Com a cara de chapada de sempre, Lady Gaga aparece na varanda do hotel em que está hospedada, em Ipanema, e mostra seu corpo quase desnudo, que até dá pra dar um caldo.
18 novembro 2012
Clandestinos
Encontrei este delicioso naco de prosa e apeteceu-me partilhá-lo convosco:
«(...) Quando nos encontrávamos naquele quarto manhoso daquela pensão manhosa, foi a melhor época das nossas vidas.
Éramos admiravelmente mentirosos, encontrávamo-nos ali admiravelmente clandestinos, ninguém poderia imaginar que eu, Tita, e ele, Vítor, saboreávamos, todos nus em cima da cama, obscenos bombons de chocolate e ginjas, que nos apalpávamos espaçada e gulosamente, sem pressas, e ele, sem pressas, ia apresentando intimidades do seu corpo que eu desconhecia, novas borbulhas, novos pêlos, e tínhamos também as nossas doces fantasias. A que ele gostava mais era aquela com o meu vestido de comunhão que já não me servia, mas imaginávamos coisas com ele. E imaginávamos muito mais coisas e ele chamava-me «minha putinha doce», e eu pensava «ah, que bom!» e deixava cair um fio de baba pelo pescoço abaixo.
Também me chamava Madame e Mademoiselle enquanto entrelaçava os seus pés nos meus pés e as suas pernas quentes nas minhas pernas quentes e assim rolávamos, rolávamos até cair num abismo com milhares de cores à nossa volta, até cairmos num poço sem fundo, húmido, cheio de salamandras e bichos esquisitos que trepavam pelos nossos corpos colando-se e fixando-se sofisticadamente nas nossas intimidades (...)»
Cristina Carvalho
em "A CASA DAS AURORAS"
publicado em 2011 por Planeta Manuscrito
Éramos admiravelmente mentirosos, encontrávamo-nos ali admiravelmente clandestinos, ninguém poderia imaginar que eu, Tita, e ele, Vítor, saboreávamos, todos nus em cima da cama, obscenos bombons de chocolate e ginjas, que nos apalpávamos espaçada e gulosamente, sem pressas, e ele, sem pressas, ia apresentando intimidades do seu corpo que eu desconhecia, novas borbulhas, novos pêlos, e tínhamos também as nossas doces fantasias. A que ele gostava mais era aquela com o meu vestido de comunhão que já não me servia, mas imaginávamos coisas com ele. E imaginávamos muito mais coisas e ele chamava-me «minha putinha doce», e eu pensava «ah, que bom!» e deixava cair um fio de baba pelo pescoço abaixo.
Também me chamava Madame e Mademoiselle enquanto entrelaçava os seus pés nos meus pés e as suas pernas quentes nas minhas pernas quentes e assim rolávamos, rolávamos até cair num abismo com milhares de cores à nossa volta, até cairmos num poço sem fundo, húmido, cheio de salamandras e bichos esquisitos que trepavam pelos nossos corpos colando-se e fixando-se sofisticadamente nas nossas intimidades (...)»
Cristina Carvalho
em "A CASA DAS AURORAS"
publicado em 2011 por Planeta Manuscrito
17 novembro 2012
"Socorro! Credo! O meu bebé mexe na pilinha e faz uma cara que até me faz corar!..."
Isto de ser-se pai ou mãe tem muito o que se lhe diga...
(revista Sábado de 31/10/2012)
«respostas a perguntas inexistentes (214)» - bagaço amarelo
Tinha-lhe dito ao telefone que não me apetecia estar com ninguém, mas ela insistiu que queria vir. Argumentou que não demoraria muito. Esperei, entre esse telefonema e a chegada dela, talvez uns vinte minutos. Depois vi-a entrar, servir dois copos de vinho duma garrafa que ela própria trouxe, e sentar-se ao meu lado no sofá.
O cd áudio que estava a tocar acabou nesse preciso momento. Ela levantou-se de novo e escolheu uma colectânea de música popular brasileira para encher a casa com alguma alegria. Palavras dela, pelo menos. Perguntou-me várias coisas sobre mim: se eu ando bem, se está tudo bem entre mim e a Raquel, se está tudo bem com a minha filha e se ando a ler algum livro. Respondi que sim a tudo. Por fim saiu de novo, sem se servir de um segundo copo, e disse-me para lhe ligar se precisasse.
A Patrícia é uma amiga rara. É leve. Acho que me Ama sem nunca ter estado apaixonada por mim. Quer-me bem e não quer mais nada. Atura-me nas minhas infinitas mariquices de homem adulto, sempre sem demonstrar cansaço ou impaciência. Não me pede nada em troca da sua atenção. Nem sequer a minha própria atenção.
Ouvi o motor do carro dela arrancar lá em baixo e fui à cozinha molhar os copos de vinho para que os resíduos não secassem. Vi a garrafa dela a meio, pus-lhe uma rolha e guardei-a. E eu, que não queria ver ninguém, fiquei imediatamente com saudades dela.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Cockolada
Bisnaga com uma bebida qualquer (não sei qual pois nunca a abri) lá dentro.
Uma curiosidade da minha colecção, que também tem destas... modernices.
Uma curiosidade da minha colecção, que também tem destas... modernices.
16 novembro 2012
«Arrastão de amizade» in «Carcavelos dos Cinco Sentidos - volume II»
O nosso Grande Membro Jorge Castro (OrCa) não descansou enquanto nós não escrevemos uma crónica sobre o dia memorável que a malta d'a funda São passou em Carcavelos, nos idos de 2005, para o Volume II do livro «Carcavelos dos Cinco Sentidos - volume II», uma publicação da Junta de Freguesia de Carcavelos que o Jorge Castro coordenou.
O resultado aqui fica, para quem não tem acesso ao livro:
Arrastão de Amizade
Era um sábado a meio do mês de Junho de 2005. Coimbra já estava acordada mas eu não, quando o telefone tocou:
- São Rosas? É… Jor… Castr… - a chamada (ou o meu cérebro) estava com falhas, mas reconheci a voz do meu amigo Jorge Castro, o nosso OrCa.
- Olá, Mestre OrCa. Não te estou a ouvir muito bem, mas diz…
- Quer… cá vê-los…
- Queres ver-nos?! Aonde?
- Eu disse Carcavelos! Quero que… venham a Carcavelos!
- Ah! Tinha entendido “quero cá vê-los”…
- E quero... Temos que… próximo encontro em Carcavelos! Num restaurante… praia…
- Estás doido, Jorge?! A malta fazer o encontro na praia de Carcavelos quando houve aí há pouco tempo (no dia 10) o arrastão?! Mas olha que pensando bem... agora a praia deve ser um sossego. Ah! Ah! Ah!
E, mesmo com um telefonema aos soluços, ficou combinado: o terceiro encontro dos membros e membranas do blog «a funda São» iria ser no restaurante Estrela do Mar, na praia de Carcavelos, no dia 2 de Julho, depois de uma visita… científica ao 1º Salão Erótico de Lisboa.
Éramos cerca de vinte folgazões, elas e eles dos quatro cantos e respectivas arestas desta nossa pequena amostra de mundo.
Quando chegámos à praia, já o Sol acariciava o horizonte.
O jantar, de caracóis e gambas, foi regado a música, poesia, manifestações tântricas, outras danças de ventre com jogos de cintura e até oficinas de iniciação a técnicas inovadoramente estimulantes, donde sobressaiu uma palestra sobre as múltiplas e desvairadas aplicações de um anel peniano, tudo sob o olhar plácido e condescendente sobre bigode farfalhudo do que nos disseram ser o vetusto fundador daquela casa e que a tudo assistia de quadro emoldurado, presidindo à sala.
Eu própria fui brindada com um concupiscente e, porventura, bem-intencionado braçado de rosas vermelho-sangue que, por razões que não virão ao caso, deixou a assembleia perto de um acesso de riso convulso.
Já a madrugada ia longa quando saímos do restaurante… e não resistimos a experimentar o conforto do extenso areal, num piquenique à luz da Lua, convidativa e inspiradora, em círculo apertado (que o frio era muito) e entoando loas à Vida, às chamuças e ao champagne, entretanto conservado geladinho por amabilidades da gerência do restaurante e, assim, em claro contrassenso em relação ao que a temperatura recomendaria, mas em absoluta sintonia com o saudável e prazenteiro desvario que se desfrutava.
O JF recorda-se “que tinha sido pouco tempo depois do arrastão e estávamos sempre na brincadeira a saber quando seria o próximo, àquela hora da noite. Apesar de algum frio, a conversa esteve sempre animada e eu creio que havia umas caixas com sortido de bolos que iam passando de mão em mão lá mais para o final da madrugada.”
Ao Jorge Castro, não lhe sai da ideia “um casalinho que se espojava na praia àquela hora tardia e se assarapantou com o chavasco do colectivo - talvez presumindo algum arrasto tardio - e se desvaneceu na escuridão do mar, onde a humidade é mais intensa”. Memoráveis, ainda, os cânticos pela noite dentro, com recurso aos portáteis, entretanto ligados, em pleno areal, sobre as caixas térmicas e lancheiras onde transportáramos as vitualhas. Verdadeira tecnologia de ponta, em círculo!
Como relembra o Jorge Costa, “estar sentado na areia de Carcavelos em madrugada serena e fresca, na companhia dos amigos, é caso de memória. Não pelo champagne ou pelas chamuças – como se sabe, elemento de simbologia eminentemente erótica – ou pelos bolos da confeitaria dos Amigos do Doce que em boa hora a lembrança levou do Porto, mas pelo facto de se ter festejado mais uma noite entre amigos.
Ainda e sempre com eles no meu pensamento, atravessámos a noite em direcção ao dia que se fazia pela estrada fora no regresso a casa. E, depois de ter deixado o último amigo em casa, adormeci feliz e cansado numa bomba de gasolina em plena auto-estrada.
Sei que acordei com excursionistas de presunto e garrafão, colados na porta da minha viatura. Os sorrisos deles foram o rastilho para uma gargalhada interior. O dia estava perfeito. A noite a isso tinha levado. Tinha estado entre amigos... numa noite em Carcavelos.”
Não sei quais são a origem e o significado do nome Carcavelos. Mas desde este dia, em que a amizade nos arrastou para passarmos nessa praia uma noite memorável, a mim soa-me a "Quero cá vê-los". E havemos de lhe fazer, de novo, essa vontade…
A vossa, só vossa, eroticamente vossa
São Rosas
Março de 2012
texto e fotos colectivos – JF, Jorge Costa, Jorge Castro e Paulo Moura
O resultado aqui fica, para quem não tem acesso ao livro:
Arrastão de Amizade
Era um sábado a meio do mês de Junho de 2005. Coimbra já estava acordada mas eu não, quando o telefone tocou:
- São Rosas? É… Jor… Castr… - a chamada (ou o meu cérebro) estava com falhas, mas reconheci a voz do meu amigo Jorge Castro, o nosso OrCa.
- Olá, Mestre OrCa. Não te estou a ouvir muito bem, mas diz…
- Quer… cá vê-los…
- Queres ver-nos?! Aonde?
- Eu disse Carcavelos! Quero que… venham a Carcavelos!
- Ah! Tinha entendido “quero cá vê-los”…
- E quero... Temos que… próximo encontro em Carcavelos! Num restaurante… praia…
- Estás doido, Jorge?! A malta fazer o encontro na praia de Carcavelos quando houve aí há pouco tempo (no dia 10) o arrastão?! Mas olha que pensando bem... agora a praia deve ser um sossego. Ah! Ah! Ah!
E, mesmo com um telefonema aos soluços, ficou combinado: o terceiro encontro dos membros e membranas do blog «a funda São» iria ser no restaurante Estrela do Mar, na praia de Carcavelos, no dia 2 de Julho, depois de uma visita… científica ao 1º Salão Erótico de Lisboa.
Éramos cerca de vinte folgazões, elas e eles dos quatro cantos e respectivas arestas desta nossa pequena amostra de mundo.
Quando chegámos à praia, já o Sol acariciava o horizonte.
O jantar, de caracóis e gambas, foi regado a música, poesia, manifestações tântricas, outras danças de ventre com jogos de cintura e até oficinas de iniciação a técnicas inovadoramente estimulantes, donde sobressaiu uma palestra sobre as múltiplas e desvairadas aplicações de um anel peniano, tudo sob o olhar plácido e condescendente sobre bigode farfalhudo do que nos disseram ser o vetusto fundador daquela casa e que a tudo assistia de quadro emoldurado, presidindo à sala.
Eu própria fui brindada com um concupiscente e, porventura, bem-intencionado braçado de rosas vermelho-sangue que, por razões que não virão ao caso, deixou a assembleia perto de um acesso de riso convulso.
Já a madrugada ia longa quando saímos do restaurante… e não resistimos a experimentar o conforto do extenso areal, num piquenique à luz da Lua, convidativa e inspiradora, em círculo apertado (que o frio era muito) e entoando loas à Vida, às chamuças e ao champagne, entretanto conservado geladinho por amabilidades da gerência do restaurante e, assim, em claro contrassenso em relação ao que a temperatura recomendaria, mas em absoluta sintonia com o saudável e prazenteiro desvario que se desfrutava.
O JF recorda-se “que tinha sido pouco tempo depois do arrastão e estávamos sempre na brincadeira a saber quando seria o próximo, àquela hora da noite. Apesar de algum frio, a conversa esteve sempre animada e eu creio que havia umas caixas com sortido de bolos que iam passando de mão em mão lá mais para o final da madrugada.”
Ao Jorge Castro, não lhe sai da ideia “um casalinho que se espojava na praia àquela hora tardia e se assarapantou com o chavasco do colectivo - talvez presumindo algum arrasto tardio - e se desvaneceu na escuridão do mar, onde a humidade é mais intensa”. Memoráveis, ainda, os cânticos pela noite dentro, com recurso aos portáteis, entretanto ligados, em pleno areal, sobre as caixas térmicas e lancheiras onde transportáramos as vitualhas. Verdadeira tecnologia de ponta, em círculo!
Como relembra o Jorge Costa, “estar sentado na areia de Carcavelos em madrugada serena e fresca, na companhia dos amigos, é caso de memória. Não pelo champagne ou pelas chamuças – como se sabe, elemento de simbologia eminentemente erótica – ou pelos bolos da confeitaria dos Amigos do Doce que em boa hora a lembrança levou do Porto, mas pelo facto de se ter festejado mais uma noite entre amigos.
Ainda e sempre com eles no meu pensamento, atravessámos a noite em direcção ao dia que se fazia pela estrada fora no regresso a casa. E, depois de ter deixado o último amigo em casa, adormeci feliz e cansado numa bomba de gasolina em plena auto-estrada.
Sei que acordei com excursionistas de presunto e garrafão, colados na porta da minha viatura. Os sorrisos deles foram o rastilho para uma gargalhada interior. O dia estava perfeito. A noite a isso tinha levado. Tinha estado entre amigos... numa noite em Carcavelos.”
Não sei quais são a origem e o significado do nome Carcavelos. Mas desde este dia, em que a amizade nos arrastou para passarmos nessa praia uma noite memorável, a mim soa-me a "Quero cá vê-los". E havemos de lhe fazer, de novo, essa vontade…
A vossa, só vossa, eroticamente vossa
São Rosas
Março de 2012
texto e fotos colectivos – JF, Jorge Costa, Jorge Castro e Paulo Moura
Nos EUA, homem com ‘maior pênis’ foi barrado suspeito de levar arma.
Em julho, um homem que é conhecido por ter o maior pênis do mundo foi parado por agentes da TSA (Administração da Segurança em Transportes dos EUA, na sigla em inglês) no Aeroporto Internacional de San Francisco sob suspeita de que estivesse escondendo uma arma. ‘Eu disse: ‘É o meu pênis’’, contou ao ‘Huffington Post’ Jonah Falcon, que diz deter o recorde do maior pênis do mundo. (Foto: Reprodução)
Outros incidentes:
Em abril, o norte-americano John E. Brennan, de 49 anos, foi preso no aeroporto internacional de Portland, no estado do Oregon (EUA), após ficar nu em protesto contra o uso de scanner corporal nos aeroportos. (Foto: AP)
Em abril, uma mulher provocou um tumulto ao ficar nua no Aeroporto Internacional de Denver, no estado do Colorado (EUA). O incidente durou cerca de 20 minutos. A mulher teria tirado a roupa depois que funcionários do aeroporto pediram para ela apagar o cigarro. (Foto: Reprodução)
Fonte: Planeta Bizarro
Obscenatório
Cratera
Sobre campos de feno dourado
e um imenso azul salgado,
escuto esse canto de tenor
vindo das terras quentes do Sul,
das crateras ardentes e húmidas,
onde amantes se perdem em suor e saliva,
deleite e luxúria,
escondidos numa clareira exótica
de orquídeas e glicínias,
presos numa teia doce
de chocolate, baunilha e canela…
… Prova-me… neste recanto prateado da lua,
onde o tempo fica suspenso
nos teus lábios e na minha língua,
enquanto me desenhas o contorno da cintura
e deslizas para as minhas coxas que se entreabrem
e clamam pela tua boca…
Escrevo-te na pele as linhas do meu corpo,
sorvo-te cada centímetro que cresce no meu ventre
como a areia seca que absorve a espuma branca do mar…
Ondulo sob a copa deste pinheiro bravo,
esfinge que nos suporta o sentido da vida…
Entre cada raio de luz que penetra a folhagem densa,
uma lágrima desprende-se do meu rosto…
… finalmente entras em mim como se fosse a última vez!
Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt
15 novembro 2012
Maria de Magdala
(…) Com tantos movimentos e observações, acabou Maria de Magdala de fazer o penso ao dorido pé de Jesus, rematando-o com uma sólida e pertinente atadura, Aí tens, disse ela, Como te devo agradecer, perguntou Jesus, e pela primeira vez os seus olhos tocaram os olhos dela, negros, brilhantes como carvões de pedra, mas onde perpassava, como uma água que sobre água corresse, uma espécie de voluptuosa velatura que atingiu em cheio o corpo secreto de Jesus. A mulher não respondeu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a pessoa que era, que de dinheiros bem se via que não estava provido o pobre moço, e por fim disse, Guarda-me na tua lembrança, nada mais, e Jesus, Não esquecerei a tua bondade, e depois, enchendo-se de ânimo, Nem te esquecerei a ti, Porquê, sorriu a mulher, Porque és bela, Não me conheceste no tempo da minha beleza, Conheço-te na beleza desta hora. O sorriso dela esmoreceu, extinguiu-se, Sabes quem sou, o que faço, de que vivo, Sei, Não tiveste mais que olhar para mim e ficaste a saber tudo, Não sei nada, Que sou prostituta, Isso sei, Que me deito com homens por dinheiro, Sim, Então é o que eu digo, sabes tudo de mim, Sei só isso. A mulher sentou-se junto dele, passou-lhe suavemente a mão pela cabeça, tocou-lhe na boca com a ponta dos dedos, Se queres agradecer-me, fica este dia comigo, Não posso, Porquê, Não tenho com que pagar-te, Grande novidade, Não te rias de mim, Talvez não creias, mas olha que mais facilmente me riria de um homem com a bolsa cheia, Não é só a questão do dinheiro, Que é, então. Jesus calou-se e voltou a cara para o lado. Ela não o ajudou, podia ter-lhe perguntado, És virgem, mas deixou-se ficar calada, à espera. Fez-se silêncio, tão denso e profundo que parecia que apenas os dois corações soavam, mais forte e rápido o dele, o dela inquieto com a sua própria agitação. Jesus disse, Os teus cabelos são como um rebanho de cabras descendo das vertentes pelas montanhas de Galaad. A mulher sorriu e ficou calada. Depois Jesus disse, Os teus olhos são como as fontes de Hesebon, junto à porta de Bat-Rabim. A mulher sorriu de novo, mas não falou. Então Jesus voltou lentamente o rosto para ela e disse, Não conheço mulher. Maria segurou-lhe as mãos, Assim temos de começar todos, homens que não conheciam mulher, mulheres que não conheciam homem, um dia o que sabia ensinou, o que não sabia aprendeu, Queres tu ensinar-me, Para que tenhas de agradecer-me outra vez, Dessa maneira, nunca acabarei de agradecer-te, E eu nunca acabarei de ensinar-te. Maria levantou-se, foi trancar a porta do pátio, mas primeiro dependurou qualquer coisa do lado de fora, sinal que seria de entendimento, para os clientes que viessem por ela, de que se havia cerrado a sua fresta porque chegara a hora de cantar, Levanta-te, vento do norte, vem tu, vento do meio-dia, sopra no meu jardim para que se espalhem os seus aromas, entre o meu amado no seu jardim e coma dos seus deliciosos frutos. Depois, juntos, Jesus amparado, como fizera antes, ao ombro de Maria, esta prostituta de Magdala que o curou e o vai receber na sua cama, entraram em casa, na penumbra propícia de um quarto fresco e limpo. A cama não é aquela rústica esteira estendida no chão, com um lençol pardo lançado por cima, que Jesus viu sempre em casa dos pais enquanto lá viveu, esta é um verdadeiro leito como o outro de que alguém disse, Adornei a minha cama com cobertas, com colchas bordadas de linho do Egipto, perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo. Maria de Magdala conduziu Jesus até junto do forno, onde o chão era de ladrilhos de tijolo, e ali, recusando o auxílio dele, por suas mãos o despiu e lavou, às vezes tocando-lhe o corpo, aqui e aqui, e aqui, com as pontas dos dedos, beijando-o de leve no peito e nas ancas, de um lado e do outro. Estes roces delicados faziam estremecer Jesus, as unhas da mulher arrepiavam-no quando lhe percorriam a pele, Não tenhas medo, disse Maria de Magdala. Enxugou-o e levou-o pela mão até à cama, Deita-te, eu volto já. Fez correr um pano numa corda, novos rumores de águas se ouviram, depois uma pausa, o ar de repente tornou-se perfumado e Maria de Magdala apareceu, nua. Nu estava também Jesus, como ela o deixara, o rapaz pensou que assim é que devia estar certo, tapar o corpo que ela descobrira teria sido como uma ofensa. Maria parou ao lado da cama, olhou-o com uma expressão que era, ao mesmo tempo, ardente e suave, e disse, És belo, mas para seres perfeito, tens de abrir os olhos. Hesitando, Jesus abriu-os, imediatamente os fechou, deslumbrado, tornou a abri-los e nesse instante soube o que em verdade queriam dizer aquelas palavras do rei Salomão, As curvas dos teus quadris são como jóias, o teu umbigo é uma taça arredondada, cheia de vinho perfumado, o teu ventre é um monte de trigo cercado de lírios, os teus dois seios são como dois filhinhos gémeos de uma gazela, mas soube-o ainda melhor, e definitivamente, quando Maria se deitou ao lado dele, e, tomando-lhe as mãos, puxando-as para si, as fez passar, lentamente, por todo o seu corpo, os cabelos e o rosto, o pescoço, os ombros, os seios, que docemente comprimiu, o ventre, o umbigo, o púbis, onde se demorou, a enredar e a desenredar os dedos, o redondo das coxas macias, e, enquanto isto fazia, ia dizendo em voz baixa, quase num sussurro, Aprende, aprende o meu corpo. Jesus olhava as suas próprias mãos, que Maria segurava, e desejava tê-las soltas para que pudessem ir buscar, livres, cada uma daquelas partes, mas ela continuava, uma vez mais, outra ainda, e dizia, Aprende o meu corpo, aprende o meu corpo.. Jesus respirava precipitadamente, mas houve um momento em que pareceu sufocar, e isso foi quando as mãos dela, a esquerda colocada sobre a testa, a direita sobre os tornozelos, principiaram uma lenta carícia, na direcção uma da outra, ambas atraídas ao mesmo ponto central, onde, quando chegadas, não se detiveram mais do que um instante, para regressarem com a mesma lentidão ao ponto de partida, donde recomeçaram o movimento. Não aprendeste nada, vai-te, dissera Pastor, e quiçá quisesse dizer que ele não aprendera a defender a vida. Agora Maria de Magdala ensinara-lhe, Aprende o meu corpo, e repetia, mas doutra maneira, mudando-lhe uma palavra, Aprende o teu corpo, e ele aí o tinha, o seu corpo, tenso, duro, erecto, e sobre ele estava, nua e magnífica, Maria de Magdala, que dizia, Calma, não te preocupes, não te movas, deixa que eu trate de ti, então sentiu que uma parte do seu corpo, essa, se sumira no corpo dela, que um anel de fogo o rodeava, indo e vindo, que um estremecimento o sacudia por dentro, como um peixe agitando-se, e que de súbito se escapava gritando, impossível, não pode ser, os peixes não gritam, ele, sim, era ele quem gritava, ao mesmo tempo que Maria, gemendo, deixava descair o seu corpo sobre o dele, indo beber-lhe da boca o grito, num sôfrego e ansioso beijo que desencadeou no corpo de Jesus um segundo e interminável frémito. Durante todo o dia, ninguém veio bater à porta de Maria de Magdala. Durante todo o dia, Maria de Magdala serviu e ensinou o rapaz de Nazaré que, não a conhecendo nem de bem nem de mal, lhe viera pedir que o aliviasse das dores e curasse das chagas que, mas isso não o sabia ela, tinham nascido doutro encontro, no deserto, com Deus. Deus dissera a Jesus, A partir de hoje pertences-me pelo sangue, o Demónio, se o era, desprezarão, Não aprendeste nada, vai-te, e Maria de Magdala, com os seios escorrendo suor, os cabelos soltos que parecem deitar fumo, a boca túmida, olhos como de água negra, Não te prenderás a mim pelo que te ensinei, mas fica comigo esta noite. E Jesus, sobre ela, respondeu, O que me ensinas, não é prisão, é liberdade. Dormiram juntos, mas não apenas nessa noite. (...)
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