Numa das postas de ressuscitação do Cabra de Serviço, onde continuo a fazer uma perninha (neste caso de cabrito), a Peixa (que tem por nick Mente Quase Perigosa, lapidar) abordou uma questão sensível para a maioria: o sexo entre a malta amiga.
Sim, o assunto é quase perigoso. Nem que seja pela hipótese de uma pessoa por-se a pensar: é pá, realmente nunca tinha equacionado essa possibilidade nem sob o prisma do potencial em matéria de rentabilização dos recursos e isto com o país mergulhado numa crise, enfim…
A delicadeza da matéria é tanta que se soma dois mais dois logo a partir da associação de ideias criadas pela sabedoria popular: a ocasião faz o ladrão e os amigos são para as ocasiões. E isto à partida inspira o receio de estarmos perante uma ilegalidade, deve ser proibido misturar a amizade com a (ou mesmo na) cama.
Mas não, o legislador nunca sentiu necessário registar fosse o que fosse por escrito e por isso o sexo entre amigos, na esmagadora maioria dos casos, não pode levar as pessoas à prisão.
Contudo, esse não é o raciocínio da Peixa cuja mente quase rigorosa resvala perigosamente para a generalização. De acordo com a sua impressão a respeito de um acrescento colorido a uma amizade transparente esta não é apenas corante nos rostos ofegantes da malta amiga que truncha!, deixa corados os amigos com pila pelo simples temor de por ser com uma amiga terem depois de casar com ela.
E isso sim, constitui motivo para uma apreciável aflição.
Uma das regras mais ou menos implícitas nas amizades entre pessoas do sexo oposto parece ser precisamente a ausência de sexo. Ao que sei, diz que tem a ver com o facto de depois de acontecer as amizades ficarem inquinadas por alguma razão.
E a Peixa, com a sua mente quase generosa, oferece-nos uma explicação e essa em nada beneficia os meus homólogos na questão. Diz ela, e passo a citar, que no momento em que qualquer homem enfia a pila numa gaja ele faz tábua rasa de tudo o que aconteceu antes e ela passa a ser a “mulherzinha” (…) que está à espera que ele diga que a ama.
Escusado será dizer que com o seu amigo tubarão teria que esperar sentada, ou mesmo deitada caso ficasse sem forças para se levantar.
Existe de facto uma diferença clara entre amar e a intenção de repetir a dose se a coisa até correu bem. Um gajo, na excitação do momento, até lhe pode sair um não pares agora meu amor ou um ai que te amo tanto ó Rita(que até pode nem ser o nome da amiga em apreço). Mas não vale a pena alimentarem fantasias, pois os príncipes só são encantados enquanto não lhes murcha o entusiasmo e depois aterram na borda da cama plebeus e só os preocupa a check list do vestuário para se certificarem que não deixam para trás uma peúga ou assim.
E é aqui que se torna óbvio o facto de para um gajo normal não fazer sentido qualquer tipo de prurido quanto ao bonito gesto de amizade que constitui a disponibilização da própria pila como suporte para uma amiga momentaneamente desamparada, ou vice-versa (se forem as calças do amigo a já quase não resistirem a tanta pressão interior). Ou apenas porque a coisa, às vezes acontece, até se proporcionou no meio de umas larachas, de umas imperiais e de um pires de caracóis que os casais amigos igualmente partilham.
Por isso até posso aceitar as conclusões da Peixa, com a sua mente quase poderosa, mas apenas quando aplicadas no âmbito de uma experiência em concreto e jamais com o estigma da generalização que soa imenso a injustiça.
Nem a minha amizade por ela, fresca e desinibida e coiso que deixa tanta margem de manobra, me permite aceitar tal carapuça.