Suponho a pedra desconhecida. Sonho, imagino as sete mil formas possíveis de uma pedra; como será, qual o seu cheiro, o seu toque, o seu frio? Questiono e logo parto em busca da pedra resposta. Encontro a pedra real, toco-lhe, cheiro-a, sinto-a; agora sei exactamente como é. Em troca de 6999 ou mesmo 7000 fantasias, recebo a verdade. E o que é a verdade? Na verdade, o que recebi ou ganhei ao tocar a pedra? Sei de antemão que todas as fantasias podem, a maior parte das vezes, suplantar - quantitativa e qualitativamente - qualquer verdade. Sei que qualquer verdade pode ser uma ilusão, um engano à espreita, sorrateiro, para ferir mortalmente as perguntas. Sim, tenho medo da verdade, ela pode não me chegar, não me encher; eu ando sempre cheia de suposições, elas acamam confortavelmente e enchem-me de movimento. Poderia viver eternamente do lado de fora de uma janela, afagada pela imaginação, rodando sobre as minhas infinitas suposições, nunca imaginaria pouco ou pequeno, nunca apenas um quarto do dia-a-dia sempre igual, nunca toalhas rasgadas ou desbotadas. Nunca poderia espreitar, nunca poderia entrar, nunca poderia tocar. E eu quero tocar. Seja menor ou maior, eu quero tocar. Tocar é melhor que não tocar. E essa também é uma verdade. Toquei-te. Tive medo, sim, tive muito medo. Mas agora só tenho medo que chegue um dia em que não possa tocar.
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Uma por dia tira a azia