11 julho 2011
Confissões
De alguns amores, só a dor é bela, tão bela como dedos perfeitos, esguios, delicados, capazes de trazer o desejo ao olhar. São esses dedos, filhos de uma mão feita só de sombras, que retalham, arranham, com as suas belas, imaculadas unhas, no centro mais centro do peito, enquanto esperam, escondidos, a sua presa mais tenra, o amor que sobe aos olhos, para o empurrarem, enclausurarem dentro das órbitas, cego de mundo, prisioneiro em si. Também eu já vivi, também eu já senti, umas vezes prisioneira resignada, outras vezes hóspede fascinada; sobra-me dor na sua perfeição atroz, na sua beleza de gelo; não sei se a tento escrever ou se sou apenas mais uma das suas adendas.
Amo-te. Quando olho para ti, não sinto dor, nada dói, asseguro-te. De alguns amores, só o amor é...
Amo-te. Quando olho para ti, não sinto dor, nada dói, asseguro-te. De alguns amores, só o amor é...
10 julho 2011
«No psiquiatra» - por Rui Felício
Luisa entrou no consultório para mais uma sessão semanal de terapia. O divórcio litigioso tinha-a deixado de rastos e recorreu ao psiquiatra, onde andava há mais de um ano. O preço era alto, tinha que rentabilizar o tempo. Mas os resultados estavam a ser satisfatórios.
Ela sabia que se abandonasse ou alargasse a periodicidade das consultas, iria certamente ter uma recaída grave.
João, o médico, iniciou a consulta...
Uma das suas mãos subiu pela perna feminina, contornou a coxa, e quando agarrou na nádega… descobriu-a nua. A saia erguida até à cintura e as cuecas minúsculas deixavam a nádega redonda completamente descoberta e apetecível.
Ele interrompeu o gesto seguinte e olhou-a, inquisitivo.
– Vim preparada para a consulta, doutor, incentivou ela. Prossiga!
E as carícias continuaram até que ele a deitou sobre o divã.
O seu corpo sobre o dela, as mãos nos seus seios de bicos erguidos, a boca entre as suas coxas, saboreando-lhe o liquido melado e espesso, lambendo a sua humidade, levando-a ao primeiro orgasmo…
Beijaram-se de novo, a língua dele parecia que a devorava, tocando-a nos recantos mais escondidos. O seu beijo, cada vez mais profundo, aumentava-lhe e renovava-lhe a excitação. Deslizava a língua pelos lábios, pelo pescoço, mordiscava e chupava-lhe a ponta da sua orelha.
Luísa, escorregava as mãos pelo corpo masculino, desde a nuca, descendo pelas costas, apertando-o contra si, de mãos espalmadas nas nádegas masculinas. Sentia a força do seu membro endurecido e imaginava-o a rasgá-la até ao fundo, em pleno. Deslizou uma mão até ao fecho das calças de João, introduziu os dedos pela abertura, afastou para o lado as cuecas e, finalmente, tocou a carne dura, quente e húmida do pénis túrgido, de ponta aveludada, já lambuzada.
Ouviu o gemido dele contra o seu ombro e, deslizando para o chão, ajoelhou-se à sua frente, e baixou-lhe as calças. Meteu-o na boca...
Sentia fome daquele corpo masculino, de sexo. Sentia-se louca e só pensava em despir-se rapidamente, despi-lo a ele e pedir-lhe que invadisse as suas entranhas.
Mas a consulta ainda estava no início. Só tinha passado um quarto de hora, e, por isso, foi deixando que a sedução se prolongasse lentamente, que fossem conhecendo cada pedaço dos seus corpos, calmamente, beijando, chupando, tocando, apalpando, sentindo o prazer a dominar cada poro da pele, cada milímetro do corpo.
Olhou novamente para o relógio. Agora já só faltavam 10 minutos. Abriu-se toda e disse ao médico: Foda-me agora, doutor!
Profissional, ele quis certificar-se, previamente, se ela já tinha pago e perguntou-lhe:
- Quando entrou, a secretária, lá fora, deu-lhe o recibo?
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
09 julho 2011
A Rapariga Vulgar (II)
(Sim, eu sei que a vida é a autora do livro da minha existência. Não posso escrever as páginas. Mas anoto furiosamente as margens, mas lanço-me e ocupo cada espaço que a vida esquece em branco. Porque a vida é demasiado grande, tão grande que não pode ver todos os seus detalhes, tão grande que muitas vezes não me vê; e essa é a minha vantagem, os seus pontos cegos são a janela onde inscrevo a minha vontade. Ainda bem que me sei infinitamente pequena.)
O Sr. António da retrosaria nunca gostou de se sentir pequeno. Encosta-se à porta do seu estabelecimento para que o olhar possa ir à rua, ao outro lado da calçada, atravessar de gozo o corpo da rapariga; julga que assim a corta ao meio, a metade do seu tamanho, e sente-se ainda maior. A rapariga encolhe os ombros e continua a tentar atrair o desejo e a bolsa dos que passam; a magreza e a saia demasiado curta pintam-na de vulgaridade mas não lhe retiram a beleza, pára um carro e alguém a convida a entrar. O Sr. António é a feição do desdém, lábios finos, uma linha feia de sarcasmo coberta por um bigode amarelado; troca comentários ordinários com o Sr. João da padaria: "lá vai com mais um, lá vai com mais um" e ri-se, seco, gordo, uma gargalhada trocista que lhe ensopa a flacidez do pénis. Corre para dentro da loja, enquanto finge continuar a rir, para que ninguém lhe veja a mancha da humilhação espalhada nas calças. O Sr. António nunca gostou de se sentir pequeno; agora, é o balcão que o corta ao meio; o riso trocista pasmado na cara contrai, nos olhos, o brilho da vergonha que lhe esborracha lágrimas através das órbitas e que lhe espalma o corpo pendente e molhado contra a barreira do balcão.
O Sr. António da retrosaria nunca gostou de se sentir pequeno. Encosta-se à porta do seu estabelecimento para que o olhar possa ir à rua, ao outro lado da calçada, atravessar de gozo o corpo da rapariga; julga que assim a corta ao meio, a metade do seu tamanho, e sente-se ainda maior. A rapariga encolhe os ombros e continua a tentar atrair o desejo e a bolsa dos que passam; a magreza e a saia demasiado curta pintam-na de vulgaridade mas não lhe retiram a beleza, pára um carro e alguém a convida a entrar. O Sr. António é a feição do desdém, lábios finos, uma linha feia de sarcasmo coberta por um bigode amarelado; troca comentários ordinários com o Sr. João da padaria: "lá vai com mais um, lá vai com mais um" e ri-se, seco, gordo, uma gargalhada trocista que lhe ensopa a flacidez do pénis. Corre para dentro da loja, enquanto finge continuar a rir, para que ninguém lhe veja a mancha da humilhação espalhada nas calças. O Sr. António nunca gostou de se sentir pequeno; agora, é o balcão que o corta ao meio; o riso trocista pasmado na cara contrai, nos olhos, o brilho da vergonha que lhe esborracha lágrimas através das órbitas e que lhe espalma o corpo pendente e molhado contra a barreira do balcão.
Caminhando
Se a minha voz ecoa
nessa penumbra pontual
é porque eu - ainda -
te sinto;
talvez um caminho
sem destino
ou um desejo encantado.
Já guardei o teu cheiro,
e nele me afundo
em todas as horas
dos dias, que em horas
não se prolongam.
A minha voz é potente
e o encanto do caminho,
caminha-se, caminhando.
Poesia de Paula Raposo
08 julho 2011
A posta numa posta daquilo
Eu imagino o brilho nos olhos de toda a equipa de produção da agência publicitária quando foram definidos os contornos da actual campanha da Optimus/Kanguru.
A ideia é aplicar o velho conceito do canto da sereia, mesmo sem que um consumidor como eu consiga ver a ligação, ao anúncio da maior rapidez da net em causa.
Pois, a ideia parece estapafúrdia. Mas quando descobrimos que a cantadeira é a Soraia Chaves a ideia passa para um plano secundário e o prato do dia é peixe.
Sem espinhas.
Eu admiro os publicitários, a sério. São gente esperta, capaz de tornar apelativo o mais desinteressante dos assuntos/produtos. Um publicitário conhece melhor o seu mercado alvo do que cada um dos progenitores desse grupo seleccionado de futuros clientes de uma cena qualquer.
É tudo analisado ao pintelho, como diria um grande economista da nossa praça.
E algum iluminado viu-se a braços com uma campanha que visava chamar a atenção dos mais distraídos para o facto de uma operadora disponibilizar uma net mais rápida do que as outras e ocorreu-lhe logo a associação de ideias mais óbvia: isto é feito à medida da Soraia Chaves.
Claro que podia tratar-se da promoção a um saca-rolhas, era feito à medida da Soraia Chaves também, mas deve ter sido curiosa a argumentação do mentor desta campanha tão eficaz no sentido de defender a lógica implícita na Soraia Chaves vestida de sereia (um bicho rapidíssimo, como todos sabemos) e imóvel em cima de um calhau no meio de um lago mais plácido e pasmacento do que a net do concorrente mais fraquinho da TMN.
Presumo que alguém terá questionado: então mas não faria mais sentido optar por uma atleta, uma velocista, ou por aquela camionista dos ralis?
Qual quê? Isso são tartarugas à beira da Soraia Chaves! Basta a rapariga aparecer na tv para o pessoal sair da casa de banho em passo acelerado para ainda apanhar o anúncio.
Por outro lado, o consumidor comum, esse eterno encantado pelo apelo publicitário, não resiste ao canto da sereia quando esta só tem uma espécie de conchinhas a cobrirem-lhe a metade sem escamas. É quase instantânea a vontade de comprar, não interessa o quê, pela colagem da carne ao peixe numa combinação tão saudável e feliz.
E nem precisa de cantar, a figura mítica, pois nove em cada dez cidadãos do sexo masculino residentes em Portugal, dos oito aos oitenta e oito anos de idade e moradores no Restelo ou no Arneiro da Azeitada (concelho de Almeirim, se não estão bem a ver onde fica) ouvem com os olhos quando se trata da Soraia Chaves e seja ela sereia, hospedeira de bordo ou canalizadora nenhuma campanha publicitária passa despercebida.
Chaves daquelas abrem em fracções de segundo a fechadura da nossa atenção e as portas do desejo de navegar muito depressa pela net à beira-mar, enrolados pelas ondas, enquanto ela dá à cauda e agita ligeiramente as conchinhas e os cangurus começam aos saltos no areal do nosso impulso consumidor de comunicações apressadas.
E o download da mensagem que a campanha pretende transmitir não é rápido, é praticamente instantâneo.
(Sim, eu reparei que o anúncio é da Vodafone. But who cares?)
A treinar para ser uma cheerleader!
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