16 novembro 2012

«Arrastão de amizade» in «Carcavelos dos Cinco Sentidos - volume II»

O nosso Grande Membro Jorge Castro (OrCa) não descansou enquanto nós não escrevemos uma crónica sobre o dia memorável que a malta d'a funda São passou em Carcavelos, nos idos de 2005, para o Volume II do livro «Carcavelos dos Cinco Sentidos - volume II», uma publicação da Junta de Freguesia de Carcavelos que o Jorge Castro coordenou.
O resultado aqui fica, para quem não tem acesso ao livro:

Arrastão de Amizade

Era um sábado a meio do mês de Junho de 2005. Coimbra já estava acordada mas eu não, quando o telefone tocou:
- São Rosas? É… Jor… Castr… - a chamada (ou o meu cérebro) estava com falhas, mas reconheci a voz do meu amigo Jorge Castro, o nosso OrCa.
- Olá, Mestre OrCa. Não te estou a ouvir muito bem, mas diz…
- Quer… cá vê-los…
- Queres ver-nos?! Aonde?
- Eu disse Carcavelos! Quero que… venham a Carcavelos!
- Ah! Tinha entendido “quero cá vê-los”…
- E quero... Temos que… próximo encontro em Carcavelos! Num restaurante… praia…
- Estás doido, Jorge?! A malta fazer o encontro na praia de Carcavelos quando houve aí há pouco tempo (no dia 10) o arrastão?! Mas olha que pensando bem... agora a praia deve ser um sossego. Ah! Ah! Ah!
E, mesmo com um telefonema aos soluços, ficou combinado: o terceiro encontro dos membros e membranas do blog «a funda São» iria ser no restaurante Estrela do Mar, na praia de Carcavelos, no dia 2 de Julho, depois de uma visita… científica ao 1º Salão Erótico de Lisboa.
Éramos cerca de vinte folgazões, elas e eles dos quatro cantos e respectivas arestas desta nossa pequena amostra de mundo.
Quando chegámos à praia, já o Sol acariciava o horizonte.


O jantar, de caracóis e gambas, foi regado a música, poesia, manifestações tântricas, outras danças de ventre com jogos de cintura e até oficinas de iniciação a técnicas inovadoramente estimulantes, donde sobressaiu uma palestra sobre as múltiplas e desvairadas aplicações de um anel peniano, tudo sob o olhar plácido e condescendente sobre bigode farfalhudo do que nos disseram ser o vetusto fundador daquela casa e que a tudo assistia de quadro emoldurado, presidindo à sala.




Eu própria fui brindada com um concupiscente e, porventura, bem-intencionado braçado de rosas vermelho-sangue que, por razões que não virão ao caso, deixou a assembleia perto de um acesso de riso convulso.
Já a madrugada ia longa quando saímos do restaurante… e não resistimos a experimentar o conforto do extenso areal, num piquenique à luz da Lua, convidativa e inspiradora, em círculo apertado (que o frio era muito) e entoando loas à Vida, às chamuças e ao champagne, entretanto conservado geladinho por amabilidades da gerência do restaurante e, assim, em claro contrassenso em relação ao que a temperatura recomendaria, mas em absoluta sintonia com o saudável e prazenteiro desvario que se desfrutava.
O JF recorda-se “que tinha sido pouco tempo depois do arrastão e estávamos sempre na brincadeira a saber quando seria o próximo, àquela hora da noite. Apesar de algum frio, a conversa esteve sempre animada e eu creio que havia umas caixas com sortido de bolos que iam passando de mão em mão lá mais para o final da madrugada.”


Ao Jorge Castro, não lhe sai da ideia “um casalinho que se espojava na praia àquela hora tardia e se assarapantou com o chavasco do colectivo - talvez presumindo algum arrasto tardio - e se desvaneceu na escuridão do mar, onde a humidade é mais intensa”. Memoráveis, ainda, os cânticos pela noite dentro, com recurso aos portáteis, entretanto ligados, em pleno areal, sobre as caixas térmicas e lancheiras onde transportáramos as vitualhas. Verdadeira tecnologia de ponta, em círculo!
Como relembra o Jorge Costa, “estar sentado na areia de Carcavelos em madrugada serena e fresca, na companhia dos amigos, é caso de memória. Não pelo champagne ou pelas chamuças – como se sabe, elemento de simbologia eminentemente erótica – ou pelos bolos da confeitaria dos Amigos do Doce que em boa hora a lembrança levou do Porto, mas pelo facto de se ter festejado mais uma noite entre amigos.
Ainda e sempre com eles no meu pensamento, atravessámos a noite em direcção ao dia que se fazia pela estrada fora no regresso a casa. E, depois de ter deixado o último amigo em casa, adormeci feliz e cansado numa bomba de gasolina em plena auto-estrada.
Sei que acordei com excursionistas de presunto e garrafão, colados na porta da minha viatura. Os sorrisos deles foram o rastilho para uma gargalhada interior. O dia estava perfeito. A noite a isso tinha levado. Tinha estado entre amigos... numa noite em Carcavelos.”
Não sei quais são a origem e o significado do nome Carcavelos. Mas desde este dia, em que a amizade nos arrastou para passarmos nessa praia uma noite memorável, a mim soa-me a "Quero cá vê-los". E havemos de lhe fazer, de novo, essa vontade…

A vossa, só vossa, eroticamente vossa
São Rosas
Março de 2012

texto e fotos colectivos – JF, Jorge Costa, Jorge Castro e Paulo Moura