13 julho 2012
Sem assunto
Ficámos
sem assunto.
Ficámos
sem assunto mas não nos calámos.
Ficámos
sem assunto mas continuámos a falar.
Ficámos
sem assunto, apavorados com o silêncio que nos podia afastar. Separar.
Ficámos
sem assunto mas não queríamos ter de tocar nesse assunto.
A
falta de assunto é um assunto melindroso. Uma mina a crescer debaixo dos nossos
pés, a alastrar para todo o lado, a tomar conta de tudo. A imobilizar-nos totalmente.
A
falta de assunto é uma espécie de doença contagiosa, pensamos, que nos agarra e
não nos larga. Sem cura. Que nos marca e, depois, nos define. A falta de
assunto torna-nos desinteressantes. Silenciosos e transparentes, em risco de
desaparecimento. A comunicação esvai-se e não se retoma. E, no entanto, é no
silêncio que melhor comunicamos, que nos encontramos quando o assunto somos nós.
Quando nós somos um assunto. Um assunto sério.
Se
ficamos sem assunto e lutamos contra isso como se lutássemos pelo ar que
respiramos podemos seguir em frente.
Quando
duas pessoas precisam de assunto para comunicar, não há assunto que lhes valha.
12 julho 2012
«Trinta cadelas ao meu osso» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
Os segredos do caralho
Mote
Os segredos do caralho
Ninguém os pode entender;
Alegre quando tem fome,
Triste depois de comer!
Glosa
De pedreiro oficial
Contratou um casamento,
E guardava (oh! que portento!)
Um estado virginal.
Em a véspera nupcial
Acabou o seu trabalho,
E, à sombra de um carvalho,
Disse, vendo a terna irmã:
– Eu vou saber amanhã
Os segredos do caralho.
Passando a noite ditosa
Desse prazer tão completo,
Que, para o tal arquiteto,
Tinha sido deleitosa,
Deixa um pouco a terna esposa,
Vai da irmã à casa ter;
E, ao vi-lo receber,
Diz-lhe ele baixo à orelha:
– Mana, segredos d'abelha
Ninguém os pode entender.
– É verdade, lhe replica
A irmã, que a foder é destra;
Nem com ser abelha-mestra
Sei os segredos da pica...
Não viste tu como fica
Antes e depois que come?
É uma cousa sem nome!...
Nota bem que não gracejo;
É só o bicho que vejo
Alegre, quando tem fome!
– Reparei, irmã querida,
E fez-me grande impressão
Vir-lhe aquela indigestão
Logo depois da comida!
Cansado da dura lida
Parece que vai morrer;
Embalde tenta se erguer
Porque a fraqueza o tolhe,
E entre os colhões se recolhe,
Triste depois de comer!
Laurindo Rabelo (1826-1864)
Os segredos do caralho
Ninguém os pode entender;
Alegre quando tem fome,
Triste depois de comer!
Glosa
De pedreiro oficial
Contratou um casamento,
E guardava (oh! que portento!)
Um estado virginal.
Em a véspera nupcial
Acabou o seu trabalho,
E, à sombra de um carvalho,
Disse, vendo a terna irmã:
– Eu vou saber amanhã
Os segredos do caralho.
Passando a noite ditosa
Desse prazer tão completo,
Que, para o tal arquiteto,
Tinha sido deleitosa,
Deixa um pouco a terna esposa,
Vai da irmã à casa ter;
E, ao vi-lo receber,
Diz-lhe ele baixo à orelha:
– Mana, segredos d'abelha
Ninguém os pode entender.
– É verdade, lhe replica
A irmã, que a foder é destra;
Nem com ser abelha-mestra
Sei os segredos da pica...
Não viste tu como fica
Antes e depois que come?
É uma cousa sem nome!...
Nota bem que não gracejo;
É só o bicho que vejo
Alegre, quando tem fome!
– Reparei, irmã querida,
E fez-me grande impressão
Vir-lhe aquela indigestão
Logo depois da comida!
Cansado da dura lida
Parece que vai morrer;
Embalde tenta se erguer
Porque a fraqueza o tolhe,
E entre os colhões se recolhe,
Triste depois de comer!
Laurindo Rabelo (1826-1864)
Eric Gill (1882-1940), Most Precious Ornament, 1937 blog A Pérola |
11 julho 2012
«Bipolaridades» - livro de poesia da Vera Sousa Silva
Estou a deliciar-me com a minha mais recente aquisição: o livro de poesia «Bipolaridades» de Vera Sousa Silva (editora Lua de Marfim), que se vai juntar, depois de lido, aos outros 213 livros de poesia da minha colecção de arte erótica.
Deixo-vos aqui um dos poemas, «Memórias de ti»:
"No silêncio dos teus lábios
ecoa o meu medo
e sombras perseguem-me
gritando-me do teu desdém.
Rios descem dos meus olhos
naufragando em vestes
de versos quentes
que te sussurrei
num leito d’ âmbar.
Sufoca-me o tempo,
medida da saudade
do teu corpo.
Asfixia-me a demora
em ter teu beijo,
único alimento
da minh’alma.
Estremeço ausente,
mergulho no sonho
e morro nas memórias de Ti!"
Este poema pode ser ouvido aqui, lido pela voz d'ouro do Luís Gaspar, que também nos lê o poema «Saltos altos».
Deixo-vos aqui um dos poemas, «Memórias de ti»:
"No silêncio dos teus lábios
ecoa o meu medo
e sombras perseguem-me
gritando-me do teu desdém.
Rios descem dos meus olhos
naufragando em vestes
de versos quentes
que te sussurrei
num leito d’ âmbar.
Sufoca-me o tempo,
medida da saudade
do teu corpo.
Asfixia-me a demora
em ter teu beijo,
único alimento
da minh’alma.
Estremeço ausente,
mergulho no sonho
e morro nas memórias de Ti!"
Este poema pode ser ouvido aqui, lido pela voz d'ouro do Luís Gaspar, que também nos lê o poema «Saltos altos».
«uma boa e uma má notícia» - bagaço amarelo
Depois de jantar, e já com a louça lavada e um uísque bebido, saía de casa e caminhava sempre em direcção ao mesmo bar onde, se fosse possível, ocupava o mesmo lugar ao balcão e bebia todas as noites também o mesmo. Um café Delta e dois ou três uísques Bushmills. Às vezes aparecia um conhecido qualquer e acaba a conversar sobre uma trivialidade qualquer, outras vezes não aparecia ninguém e trocava apenas algumas ideias com o empregado.
Esta rotina teve em mim o óptimo efeito de fazer com que as minhas noites deixassem de ser más. Numa dessas noites, em que ninguém apareceu para conversar e o empregado andava demasiado ocupado para me aturar, apercebi-me que todavia nenhuma era muito boa. Eram, todas elas, noites mais ou menos.
Lembro-me perfeitamente do dia seguinte. Cozinhei uma quantidade generosa de Ameijoas à Bolhão Pato que comi com bastante pão de mistura, acompanhado por uma toalha nova amarela comprada numa promoção qualquer, e uma garrafa de Quinta da Bica que tinha escolhido por ser da região do Dão. Tudo ao som da Cesária Évora. Lavei a louça, bebi um uísque e saí de casa. Foi logo no primeiro cruzamento que decidi virar, pela primeira vez nessa fase da minha vida, à direita e seguir caminhando sem destino óbvio. Não sabia se ia ter uma noite boa ou má, mas o principal objectivo era que não fosse mais ou menos.
Já nos subúrbios da cidade, dissimulado pela fraca luz de alguns candeeiros público intermitentes, percebi que alguém empurrava um carro rouco e fui ajudar. O automóvel acabou por pegar, depois do motor soluçar duas ou três vezes, e o condutor desapareceu engolido pela noite enquanto agradecia com um braço fora da janela. Fiquei eu, ela e um vento fraco, sozinhos numa rua deserta. Nenhum reagiu prontamente àquele encontro inesperado, nem para se despedir, nem para se apresentar. Passou a ser óbvio que nenhum de nós tinha para onde ir e não queria ser o primeiro a admiti-lo.
- Ando à procura dum sítio para beber qualquer coisa. Há aqui algum bar perto? - perguntei.
Só a vi bem quando entrámos num café vazio, onde o dono via os resumos dos jogos de futebol e demorou uma meia hora para nos vir perguntar o que queríamos. Era, à vontade, uns vinte e tal anos mais velha do que eu, cujo semblante triste se deixava rasgar de vez em quando por sorrisos contidos. Contou-me que em nova tinha sido actriz de teatro e que, antes do 25 de Abril, tinha mostrado as mamas em palco. Não percebi se o dizia com vergonha ou com orgulho, mas percebi que tinha pagado um preço muito alto por tal atrevimento. A família tinha-a expulsado de casa deixando-a, ainda nova, entregue a si mesma.
Comparado com a vida dela, o meu divórcio recente ganhava uma dimensão bastante reduzida e tentei não me mostrar muito triste quando lhe expliquei porque é que andava ali perdido.
- Separei-me há pouco tempo. - expliquei-lhe - Ando a tentar ganhar novas rotinas de vida e hoje, não sei porquê, vim aqui parar.
- Tenho uma má e uma boa notícia para ti. - sorriu ela mais tempo do que em qualquer sorriso anterior.
- Diz...
- A má notícia é que te divorciaste e nunca mais vais poder viver a vida como fazias até agora. Não é possível porque a tua principal companheira já não está contigo.
- E a boa notícia, qual é?
- A boa é que estás divorciado, por isso podes viver as coisas como te apetecer.
Por um momento percebi as minhas receitas novas todos os dias, as minhas toalhas lavadas de novo, as minhas garrafas de vinho escolhidas a dedo e as minhas idas sempre ao mesmo bar para beber uísque. Percebi até porque é que tinha mudado de direcção e ido para um café rasca falar com uma mulher que nunca tinha visto antes. Nessa noite mudei.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
“Oris foderus” ou "Técnica de foder bocas"
Na espécie humana o sexo permite muitas possibilidades de arranjos... um ser activo, outro passivo, vice-versa, ambos activos ao mesmo tempo... e todas as variantes pelo meio... No que respeita ao movimento dos corpos, o mesmo. Por exemplo, se o corpo do macho está parado e o da fêmea se movimenta servindo-se da boca, chupando, lambendo, massajando, diz-se que se trata de uma "mamada", “broche”, ou, usando do termo mais erudito, “fellatio”. Se é o macho que se movimenta enfiando a picha (do latim, phallus) na boca da fêmea, estando ela parada, então está a "foder-lhe a boca" (por azar, tanto os gregos como os romanos esqueceram-se de dar nome a isto. No século XXI, todavia, trataremos de suprimir estas lacunas, que a gente sabe que o Verbo, e também o substantivo, têm muita força). Dentro do género há muitas modalidades possíveis, entre as quais uma modalidade lenta em que ambos os corpos estão em posição de conforto (deitados de lado dá muito jeito), o macho limita-se a um movimento pendular umas vezes mais suave, outras menos, e a fêmea segura a picha (o phallus) para aquilo não sair dos carris (e se puder um pouco mais), e pode usar a mãozinha livre para massajar o clitóris (e se a coisa correr bem, vir-se de vez quando que é muito agradável para ambos). A parte mais difícil (e que requer um pouco de treino e de técnica) prende-se com o facto de, para que a fêmea mantenha a picha (o phallus) dentro da boca por período indefinido, ser necessária uma aprendizagem de controlo da respiração e da acumulação da saliva de modo a que coisa funcione na perfeição. A questão é também a de que o arranjo chegue ao ponto em que a parte física seja suficientemente simplificada e "natural" para que as mentes de ambos estejam completamente livres para sentir prazer (o qual tende a torna-se, como o riso, contagioso). Os movimentos mecânicos complexos ou incómodos, ou suster a respiração ou outras coisas que obriguem a "pensar" ou a “esforços”, são limitantes da plena fruição do prazer... de onde, igualmente, sejam muito agradáveis os momentos (dos quais, ao que parece, a espécie tira pouco partido) em que um se dedica exclusivamente ao prazer do outro (que se limita a respirar e a sentir e mais nada... o que, a ser bem feito, já ocupa muito “espaço”...)
... não quero com isto dizer que por vezes posições mais esquisitas e movimentos mais artificiais, que exijam muito “espaço em disco”, não possam, justamente por via disso, ser excitantes... são também questões de preferência... mas julgo que é saudável fazer-se uma manutenção justa da variedade...
Os exemplares da espécie humana possuem um crânio equipado de um cérebro de grande volume e ainda de muito maior superfície, pelo que tudo leva a crer que as especificidades da espécie exijam na prática sexual o uso desta mesma cabeça além daquela outra situada a meia haste, mesmo que a tal sirva de suporte ao estandarte… não fosse assim, e também as vacas teriam ponto G e clitóris… (digo eu… nem posso assegurar que o não tenham, entendo pouco de vacas, mas suponho que não…)
(... e supunha muito mal, que as vacas têm clitóris, sim senhor, bem como, ao que dizem, os mamíferos todos... ponto G é que não sei... mas já não digo nada... Apesar do meu anterior raciocínio obtuso (tipicamente Homo sapiens sapiens), mais uma razão no caso para que a malta tenha um conhecimento básico a respeito destas características comuns à nossa classe Mammalia).
[blog Libélula Purpurina]
10 julho 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)