enorme, castanha, poça de lama; sempre lhes vi a gota de água brilhante. Mas não foi por dó, não foi bondade, não foi por qualquer motivação bonita e superior como todos julgaram. Foi por uma qualquer espécie de empatia, só eles eram como eu, só eles seriam capazes de gostar de mim. Porque, na verdade, eu sou feia, pequenina, gorda, vulgar e pouco inteligente. E, só assim, o poderia ser à vontade, sem me sentir obrigada a tentar ser mais do que sou. Sempre que um dos outros, dos que são mais do que uma gota, duas ou três na poça, talvez água em vez de lamaçal, se aproximou ou me elogiou, fui incapaz de sentir o elogio como meu; quando me disseram bonita ou qualquer outra coisa feita de água, sempre julguei que falavam de uma outra pessoa, que não era comigo, que não me viam bem, nunca levei a sério, tudo me sobrevoou sem nunca tocar a minha pele. Não, não existe nada de errado com a minha auto-estima, eu gosto bastante de mim, assim, sem ser grande coisa, só com a minha gota de água no meio de um lodaçal, sem o esforço aflitivo de mostrar a beleza que me possam supor, eu gosto da paz de saber, sem hipótese para argumentação, sem dúvidas, que sou lama; aquilo que angustia e magoa todos os seres humanos é a luta interna contra a sua própria deformidade. E, quando a conseguem ver, é assim que eu quero que me encontrem, existe uma qualquer ternura, um amor sem igual, em alguém que encontra, que se dá ao trabalho de me encontrar algo tão pequeno no meio de uma fealdade tão imensa. Só esses tiveram o meu corpo, a minha paixão, até o meu amor; tudo foi sempre inspirado, alimentado, por esse olhar que perdoa e acarinha um negro tão grande, tão grande, só por um pontinho brilhante, esses, surpreendidos, quase incrédulos, fundamentaram o seu afecto no quase inexplicável.

(Sílvia)


Olá Rui eu sou a Buffy


É verdade que me queres conhecer rsrsrsrs?
Desde que li os teus comentários fiquei possuída pelo espírito felino que há em mim e não páro de ronronar e mirar-me ao espelho. Hoje já tomei banho e pulverizei-me com pó prás pulgas. Agora estou a experimentar o creme anti-age da Lâncona e a nova make up primaveril da Orgiflame.
Mas não penses que sou fútil... inscrevi-me num workshop de caça ao rato e à rata e lá mais para o verão vou tirar uma pós-graduação sobre a problemática das osgas na génese da cadeia alimentar.
Ele há homens que são autênticos animais mas tu pareces-me um animal muito humano.
E mais coisas haveria para dizer mas de tanto lamber o pêlo sinto um nó na garganta e só me apetece ganir ... sim porque eu sou uma gata poliglota: sei ganir ladrar piar e zurrar.
Mas o que importa referir é a minha feminilidade... sou felina decorativa e passo a vida deitada. Enfim sou o sonho de qualquer homem.
Espero-te ansiosamente num qualquer telhado a tocar violino.

Buffy

PS1 – não te metas com a minha dona... eu é que tenho unhas mas quem arranha é ela.
PS2 – desculpa não usar vírgulas mas tive um caso com um gato chamado Virgulino que me deixou toda eriçada e tive de pôr um ponto final e mudar de parágrafo. Ele ainda me atirou com umas reticências mas uma gata séria como eu não gosta de interrogações ... só apóstrofos devidamente certificados.

Pré-mamãs


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03 maio 2011

Eu vou fazer os possíveis para estar presente

Pequena historinha por Ricardo Esteves

"O ano é 1978. A vida corre-me bem..."

«Curta-metragem nº 1»

Orgia

Poderosa a orgia
Do teu corpo em nós
Que desato lentamente
Levemente docemente,
O cálido mar bravo
Dos teus sinais
O teu olhar no teu sorriso,
As mãos que me tocam
E me escaldam
No frio gelado de ti.


Poesia de Paula Raposo

Revista «Gambuzine» nº 8 de Maio de 2001

Revista comprada na Feira do Baú, no largo da Sé Velha de Coimbra, para a minha colecção.



Gostei em especial da aventura do Quevis, que precisava de dinheiro para comprar uma guitarra à sua amada Karen. E a única solução que ele encontrou foi o que para mim seria um pesadelo: