Tinha-lhe dito ao telefone que não me apetecia estar com ninguém, mas ela insistiu que queria vir. Argumentou que não demoraria muito. Esperei, entre esse telefonema e a chegada dela, talvez uns vinte minutos. Depois vi-a entrar, servir dois copos de vinho duma garrafa que ela própria trouxe, e sentar-se ao meu lado no sofá.
O cd áudio que estava a tocar acabou nesse preciso momento. Ela levantou-se de novo e escolheu uma colectânea de música popular brasileira para encher a casa com alguma alegria. Palavras dela, pelo menos. Perguntou-me várias coisas sobre mim: se eu ando bem, se está tudo bem entre mim e a Raquel, se está tudo bem com a minha filha e se ando a ler algum livro. Respondi que sim a tudo. Por fim saiu de novo, sem se servir de um segundo copo, e disse-me para lhe ligar se precisasse.
A Patrícia é uma amiga rara. É leve. Acho que me Ama sem nunca ter estado apaixonada por mim. Quer-me bem e não quer mais nada. Atura-me nas minhas infinitas mariquices de homem adulto, sempre sem demonstrar cansaço ou impaciência. Não me pede nada em troca da sua atenção. Nem sequer a minha própria atenção.
Ouvi o motor do carro dela arrancar lá em baixo e fui à cozinha molhar os copos de vinho para que os resíduos não secassem. Vi a garrafa dela a meio, pus-lhe uma rolha e guardei-a. E eu, que não queria ver ninguém, fiquei imediatamente com saudades dela.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»