11 maio 2011

A posta na vitória possível


A velha senhora, mulher de princípios rigorosos e convicções firmes, jamais cedeu a qualquer tipo de tentação, a qualquer espécie de hesitação perante o seu sonho de encontrar um príncipe encantado capaz de lhe garantir a exclusividade absoluta de que jamais abdicaria.
E a vida foi avançando e a senhora foi envelhecendo sem desistir da sua pretensão, preferindo a solidão a qualquer espécie de remedeio que lhe violasse os rigorosos princípios e firmes convicções que a norteavam, desdenhando como inferiores todos e quaisquer amores que não respeitassem o seu conjunto de normas, a sua utopia que acarinhava com a mesma fé e as mesmas hipóteses estatísticas de um dia ver premiada a sua chave fixa do euromilhões.
Mas o tempo foi passando e a velha senhora foi esperando o surgimento no horizonte de um homem montes de diferente, montado no seu brioso corcel, que a levasse mais o seu animal de companhia para um palácio de fantasia onde o homem da sua vida dedicaria as vinte e quatro horas do dia ao culto exclusivo daquela mulher, incapaz sequer de fixar o olhar noutra que fosse a passar.
Passou sim, o tempo, e a senhora viu esgotarem-se as hipóteses de conceber um filho mas continuou à espera, olhos bem abertos para topar os chicos-espertos que tentassem enganá-la com falsos compromissos que certamente violariam, gentinha, conspurcando os ideais da senhora velhinha que um dia, sentada numa cadeira à espera do eleito, acabou por morrer sozinha com uma dor que lhe deu no peito mas orgulhosa do seu percurso tenaz que a provaria capaz da maior coerência, de enorme resistência que sabia ninguém lhe vergaria nem a tiro.
E era nisso que pensava enquanto exalava o seu último suspiro.

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